Mimos da noite

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Inglaterra-
Passado

Somente quando Tord completou quatorze anos, dois anos depois de ser apresentado a uma arma de verdade, foi que aprendeu a usá-la. Sua rotina era simples: Ir na escola com Edd, Matt e Tom pela manhã, evitar seus pais como uma praga pelo almoço e as tardes ir em um campo de treinamento, voltando apenas quando o sol já não poderia ser mais visto.

Em um desses dias, quando os últimos raios de luz descendiam por trás da alta vegetação que cercava aquela cidadezinha britânica, o norueguês voltava em sua rota normal, já que se recusava a pegar carona com seus pais, o inverno logo se aproximava e o frio tomava conta das ruas mal iluminadas. Momentos como esse eram os que o fazia pensar sobre as mais diversas partes de sua vida, se deveria voltar a falar com Paul e Pat, o que comeria amanhã...Quantas pessoas mataria assim que fosse forçado no exército.

Suspirando ele continuou o caminho gelado, já era dezembro e em poucos dias seria o natal, as decorações de luzes cintilantes e altas árvores eram visíveis a cada esquina que se virava, bem como os casais. No fundo, Tord os invejava, — Quem não invejaria? O suporte emocional seria ótimo, mesmo com todas as brigas, choros e discussões,no final, o importante seria o amor.

O norueguês suspirou, não é que não tivesse alguém em seu grupo de amigos que o interessasse, mas nunca seria possível. Primeiro, ele não sabia sequer a preferencia sexual de seus amigos, e segundo: Tord via este garoto como se ele fosse o sol,no contexto de que sempre o olhava com pura frustração. Claro, se aproveitava dos momentos em que seu calor invadia a todos e parecia com que o rapaz de azul contagiasse as pessoas em seu redor, e ele reclamava quando não mais estava com o britânico. Em dias que Tom estava calado, afogado em suas mágoas adolescentes, Tord reclamava. Nos dias em que estava mais forte, ele se escondia nas sombras.

O menino em vermelho nunca verdadeiramente olhava para Thomas a não ser quando estava saindo, e em meio da beleza do por do sol ele indagava por que nunca teve a coragem de encara-lo.

"Isso é inútil, Tord." Disse, suas bochechas ganhando um tom avermelhado por causa da neve que descendia gentilmente do céu. "Você vai pra um exercito focado na dominação mundial e instalação comunista, de onde que tem tempo pra relacionamentos de escola?" Um casal o olhou com uma cara preocupada uma vez que as palavras ousaram sair de sua boca, ele ignorou.

Andou por mais um tempo até chegar em uma lojinha adjacente a sua casa, onde ficaria até ter certeza que seus pais estavam adormecidos— De vez em quando, Tord entrava em casa apenas para ver Patryck adormecido na mesa da cozinha, lágrimas frescas em seu rosto enquanto Paul se encontrava debruçado ao seu lado. Em momentos especiais, quando o menino se sentia culpado por estar causando dor para sua família, ele cobria os dois com um longo lençol que tiraria de seu quarto, e em momentos ainda mais raros, adormeceria na cozinha com eles.

No dia seguinte, quando os primeiros raios da alvorada ameaçavam acordar o casal adormecido, Tord iria para seu quarto. A rotina se repetiria.

Porém, um dia, quando a neve estava mais profunda que o normal e a visão era quase impossível, tal rotina foi quebrada.

O jovem norueguês vagou por horas do campo de tiros até a cidade, se recusando a pegar uma carona com os seus colegas de campo—Paul e Pat viajaram para outro trabalho sujo, o deixando sozinho— O plano inicial era ir diretamente para casa, até que Edd o mandou uma mensagem, solicitando sua presença em uma das novas saideiras entre a turma.

A principio não havia chance de que dispensaria horas de seu tempo, que poderia estar usando para procurar filmes e aproveitar o período que estaria sozinho em casa, mas, como se o artista lesse seus pensamentos mais profundos e especulações, Edd conseguiu ser convincente.

Este lado do paraíso [DESCONTINUADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora