Quinta-feira, 19:20, Bar "Los Putos".
- Olha só cara, passamos o dia inteiro sem nada de interessante, o último foi aquele Manuel, um velhote estranho, sem contar que eu tenho de ficar escrevendo essa porcaria toda depois. Eu acho que está na hora de pular fora dessa história, e para eu fazer isso você também precisa vir. Já completamos o objetivo. Já se passou duas semanas desde o início do interrogatório. As coisas estão ficando muito vagas, como eu imaginei que seria.
- Precisamos terminar com a investigação, Adalberto.
- Er... Eu não sei do que você está falando. Nossa historia envolve apenas eu, você, Crustáceo e os outros caras. Foram meses planejando isso. O dinheiro está na mão, O maldito assalto ou sei lá o quê foi um golpe de sorte pra disfarçar tudo. Ninguém sequer desconfiou de nada, e você já tem provas suficientes disso. Então vamos embora!
- Não é tão simples assim, Adalberto. Tem essa história toda do Candino, dos parentes dele que querem informações, essa história do convento. Poderíamos fazer alguma coisa.
- Esqueça tudo isso. Convento? Investigar o que? Não temos viatura nem pra chegar na cidade vizinha. Pneus carecas, retrovisor quebrado, bancos furados.. Essa viatura só serve de enfeite. Ouça o que estou dizendo, quando derem por falta de nós, estaremos do outro lado do mundo!
- Se não tivéssemos dado um fim no cara chamado Ilano, agora teríamos respostas.
- Ilano o maluco cheio de arrogância? Ele falava besteira demais. Deixemos essa parte com os militares, devolva o caso a eles e deixe que arquem com essa casa de marimbondos. O sujeito chamado Antunes tomou um monte de remédios e se matou.
- Já estava esperando algo do tipo. A filha deve ter fugido com algum macho e ele pôs a culpa na sociedade. Que engraçado isso.
- Sim, eu também. Acho que ele ficou realmente desgostoso da vida. Lembro até que alguém mencionou a história de um grupo de hippies que desapareceu, não é mesmo? Bem, nesse caso, ontem ouvi uns informes a respeito.
- Como assim? Isso aconteceu realmente?
- Pelo visto sim, estão desaparecidos há vários dias. São dezoito, dez mulheres e oito caras. Arembepe está sendo colocada de pernas para o ar, um dos jovens era filho do primo de uma grande amiga do governador.
- Onde está o cara chamado Ledson? Onde?
- O músico?
- Não, o musico já era. O Ledson, o pederasta disfarçado!
- Não sei, eu não tenho contato com ele. O cara sumiu. Porque quer saber isso? Já passei o informe. Vão bater nele até contar quem aleijou o Saci. Estou farto Denfi.
- Que horas são?
- Dezenove e trinta.
- Tenho que ir a um lugar.
- Agora? Onde?
- Depois eu explico, depois eu explico!
- Denfi, você mal chegou e já está saindo. Pare aí e me diga onde está indo.
- É a única pista que tenho.
- Sobre o Ledson? Mas já falamos com ele, eu não estou entendendo!
- Não sobre Ledson, sobre os hippies!
- Denfi, defnitivamente eu tenho que falar, caso ainda não tenha percebido: pare de fingir que é um bom policial e que liga para essa merda toda!
- Eu apenas vou até o restaurante que o tal Ledson falou. Só isso.
- O que vai fazer lá? Quer encontrar ele?
- Ele deve saber algo sobre os hippies.
- Deixe os hippies, seu idiota.
- Não se preocupe. Eu vou até lá fazer algumas perguntas, e só! Não é tão longe, volto em duas ou três horas. Vou com a moto. Estamos à paisana, lembra-se?
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O livro do culto
Ficção HistóricaChapada Diamantina, anos 70. Um violento acontecimento chama a atenção da sociedade de uma pacata e insignificante vila e acaba mexendo com a mente de um curioso jovem policial, conforme os depoimentos e testemunhas vão surgindo. Mas este policial s...