Em todos os meus dezoito anos de vida eu nunca havia me considerado um homem de sorte. Dono de privilégios que poucos possuíam, sim, mas não um merecedor de ajudinhas do destino. Porém, ter Jeon Jungkook parado no meio da minha sala com uma expressão tão espantada quanto a minha torcendo o seu rosto bonito parecia azar demais até mesmo para alguém como eu.
E eu não conseguia acreditar que aquilo era real. Por Deus, não podia ser!
Eu traguei o ar com dificuldade para dentro dos meus pulmões, sentindo as minhas pernas bambas e as minhas mãos tremendo nas laterais do meu corpo, e desviei meus olhos do seu olhar ferino e intimidador, controlado, pensando em dar meia volta e correr escada a cima. Entretanto, mamãe sorriu para mim, parecendo não notar o clima escuro e pesado que havia pousado sobre nós, e me chamou com um balançar de mãos, pedindo que eu me aproximasse mais.
Mas eu sequer me mexi, meus pés presos ao chão e a minha cabeça rodando, o meu estômago se retorcendo com a vontade de vomitar que me atingiu subitamente.
— Querido, não seja descortês e venha se apresentar ao Duque Jeon. — mamãe pediu, suas bochechas pálidas tomando um tom rosado de constrangimento pela minha má educação. Mas eu balancei a cabeça negativamente, atordoado e desacreditado demais com aquela realidade distorcida que a minha vida havia se transformado.
Eu podia sentir vários pares de olhos confusos e indagadores caindo sobre mim – os de mamãe, papai, Seokie e os poços negros e profundos de Jungkook, além de alguns criados –, mas eu não conseguia forçar o meu corpo a reagir. O meu coração batia descontroladamente dentro do meu peito e o meu ar minava devagarzinho, os meus olhos ardendo pelas lágrimas que insistiam em querer se derramar. Porém, eu respirei fundo e balancei a minha cabeça para os lados, piscando e me concentrando no quadro atrás das costas do Senhor Jeon para não ter que olhar para ele.
Eu não aguentaria tamanha vergonha e humilhação.
Mamãe pigarreou baixinho e bateu uma palma animada para dissipar o seu embaraço, mantendo a sua pose de mulher de classe enquanto se desculpava com o senhor Jeon, pondo um cacho do seu cabelo louro de volta no lugar.
— Me perdoe, Duque Jeon. Nosso filho não é assim, ele é um garoto doce e gentil.
Jungkook sorriu para ela, tranquilizador.
— Não se preocupe, Senhora Park. Eu sou apenas um estranho invadindo a sua casa, então eu compreendo as reações do seu filho.
E ele tinha razão; Jungkook era um estranho invadindo a minha casa, a minha vida e a minha honra. E eu queria que ele fosse embora, que desaparecesse dali naquele instante, mas eu apenas virei meus olhos para ele e sustentei seu olhar por dois segundos, me arrependendo amargamente ao encontrar uma decepção dolorosa serpenteando pelas suas íris. Ele... ele estava magoado comigo?
— Desculpe a minha indelicadeza, Meu Senhor, mas eu tenho a impressão de que já nos conhecemos. — Jungkook se dirigiu a mim, e eu engoli em seco com as suas palavras mentirosas, amargor escorrendo da sua língua. — Talvez tenhamos nos esbarrado no último baile do nosso amado rei de Tarla, mas eu não me recordo muito bem. De qualquer forma, é um prazer conhecê-lo, Park Jimin.
E eu gelei, calafrios subindo pelos meus braços e pela minha espinha quando ele disse o meu nome. O meu verdadeiro nome. Um peso angustiante se instalou no meu peito e no meu estômago, mas eu engoli o bolo na minha garganta e me forcei a respondê-lo, a minha voz soando firme e controlada de uma forma que eu não me sentia. Eu não deixaria Jungkook perceber como havia me deixado abalado.
— O prazer é todo meu, Meu Senhor. E eu adoraria continuar a nossa conversa, mas temo ter que deixá-lo aos cuidados dos meus pais. Estou me sentindo um pouco indisposto, então voltarei ao meu quarto.
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Um mais um igual a quatro ✹ Jikook
أدب الهواة[JIKOOK - ABO - MPREG] Park Jimin é o garoto de fios dourados, filho do Barão e da Baronesa de Tarla, um reino localizado a oeste do Pacífico. Sua vida era aparentemente perfeita, ele tinha o apoio do seu melhor amigo, Jung Hoseok, e uma inconvenie...