O livro do culto

Parte IV: Imolação

- Ho ho, está acordando! Sabe durante quanto tempo dormiu, bela adormecida?

- Hmm hmm.

- E então, qual a ultima coisa da qual se lembra?

- Alguém... Bateu em minha cabeça.

- Tenho que admitir, oficial Denfi, não esperava que um golpe fraco o derrubasse. Então nossos rapazes tiveram que exagerar, por precaução. Mas agora que estamos aqui, quero que saiba que eu tinha a mesma vontade de conhecê-lo, assim como o senhor. Sei que não era apenas pelos fatos do curso investigativo. Não é mesmo?

- Então você é Frênio Candino. O maldito velhote que esteve me atormentando pelas ultimas duas semanas.

- Lamento a parte do tormento, policial. Não foi a minha intenção. Lamento também pelo fato de estar amarrado a esta cadeira, mas veja, de certa forma amarrou tantos homens antes que acredito que isso não lhe é nada estranho. Diga-me, agir por impulso não é algo que se aprende na polícia, é?

- Do que está falando?

- Olhe para esta fétida sala onde estamos. Sei que a insuficiente iluminação não o deixa ver direito, mas é sabido que ela tem exatamente dezoito metros de comprimento por sete de largura, apesar de ter sido limpa recentemente, pode-se constatar um estranho odor, proveniente de resquícios de sangue e dos restos de carne que são eventualmente manipulados aqui. Atrás daquela porta existe um pequeno corredor, de dez metros de extensão e depois dele outro corredor duas vezes maior, que dá acesso a um balcão. Este balcão pertence ao restaurante dos irmãos Castro, que devido o horário está fechado no momento. Não consegue ver ainda, mas atrás do senhor existe uma grande porta que pode ser aberta automaticamente por fora desta sala, pois foi construída com uma função bem específica. O senhor veio até aqui, e eu não creio que seja um cliente assíduo dos Castro. Meus tão amados e trabalhosos alunos. Mas este não é o motivo da minha visita. O problema é que a meia hora atrás o senhor coagiu sob ameaças as amáveis e maravilhosas funcionárias do estabelecimento a falarem coisas que elas não estão autorizadas a falar, e pior, obrigou as garotas a entrarem no grande corredor, para levá-lo a um lugar onde também não estão autorizadas. Assim nossos rapazes foram obrigados a entrar em ação e é por isso que agora está aí, policial.

- Me desamarre, velhote maluco!

- Senhor Denfi, mantenha a calma. Soubemos por fontes confiáveis que também gosta de gravar suas eventuais torturas em áudio, para deleite posterior. Bem, está sendo gravado neste exato momento, portanto poupe o seu grito para mais tarde. Como eu disse, queria tanto encontrá-lo como acho que gostaria de ter me encontrado. É uma figura notável, mas precisamos esclarecer alguns pontos aqui.

- Pontos? Isso é uma investigação, sobre você!

- Infelizmente, e acho que já percebeu, agora no momento eu é que serei responsável por esta tarefa. O esclarecimento de pontos. Ora, convenhamos que esta era uma cidade pacata Sr. Denfi. A sua desgraçada pessoa trouxe roubo e corrupção para cá. Nunca tivemos um assalto naquela casa lotérica nem em nenhum local. Acontecimentos dessa espécie consistem em uma lenda folclórica através de nossas conversas, sentados nas cadeiras em frente a nossas casas. Ainda assim tudo poderia ter acontecido sem mais consequências para você, caso não se atrevesse a ir mais além, tentando tomar parte de um assunto que não é de sua capacidade intelectual compreender, porém, alegremente posso afirmar e comemorar o fato de agora tudo estar resolvido. Portanto, já que já sei exatamente qual a sua participação nisso tudo, por que não me esclarece o resto dos fatos?

- Er... O Adalberto, o que irá fazer com ele?

- Senhor Denfi, não ouviu o que eu disse? Foi o senhor que veio até mim. Feriu e matou alguns dos meus alunos, provando a maravilhosa lealdade deles. Ilano, Diogo, sem contar os outros que vocês devem ter molestado e que não sabiam de nada. No início, queria apenas uma garantia de que as testemunhas de nada sabiam, com o tempo passou a querer saber mais e mais sobre mim. Diga-me senhor Denfi, afinal o que nutriu este interesse?