8: de melancolia de vidente a exorcismo falido

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Outro sábado, 4:40 PM

Segundo fontes de pesquisa muito seguras, também conhecidas como minhas redes sociais, o cometa Bangtan já havia deixado a órbita da Terra para fazer turismo em lugar melhor. A maioria dos seres humanos que adquiriram algum poder surreal com o evento desnecessário já estavam recuperando seus dons mortais e até o furdúncio cibernético havia cessado. Ou seja, todos seguiram seus caminhos, exceto minha humilde pessoa que por algum motivo (muito desagradável, diga-se de passagem) não desapegou da síndrome visionária.

Para piorar o que já era horrível, as previsões só iam de mal a pior. Nada sobre ver informações úteis e relevantes para minha pessoa, como as respostas das provas ou os números sorteados da loteria. Não, eu tinha que ter visões adiantadas de Taehyung fazendo besteira aqui e ali ou as imagens inéditas-não-tão-inéditas-assim de Jimin tirando notas máximas em suas tarefas curriculares. Como se eu precisasse ver duas vezes o que, sinceramente, na maioria das vezes, eu preferia não ver nem uma.

Àquela altura, eu não enxergava muito mais o que fazer além de deitar minha bunda na cama, encarar o teto e curtir meu próprio poço melancólico. Mas nem isso eu podia fazer decentemente. Não quando Kim Taehyung vivia no mesmo quarto que eu e tinha toda sua maneira irritante de tentar me ajudar. Infelizmente, quando o senhor divino criador de nós, seres mortais, perguntou quem queria uma vida com níveis mínimos de paz e normalidade, eu certamente faltei.

— Olha, eu não ia falar não, mas você está fazendo um dramalhão do caralho, Jungkook! — Sentado na beirada da cama, Taehyung murmurou, cruzando os braços. Sentado nesse caso lê-se: jogado com o corpo emaranhado com minhas pernas depois de uma briga infantil por espaço e conforto de nossa parte. Admito que desnecessário, mas para começo de conversa aquela cama era minha.

— Você falou isso pelo menos cinco vezes, só hoje — eu pontuei, com a voz mais monótona e sem ânimo que eu conseguia. Não precisava de nenhum esforço para isso.

— Ah... Foda-se! Levanta daí, viado. É sábado e você tá mofando nessa cama desde sexta.

— Sexta foi ontem...

— Ai, olha só, eu tô tentando te ajudar aqui! — Ele levantou, quase me derrubando da cama com sua sutileza naquele ato e descruzando os braços para gesticular nervosamente.

O semblante emburrado em sua cara era falso. Eu sequer precisava observar muito para ter certeza disso. No fundo, ele podia estar incomodado, chateado, preocupado, o caralho a quatro. Mas, não, ele não estava com real raiva, nem nada que fosse um sinônimo para isso. Em contrapartida, eu não podia dizer o mesmo de mim. Na posse de uma arma mortal, eu já teria cometido um crime de ódio contra meu próprio cérebro sem dúvida alguma.

— Jungkook? — Meu amigo chamou, com a voz mais branda após um suspiro pesado.

— Uh?

— Eu sei que você está chateado com esse negócio das visões incessantes, deve ser chato pra caralho...

— Põe chato pra caralho nisso — eu o interrompi com meu resmungo.

— Tá. — Ele suspirou outra vez. — Mas, assim, será que, de repente, você não quer levantar esse seu belo traseiro daí e, sei lá, me acompanhar pra dar uma volta no shopping...

— Não. — Eu o cortei, com um golpe único e rápido, e não quis olhar a expressão de desapontamento que sabia que havia surgido em sua face.

— Mas...

— SEU PROBLEMA ACABOU PORQUE PARK JIMIN CHEGOU! — Meu amigo baixinho não era de gritar e ser escandaloso, esse papel pertencia exclusivamente a Taehyung. No entanto, naquele momento, o garoto invadiu o quarto com um berro de ferrar completamente com os tímpanos de qualquer ser humano. No susto, eu cheguei a pular na cama. Sentei-me, colocando os pés no chão e, em um movimento de puro instinto, armei a posição de proteção que aprendi em umas aulas gratuitas de autodefesa.

As visões de JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora