Terça feira, 4 de fevereiro. Depoimento de Percium Cigart (Aquele segurança que levou um tiro).
P.C.: Se levei um tiro no saco? Não, Claro que não! Não entendi o motivo da galhofa. Eu vou repetir de novo, foi um tiro na virilha! Estou pronto para outra. O que aconteceu, caros colegas de farda, foi tão sobre-humano que é mesmo um milagre alguém conseguir sair vivo. Não há nada, além disto, para concluir. Receio que ninguém além de mim tenha estado na linha de tiro tão de perto e sobreviveu. Mas vamos lá, acho que os colegas devem entender que quanto mais eu falar mais irei lembrando, correto? Pois bem. Levanto sempre às 6:00 da manhã, defeco, geralmente do bidê, depois das 6:20 meu café já está pronto. Tomo ele e vou trabalhar entre 7:00 e 7:20, com exceção de dias especiais de entrega, como o dia ao qual estamos nos referindo. Isso graças à distância praticamente de um quarteirão entre minha casa e a loja. Todos os dias observo se a rua está movimentada, mas não foi isso que ocorreu naquele dia. A rua estava vazia e havia apenas um senhor passeando com cão, lembro bem. Ele passou por mim e sumiu ao virar na rua de trás, aquela lá que termina com uma ladeira. Entrei na loja, cumprimentei as pessoas, bati meu ponto e assumi meu posto. Estavam todos calmos e em nenhum momento pareceu que haveria militantes e todas aquelas pessoas entrando e saindo da loja, creio eu.
OID: Você quis dizer meliantes, Senhor Percium.
P.C.: Acho que sim. Enfim tudo o que tenho a dizer é que foi pura maluquice ainda não entrou na minha cabeça como tudo mudou tão rapidamente. Tenho que lhe dizer que ainda estou com medo e não sei se ainda vou querer trabalhar lá. Não é o mesmo lugar para mim, e quem garante que eles não voltarão? Quem?
OID: Compreendo a situação que lhe aflige Senhor Percium. Eu não sou daqui, sou da capital e nunca presenciei algo do tipo e entendo que até para um agente experiente algo assim se faz estranho. Tente lembrar, por um acaso em algum momento o Senhor viu uma caminhonete Chevrolet no modelo Veraneio de fabricação ano 1967, cor escura, ou circulando pela frente do estabelecimento, ou parada. O senhor consegue me dizer se lembra?
P.C.: Sim, havia um Veraneio. É sabido que havia ao menos três veículos parados pelas redondezas, o que não é incomum. Mas saíram os demônios assassinos e cruéis de dentro desse Veraneio e se dirigiram a aquele pobre senhor, e...
OID: O que aconteceu depois Senhor Percium? Conte-me.
P.C.: Não sei. Não consigo lembrar detalhadamente. Só lembro que, enquanto atiravam, eu e meus pobres colegas que infelizmente não tiveram a mesma sorte de escapar, tentamos nos defender, e nos jogamos no chão. Então... Mais alguém chegou e a carnificina realmente teve início.
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O livro do culto
Historical FictionChapada Diamantina, anos 70. Um violento acontecimento chama a atenção da sociedade de uma pacata e insignificante vila e acaba mexendo com a mente de um curioso jovem policial, conforme os depoimentos e testemunhas vão surgindo. Mas este policial s...