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Burki encontrava-se abandonado, abraçado pelo breu. O jovem tentava ver adiante, mas a escuridão se tornava uma barreira inexpugnável.

Mesmo com a impossibilidade de ver à frente, sentiu uma presença. O medo que tomava seu corpo se foi, e o jovem fora embraçado por uma sensação de conforto. Conhecia aquele sentimento, e não hesitou em perguntar.

— Mãe... é você?

— Sim...

A voz ecoou, e tomado pelo espanto, o jovem presenciou sua mãe diante de seus olhos.

— Como é possível? — Perguntou com perplexidade.

Tomado pelo impulso, tentou abraça-la, sendo contido pelo discreto recuo de sua mãe.

— Meu filho... meu único e amado filho... desculpe pela minha fraqueza. — Disse com a voz melancólica.

— Não se desculpe mãe... — Respondeu, tentando encontrar palavras para consolá-la.

— Não me resta muito tempo.

— Não quero ficar só, leve-me com você. — Apelou.

— Para onde eu vou, ainda não podereis ir. — Respondeu, agora com um olhar de ternura. — Não tenha medo meu querido, você não estará só.

A mãe de Burki recuava gradativamente, enquanto sua imagem se desfazia diante dos olhos do jovem.

— O meu amor nunca morrerá Burki... volte para casa! — Revelou, antes de desaparecer.


O garoto despertou abruptamente, em meio ao som dos açoites. Seus olhos ainda perdidos procuravam a origem das pancadas, até avistar seu padrasto despejando sua cólera nas costas do Mediador, que sofria duros golpes de seu próprio sarrafo. O Padrasto retribuía à altura os golpes que recebera anteriormente.

Burki tentou livrar-se de suas correntes, despertando a atenção dos demais capangas que acompanhavam com deleite o castigo.

— Ele acordou chefe! — Disse um dos comparsas.

Interrompendo o açoite, dirigiu-se ao encontro de seu enteado.

— Você é um covarde! — Acusou Burki.

— Não garoto, sou um sobrevivente! — Respondeu estocando o sarrafo na boca do estômago do garoto, arrancando risos de seus capangas.

— O garoto está certo... — Disse o Mediador, cuspindo sangue.

— Cale-se! — Exortou o padrasto.

— Quem é você?... O que você faz... afinal? — Perguntou Burki com a voz cortada.

— Você nunca deixou de ser um estorvo garoto, mas devo confessar que não é burro, diferente do seu pai. — Provocou.

— Não ouse falar do meu pai! — Voltou a bradar.

— Seu pai era um tolo, moleque! — Reagiu. — O infeliz trabalhava para mim, mas me devia muito dinheiro, e não era pouco, mas como o desgraçado não tinha como quitar seu débito, me ofereceu o que tinha de mais valoroso para não perder a vida! — Revelou, encarando Burki nos olhos.

O garoto não retirou o olhar, mantendo a seriedade que foi sumariamente quebrada assim que tomou ciência do que o seu padrasto estava querendo dizer.

— Você entendeu...

— Não... você está mentindo! — Gritou o jovem.

— Claro que não, e você sabe que estou falando a verdade.

Burki silenciou-se, com o olhar perdido.

— Não perca sua conta! Não acha que já torturou o garoto suficiente? — Irrompeu o Mediador com a voz embargada.

Com um sorriso repleto de sarcasmo, jogou o sarrafo para um de seus sicários.

— Continue por mim! — Disse o padrasto, retirando-se e sendo seguido pelo restante de seu séquito.

O PRIMADO CAVALARIANO (2020) - LIVRO (Apenas os capítulos iniciais)Onde histórias criam vida. Descubra agora