4: de cadeia a missão empata-encontro

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A prisão era dura. Fria, nojenta e assustadora. Também tinha um cheiro muito ruim, mas eu desconfiava que o odor emanasse de Jimin em estado de pânico ao meu lado. A situação era horrorosa, três marmanjos, maltratados pelas eventualidades perturbadoras da noite, enfrentando o carma de quem provavelmente atropelou um papa idoso e fofo em outra vida. No mínimo, todos nós estávamos desfigurados, transtornados, arrasados. Sem dúvidas, estar atrás da cela era uma realidade chocante demais para que conseguíssemos sequer falar.

— Caralho, que vontade de mijar agora — Taehyung resolveu quebrar o meu momento de drama mental com sua frase desprovida de noção.

— A gente tá na cadeia — Eu tentei esclarecer, com a compaixão que eu poderia ter. Tadinho, devia estar tão atordoado que o cérebro não conseguiu digerir a realidade triste em que nos encontramos, eu pensei.

— E a vontade de mijar some por causa disso? — Pensei errado. Então, de Kim Taehyung eu desisti bem nesse momento. — Acho que tenho que usar aquele baldinho...

— Não ouse! — Jimin bradou ao meu lado de tal forma que eu tomei um baita susto. Desde que chegamos, ou melhor, desde que entramos na viatura policial, meu amigo parecia ter encarnado outra coisa em seu corpo. Era até assustador olhar para seus olhos, parecia não mais habitar uma alma ali. Fiz o que pude e repreendi em nome das divindades que conhecia, isto é, em nome de G-Dragon.

— Desculpe, falou comigo, oitavo anão da Branca de Neve? — Taehyung rebateu.

— Ah, pronto... — Suspirei baixo e entediado, ciente do que viria a seguir e nem um pouco contente.

— Por sua causa, agora eu tenho uma passagem pela polícia em minha ficha criminal. Você acha que eu queria isso, Taehyung? Acha que eu queria uma ficha criminal? Meu histórico como cidadão está manchado para sempre! A lista de cargos profissionais que eu poderia ocupar foi comprometida, minha fama social foi comprometida, eu nunca vou poder ser cumprimentado pelo presidente por ter uma conduta exemplar! Então, não, você não vai urinar do meu lado porque eu cansei de me ferrar por sua causa, Taehyung!

Um textão em forma oral, ao vivo e a cores. Era tudo que eu queria para a minha noite merda mesmo.

— O que tem o cu a ver com as calças, Jimin?! — Taehyung falou e, dessa vez, eu tinha que concordar. Claro que só mentalmente. Não era louco de falar algo do tipo em voz alta tão perto do que um dia foi Park Jimin.

— Você ferrou minha vida!

— Você quer falar de ferrar vidas?! Foi a minha bunda que todo mundo viu lá naquela festa, Jimin. Eu acho que ficar preso aqui por um tempo está até bom para mim porque inferno vai ser lidar com todo mundo da faculdade me encarando estranho e cochichando pelos cantos.

— Ah, mas com isso você já está acostumado — o baixinho decidiu alfinetar. Em todos esses anos nessa indústria vital, era a primeiríssima vez que eu via o Park tão exaltado e com a língua tão afiada. Ao mesmo tempo, era a primeiríssima vez que eu sentia o profundo desejo de ter uma arma para atirar na minha própria cabeça.

Taehyung abriu a boca para rebater, a boca de Jimin ainda estava aberta para continuar a disparar, mas quem falou fui eu.

— Vocês dois querem calar a porra das bocas?! Eu estou com uma puta dor de cabeça, tive o desprazer de ver várias merdas o dia inteiro, viver várias merdas o dia inteiro. Eu acordei e descobri que, de repente, eu era um vidente e ninguém me perguntou se eu queria. Quase morri, mais de uma vez, me vesti de Sailor Moon, segui uma visão estúpida só para no final fazer papel de trouxa e descobrir que tudo o que o Yoongi queria mesmo era me beijar, porra! A última coisa de que eu preciso é de vocês dois nesse caralho de guerrinha infantil no meu ouvido. Então, CHEGA!

As visões de JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora