Capítulo 4

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O plano de James não estava funcionando, todos da mansão o tratavam muito bem e até começaria a ter aulas junto com Mary. Quando se recusava a comer, a cozinheira Guerta, uma mulher forte de cabelos grisalhos e olhos azuis, levava uma bandeja com comida pessoalmente e sempre mandava guloseimas escondidas de Gerald, e mesmo esse, apesar de bastante sério e às vezes severo, mostrava gentileza com ele. Como no dia que chegou a casa Hertford, esperava ser tratado com rispidez, mas foi ao contrário, Gerald o tratou com respeito e lhe ajudou em sua chegada.

Todos se esforçavam para agradá-lo e isso não estava ajudando. Queria ser tratado como lixo para que pudesse descontar sua raiva em alguém, mas não conseguiria fazer isso com pessoas tão boas.

Mary ficou sem participar de suas aulas por alguns dias. O projeto de irrigação que sua mãe havia feito estava sendo implantado em uma região mais afastada da propriedade e precisava ser supervisionada de perto por alguém que conhecia de bem. Como seu pai não estava, e ainda não havia mandado noticias, ela teria que fazer isso. Conrad, o empregado de maior confiança de seu pai a acompanhava de perto sempre, ele era mais como um amigo querido, pois a viu crescer e a ensinou muitas coisas, algumas escondidas, como atirar com pistola e arco e flecha por exemplo, mas estava sempre lhe dando broncas.

- Uma hora dessas não estarei por aqui pra te proteger senhorita Mary, essas estradas não são confiáveis para uma moça como você. Muitos matariam para lhe ter de uma forma ou de outra.

- Ora, vamos Conrad, você me ensinou a me proteger e sei que ninguém dessas redondezas ousaria se meter com a filha do Marquês de Hertfort, disse Mary sorrindo para Conrad.

Ele deu de ombros e seguiu com seu cavalo na frente, deixando Mary com seu sua égua Safira. Os dois seguiram em silêncio até a casa Hetford. Chegaram já estava anoitecendo. Mary foi direto para seu quarto e pediu um banho quente, estava fora a três dias e não pôde tomar um banho descente nesse período.

Depois de tomar um banho demorado vestiu uma camisola e já ia pedir que Jane lhe trouxesse algo para comer quando a mesma entrou com várias bandejas com um farto banquete, só então Mary percebeu como estava faminta.

- Jane você leu meus pensamentos, disse Mary após comer muito mais do que o normal. Nem eu sabia que estava com tanta fome.

- Eu imaginei, já que o sistema de irrigação não estava pronto, dificultaria a chegada da agua nas casas.

- Ora ora senhorita Jane, agora você entende de engenharia e sistemas de irrigação? Acho que da próxima vez a levarei comigo para ajudar, já que muitos homens não entendem de nada disso.

Jane corou devido ao elogio e Mary decidiu mudar de assunto.

- Então Jane, algo aconteceu de diferente na minha ausência?

-Na verdade sim, disse Jane animada com a oportunidade de contar novidades a Mary. O senhor Ward começou a frequentar as aulas com a senhorita Hall, foram ordens expressas de Gerald, que segundo ele, recebeu uma carta do próprio marquês.

Mary se endireitou ao ouvir o nome de James e do seu pai numa mesma frase, e nem ouviu as outras coisas que Jane dizia.

-Espere, meu pai mandou uma carta a Gerald e nem responde as minhas. Mary se levantou ferozmente. Jane avise Gerald que eu quero falar com ele agora mesmo, chame-o aqui, por favor.

Jane saiu do quarto com semblante preocupado, mas foi cumprir sua ordem imediatamente.

Mary se vestiu apressadamente e pegou um robe azul marinho que estava sobre uma cadeira, não se importaria com trajes agora. Foi para a janela e ficou a observar a paisagem que tanto a acalmava, mas que agora não surtia efeito. Ouviu uma batida na porta, fechou os olhos para se preparar para o que viria e mandou que entrasse. Sem se virar Mary foi dizendo:

- Não farei cerimônia Gerald, ouvi dizer que meu pai entrou em contato com...

Mary interrompeu sua fala ao se virar e se deparar com James ali parado a observando. Ele estava muito bonito com os cabelos desalinhados e as roupas bem passadas. Usava um casaco escuro que realçava seus olhos azuis, só então percebeu o quão inapropriadamente estava vestida.

Mary apontou uma poltrona próxima à lareira e se acomodou em outra próxima.

- Bem, disse James, eu gostaria primeiramente de me desculpar, eu já deveria ter lhe agradecido por me aceitar em sua casa, já que é a senhorita que está no comando e antes que você parta novamente, queria lhe dizer isso.

Mary encarou James e percebeu que ele estava sendo sincero e que dizer aquilo foi muito difícil.

- O senhor não precisa me agradecer e nem se desculpar de maneira alguma. Na verdade eu deveria me desculpar por não ter lhe recebido com mais atenção, não foi minha intenção, eu juro, eu só ....

Lágrimas começaram a se formar e aquela dor familiar ameaçou aparecer. James tocou seu queixo para que pudesse encara-lo.

- Eu sei pelo que está passando, entendo sua dor e sei como é se sentir sozinho, não se preocupe todos me trataram muito bem aqui, ouso dizer que melhor do que mereço.

Mary sorriu para James que sorriu de volta e pela primeira vez naqueles meses dolorosos, sentiram seus corações se alegrarem.

- Sabe, disse Mary enxugando algumas lágrimas que teimavam a cair, acho que agora somos meio que irmãos. Meu pai sempre contou que seu pai teve um tutelado e que eles eram inseparáveis e que se amavam como irmãos.

James pensou sobre aquilo. Não sabia se seriam irmãos, mas proteger aquela garota seria a missão de sua vida agora.

- Eu gostaria muito disso.

Os dois sorriram um para o outro por alguns instantes até que James se levantou.

- Eu já vou indo antes que Gerald chegue.

- Sim, claro, te vejo amanhã na aula, James?

James sorriu, era bom ouvir seu nome vindo dela.

- Claro, Mary.

Mary sorriu e observou James sair do seu quarto. Elespoderiam ser amigos, poderiam ser irmãos? Não saberia dizer, mas tentaria muito. 

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