As visões de Jungkook

9: de tutorial de princesa a retorno do cometa

Sem muitas mais opções de programas para aquele fim de tarde de sábado, eu me juntei àqueles dois em mais uma ideia tosca e disfuncional. Sentado ao lado de Taehyung, com Jimin a nossa frente, eu observava atentamente Taehyung revirar as páginas de pesquisa, com resultados infrutíferos. Bem, quando se usa uma frase do tipo "como deixar de ser vidente" em Google Pesquisar, já não se espera obter muitos resultados produtivos de fato.

No entanto, para surpresa geral, Taehyung conseguiu encontrar a página de um site que superava as expectativas de tão próximo da nossa procura. A matéria intitulava-se: Como Tratas Fenômenos Místicos e Astrais, e até mencionava o cometa Bangtan. Infelizmente, parecia uma matéria escrita por uma criança de doze anos, muito bem alfabetizada e de imaginação muito fértil ao cultivo de desenhos da Disney. Como jovens adultos sensatos, aquilo deveria servir para darmos boas risadas enquanto o sol se escondia no horizonte do lado de fora, e nada mais. Não foi o que escolhemos fazer, claro. Para fazer jus a nossa falta de sensatez e ao desespero coletivo, seguimos o tutorial da melhor maneira que poderíamos. E, como os exagerados que somos, não escolhemos somente uma das várias opções dadas por aquele site. Claro que não. Quando se tratava de fazer doideiras, trabalhávamos com o pacote completo.

Então, eu fiz tudo. Proferi a oração sugerida, seguindo todas as palavras, pontos e vírgulas. Tomei banho de sal grosso e grama (que Taehyung pegou no jardim do Campus para substituir o manjericão que estava em falta no nosso quarto). Bebi a poção a base de rum (que Taehyung fez sem eu ver, alegando que havia seguido a receita à risca, mas que eu sabia que era uma mentira e desconfiava que ele tinha usado grama ali também). Até acendi uma vela para o desenho que Jimin fez de um arcanjo, porque a estatueta de anjo também estava em falta no nosso quarto.

— Esse tutorial está mais complicado do que tutorial do Art Attack — eu resmunguei, voltando ao meu lugar no chão depois de acender a bendita vela. Taehyung gargalhou e, ao mesmo tempo, Jimin revirou os olhos.

— Francamente, minha ideia foi muito melhor do que essa porcaria.

— Calado, falso hetero! — Taehyung censurou o comentário do Park, sem desviar o olhar da tela do notebook. Outra vez, o baixinho virou os olhos atrás daquele óculos. — Quatro: beijo encantado...

— Ah, pronto! — Eu soltei. Aquele era o auge e eu tinha certeza.

— O beijo gera diversos benefícios para o organismo humano e pode atuar diretamente no cérebro. Beijar a pessoa amada, por alguns segundos, pode ser uma solução para liberar amarras mentais e quebrar feitiços relacionados a mente, agindo como um poderoso antídoto — Taehyung prosseguiu a leitura daquele tutorial maluco.

— Só o que me faltava, não é, Taehyung! — Eu resmunguei com muita incredulidade.

— Eu só leio, não fui eu que escrevi — ele rebateu, com um riso.

— Eu nem tenho uma pessoa amada nessa merda.

— Anda, beija ele logo, Taehyung — Jimin falou, demonstrando impaciência e tédio ao mesmo tempo. Exatamente assim, do nada. Eu o ecarei com os olhos arregalados de perplexidade. Mesmo sem olhar, tive certeza que meu amigo Kim fez o mesmo do meu lado.

— Quê?! Que ideia é essa, Jimin? — Taehyung riu. E, por conhecer basicamente todas as risadas do garoto, eu sabia que aquela foi de puro nervoso.

— Tá escrito aí — Jimin apontou para o laptop.

— Mas aqui tá escrito: da pessoa amada. Tá até sublinhado e em negrito essa parte — o Kim rebateu, gesticulando com ambas as mãos. — Além do mais, vai que esse negócio de vidência é contagioso, sei lá.