Meu nome é Claus

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Claus

O que essa garota tem na cabeça? Selina roubou o meu carro, saiu sem falar nada com ninguém. Pelo que eu entendi, ela mal sabe dirigir um carro manual! Isaura comentou que a viu correr até a entrada da casa onde ficam os carros e que parecia muito abalada.

Ortega, a quem fui apresentado às pressas nessa confusão, confessou que Selina está passando por problemas pessoais. Eu traduzo isso como faniquito de "Pop Star". Só que pegar o meu carro e sair por aí, podendo causar um acidente ou ser reconhecida, já é demais. Se no primeiro dia aqui essa garota já está causando confusão, Deus me ajude!

Sugiro ao agente da maluca irmos imediatamente atrás dela. Carmem concorda com a ideia. Saímos os dois, com Ortega dirigindo.

Presos no mesmo espaço, não deixo de notar que suas roupas são um tanto estranhas para uma fazenda. O cara veste calça de linho bege, camisa de botão estampada e sandálias de couro. Sem contar sua delicadeza e os trejeitos um tanto incomuns, que não observamos nas pessoas daqui.

- Calma, caubói. Nós vamos achar o seu carro. Selina pode até estar chateada, mas ela não é irresponsável a ponto de fazer uma loucura, pelo menos eu acho.

Ortega é o primeiro de nós dois a falar. Nem por isso me sinto menos preocupado.

- Ela já fez uma loucura que foi sair sozinha num lugar que nem conhece. Isso aqui não é a Califórnia. - Rebato a tentativa de amenizar a situação.

- Lógico, tem toda razão. Mas o que quero dizer é que mesmo sendo imprudente, não é como se ela agisse assim sempre. Cherry passou por muita coisa ultimamente. Você nunca teve um momento em que precisou de privacidade?

- Claro que já. Só que, com tanto espaço lá na fazenda, não há necessidade de sair por aí. E precisava pegar justamente o meu carro?

- Aposto que ela não sabia que era seu. Até uns minutos atrás nós nem sabíamos como você era, muito menos que tinha um carro. - Ele me olha de cima abaixo. - Mas é um prazer te conhecer, Claus. Um imenso, tremendo, inenarrável prazer.

Ortega toca meu ombro e continua a me encarar de forma diferente, como se eu o atraísse. Certo, isso é muito esquisito.

- Vamos deixar as formalidades para outro momento e nos concentrar em achar Selina?

- Como quiser, estraga prazeres. - Ele torce o bico.

Ignoro qualquer gracinha dele. O trajeto da Solares até Rio da Moça é rápido. Nenhum sinal de Selina ou do meu carro até lá. Ortega sugere que ela pode ter vindo para a cidade. Eu quero é achar o meu carro inteiro. Se Selina estiver por ali, não será problema nenhum localizá-la. A cidade é pequena e, assim que as pessoas a virem dirigindo minha caminhonete, vão estranhar. Rio da Moça é uma cidade pacata. Isso quer dizer que nada acontece por aqui e a curiosidade do povo fala mais alto.

- Estacione o carro, Ortega. Desse jeito vai demorar muito. Como somos dois, vamos nos dividir. – sugiro. – Como você não conhece a cidade, procure-a nas lojas do centro. Eu vou dar uma olhada pelas praças e ruas afastadas.

- Bem pensado! Assim cobrimos uma área maior. – ele concorda com minha ideia e para encostado à calçada.

- Nos encontramos por aqui, assim que um dos dois achá-la. – Desço do carro já traçando a rota a seguir.

- Você quem manda, caubói. - ele brinca e continua a me olhar de um jeito bobo. Não tenho tempo para suas esquisitices.

Afasto-me e adentro uma rua de casas antigas. Rio da Moça é aquele tipo de cidade tombada pelo patrimônio histórico. Ela é cheia de casas do século XIX que ainda são habitadas. Isso, e as praças arborizadas, torna a cidade charmosa e muito bonita.

É hora do almoço. A rua parece um deserto com o sol rachando no céu. Quase ninguém ousa se expor à temperatura. Exceto eu, e outros dois moradores que caminham tranquilos. Já estou a dez minutos caminhando, com fome e com sede. Minha raiva triplica pela frustração de não localizar Selina, muito menos meu carro. O último lugar à procurá-la é na Praça da Fonte, a praça mais arborizada do Brasil.

Para meu alívio, encontro minha caminhonete em cima da calçada, em frente ao portal de entrada. Corro até o veículo e checo minuciosamente a lataria. Graças aos céus, nenhuma avaria.

Selina não está no carro. Adentro a praça rezando para que aquela maluca esteja ali e acabe com isso. Eu poderia voltar para a fazenda e deixar Ortega à sua procura? Poderia. Inclusive, sentia uma vontade louca de fazer exatamente isso, mas Carmem não me perdoaria.

Avisto-a sentada na beira da fonte, no meio da praça. Suas mãos balançam a água. Ela parece pensativa, com os olhos fixos nas ondas que se formam na superfície. Quando levanta a cabeça, atraída pelo passarinho que acaba de pousar na outra extremidade, sou fisgado pelo seu encanto. A cena à minha frente é surreal. Permaneço alguns instantes admirando a sua beleza. Selina é mais bonita pessoalmente e eu estava errado. Tão pequena e perfeita que chega a doer olhar. Como pode ter feito essa confusão?

Foco Claus! Essa mulher roubou o seu carro. Tento pensar em como chegar até ela, mas nada me vem à cabeça. Parecem que me faltam ideias. Assumo a forma direta.

- Selina! – Ela me encara. Seus olhos ainda inchados denunciam que ela chorou até pouco tempo. – Para quem queria privacidade você sabe chamar atenção, hein?

Selina se atrapalha ao levantar. Dá alguns passos para trás, encarando-me assustada.

- Quem é você e como sabe o meu nome?

Ótimo, Claus, bela apresentação!

- Calminha aí. Houve um mal-entendido...- antes que eu pudesse falar ou dizer que Ortega também estava aqui, ela foge. – Espera, garota! – grito inutilmente.

Pela segunda vez naquele dia sou obrigado a correr atrás da atriz de cinema. E olha que ela é rápida. Alcanço-a quando ela fica confusa, tentando decidir qual lado tomar no final da praça. Seguro sua cintura e puxo-a para mim. Nossos corpos colidem e suas mãos espalmam meu tórax para amortecer o impacto.

- Não tão rápido, Pop Star. – digo ofegante. – Primeiro você vai me ouvir.

- Me larga, seu maluco! Eu nem te conheço! – ela me soca com as mãos agora em punhos. Nossa proximidade é tanta que consigo sentir o aroma de flores do qual Hugo tanto falava.

- Garota, você é tão brava quanto uma égua selvagem! – não preciso colocar muita força para segurá-la.

- E você é um idiota caipira brutamontes! – ela rebate sem desistir de se soltar.

Aquela troca de insultos não vai nos levar a lugar algum. Tomo uma atitude para acabar com o impasse: jogo-a sobre os ombros e marcho para o carro segurando suas pernas.

Nossa! Que capítulo gente!  Claus está possesso com Selina pelo roubo do carro. A garota não o reconhece e foge. Depois Claus carrega Selina no ombro. Muita confusão até aqui e tudo indica que ainda não acabou. 

Não perca o próximo episodio!

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2019 ⏰

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