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O jovem Burki não media esforços para tentar reverter o quadro de saúde de sua mãe. O sangramento a deixou bastante debilitada, a impossibilitando de sair da cama.

Sua fraqueza era visível e o seu filho intensificava seus cuidados, lhe oferecendo o que beber e comer. Em troca deste cuidado, recebia de sua mãe um olhar de gratidão. Silenciosa, contemplava o seu filho fazendo por ela o que sempre fez por ele. Um diminuto sorriso mudou sua face, fazendo Burki explodir em alegria.

— Sinto saudades do papai... — Revelou, enquanto sua mãe o fitava. — Não entendo porque se casou de novo! — Resmungou, denotando sua indignação. — Ele não te merece... — Concluiu, recebendo um afago.

Um fio de lágrima desceu pelo canto do olho de sua mãe e em silêncio desviou o olhar. Abatida, fora tomada pela melancolia.

A porta do quarto foi parcialmente aberta. O curandeiro da cidadela foi chamado para acompanhar o caso. Burki afastou-se, enquanto o curador iniciava sua análise dos fatos.

— Vou ao poço pegar mais água. — Disse o jovem, enquanto o curandeiro consentia.

Lépido, o jovem deixou a casa, apressando-se. Seu ímpeto foi contido pela força do puxão, impetrado pelo padrasto.

— O próximo será você! — Advertiu.

— O que você quer dizer com isso?

Subitamente, o curador apresentou-se, com uma expressão resignada, fechou a porta.

— Não pude fazer mais nada... Ela feneceu.

— Não pode ser! — Burki insurgiu-se, e antes de voltar as pressas para a casa, foi jogado ao chão.

— A culpa é sua! — Acusou o padrasto.

Burki irou-se, avançando contra o padrasto. Com um tapa, o jovem tombou. As lágrimas de Burki compartilhavam sentimentos distintos. Desolação e cólera.

— Algo está errado... Não era para ter morrido... Ela não estava bem, mas não a ponto de perder a vida... O que você fez?! — Bradou.

O padrasto pegou Burki pelo braço, enquanto se esquivava dos solavancos do garoto.

— Sem a sua mãe por perto, não tenho mais obrigações com você! — Descartou o menino, que rolou, estacionando aos pés do Mediador, que havia chegado às pressas.

— Por que não afronta alguém de vossa estatura? — Desafiou.

— O que você tem com isso? — Retrucou o padrasto.

— Tudo! Esse mancebo é o meu pupilo, e tenho responsabilidade para com ele. Agredi-lo, é uma agressão a mim também. — Concluiu recebendo um olhar surpreso de Burki.

O Mediador, apesar da aparência encanecida, era parrudo e quadrado. De média estatura, em uma primeira vista, não era tido como uma ameaça. Colocando-se a frente do jovem, esperou a reação do padrasto.

Mais alto, o padrasto avançou tentando acertar o Mediador, que prontamente esquivou-se, demonstrando jogo de cintura. Burki afastou-se, achando tudo aquilo intrigante. Desviando-se do parvalhão, revelou o seu notório sarrafo, e no primeiro descuido de seu oponente, desferiu um golpe certeiro, fazendo-o recuar. Indo ao encontro do padrasto, saracoteou o sarrafo, desferindo sucessivas punhaladas de forma ágil.

As pessoas que passavam no local começaram a interromper sua rotina para acompanhar aquela peleja. O Mediador era conhecido por organizar as disputas, mas nunca havia demonstrado suas aptidões como lutador. Vozes emergiram, ovacionando-o.

O sangue corria pelas fendas marcadas no corpo do padrasto. O Mediador interrompeu sua doutrinação, encarando o desafeto de Burki. O garoto alinhou-se ao Mediador, enquanto o padrasto recuava, despejando em ambos o seu desprezo. Resignado, retirou-se trancando-se em sua casa.

— A festa acabou! — Indicou o Mediador, recebendo aplausos das pessoas.

A reputação do padrasto de Burki não era das melhores e aquele corretivo foi mais do que merecido, segundo a opinião popular.

— Obrigado por me defender... — Agradeceu. — Como aprendeu a lutar? — Emendou o jovem.

— Depois de confrontar-se em batalha, lutar contra um homem apenas se torna algo menos penoso. — Disse o Mediador puxando o jovem.

— Para onde estamos indo?

— Não podemos perder mais tempo, Ansel foi encerrado na masmorra!


O PRIMADO CAVALARIANO (2020) - LIVRO (Apenas os capítulos iniciais)Onde histórias criam vida. Descubra agora