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— Ei garoto! — Disse o Mediador, antes que Burki sumisse de sua vista.

O jovem interrompeu seus passos, encarando o Mediador e o seu sarrafo.

— Um belo gesto garoto. — Reconheceu, recebendo de Burki um olhar confuso.

— Por que me olha assim?

— Não é nada... é que...

— Não se preocupe, entendo o seu espanto. Dentro daquela arena, preciso ser enérgico. — Disse, destacando o sarrafo. — Fora de seus limites, posso ser eu mesmo.

Burki sorriu. O garoto fez menção em continuar o seu percurso, sendo interrompido mais uma vez pelo Mediador, e desta vez, recebendo um olhar trevoso.

— Não está se esquecendo de nada garoto?

Contrariado, estendeu o saco com as moedas. O Mediador meteu sua mão, recolhendo uma parte do apurado e com um sorriso torto, viu o jovem distanciar-se.

Burki não demorou muito para encontrar Ansel. O garoto aproximou-se, mostrando com entusiasmo o apurado.

Ansel não reagiu como se esperava, deixando o jovem ainda mais enleado.

— O que está acontecendo? — Perguntou Burki, dando ao lutador a parte que lhe era devida.

Ansel limitou-se a recolher o dinheiro.

— Por que recuou tanto na luta? Teve medo? — Burki perguntou, com certa inocência.

— Não tive medo... mas aquele lutador não era um desconhecido... — Disse contrito.

— Mas você o venceu, não é mesmo? Não é isso que importa?

— Claro que não! Pelo menos não mais...

— Não entendi...

— Quantos garotos terei que enfrentar daqui por diante? Percebi que minhas lutas não fazem mais tanto sentido assim...

— Você vai desistir de lutar? — Perguntou Burki, apreensivo. — O que você vai fazer se deixar de lutar? — Emendou.

— Não sei... há pouco tempo aquele rapaz era um pequeno garoto, e hoje tive que confrontá-lo. Quantos mais surgirão? — Refletiu.

Subitamente, as sinetas tocaram, despertando a atenção de todos para a comitiva que se apresentava no centro da cidadela. A frente, o filho mais velho do conde, seguido de seus batedores e duas carroças, puxadas por bois almiscarados.

— O que está acontecendo? — Perguntou Burki.

— Não me importo com eles garoto. — Retrucou, erguendo-se.

— Para onde você vai?

— Gastar essas moedas, antes que os nobres a reivindiquem! — Disse Ansel, dirigindo-se para a taverna.

O jovem Burki guardou sua parte do ganho e ignorando Ansel por hora, dirigiu-se para o aglomerado que acompanhava o séquito.

As pessoas acompanhavam a comitiva bastante divididos. Os poucos nobres que residiam em Utrúria não possuíam uma boa reputação, uma vez que usufruíam de alguns regalos, abastecidos pelos impostos cobrados de seus habitantes.

Burki aproximou-se, acompanhando o ritmo da marcha, que rumava aos portões, que lentamente franqueavam-se, revelando o mundo exterior. O jovem não costumava deixar os limites da cidadela e esticou o pescoço, vislumbrando o egresso daqueles homens.

Os portões voltaram a selar a passagem, sendo a deixa para o retorno à vida ordinária dos habitantes de Utrúria. Os ouvidos curiosos do jovem captaram conversas sobre o ocorrido, e curioso, aproximou-se do pequeno grupo.

— Para onde eles foram? — Perguntou, chamando a atenção de todos.

— Foram realizar o pagamento.


O PRIMADO CAVALARIANO (2020) - LIVRO (Apenas os capítulos iniciais)Onde histórias criam vida. Descubra agora