Capítulo 17 - Trégua

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Eu soprei um longo e pesado suspiro pela boca, fechando o livro sobre o meu colo.

Encolhi as pernas até tocá-las no peito e apoiei o queixo na palma da mão, meus pés descalços descansando no assento da poltrona. A vela da lamparina em cima da minha mesinha já havia derretido e se apagado há muito tempo, mas os pequenos fachos de luz do sol que se embrenhavam pelas cortinas e se dispersavam pelo quarto eram o suficiente para não me deixar no completo escuro.

Eu havia acabado de terminar mais um dos meus romances – um amor impossível entre uma mulher da realeza e um guerreiro sentenciado a morte por um rei cruel e usurpador – e não conseguia parar de pensar que eu e Jungkook tínhamos mais em comum com Gwendolyn e Gerard do que parecia. Não tínhamos um amor separado por classes nem por sede de vingança, mas nosso amor também começou por acaso e da maneira mais inesperada possível, além de passar por dificuldades que eu pensei que não seríamos capazes de superar. Que eu não seria capaz de superar, principalmente tendo tantos sentimentos conflitantes dentro do meu coração. Porém, aos poucos, nosso amor estava crescendo e criando raízes para se firmar e então se fortalecer e explodir em flores como Gwendolyn e Gerard explodiram.

Eu só lamentava pelo fim trágico e infeliz do amor deles. Eles não mereciam.

E eu rezava para que eu e Jungkook tivéssemos um felizes para sempre.

Balancei a cabeça, desfazendo a nuvem de pensamentos dentro da minha mente, e deixei o livro recém-terminado sobre a mesinha, desviando meus olhos para o outro lado do quarto. Havia mais escuridão daquele lado, como se nem mesmo a luz do sol se atrevesse a se esticar e perturbar o sono de Jungkook, que ainda dormia pesadamente sob as cobertas. Ele estava deitado de bruços e estendia o braço sobre um travesseiro, as costas desnudas relevando discretamente o brilho dourado da sua pele. Seu cabelo negro se esparramava sobre as suas orelhas e a sua testa, tão rebeldes e selvagens quanto seus olhos.

Eu inspirei fundo e mordi o cantinho do lábio, seu cheirinho de menta espiralando pelo ar.

Jungkook sempre me deixava com o corpo quente e formigando em lugares impróprios, ansiando para ser tocado e devorado.

Mas ainda era muito cedo e eu tinha outro assunto para resolver.

Um assunto que não podia mais esperar.

Fechei a fresta da cortina que deixava o sol entrar e me levantei da poltrona, calçando um par de pantufas escuras. Caminhei com cuidado pelo quarto, tentando não esbarrar em nada nem fazer barulho, e peguei o robe de veludo negro de Jungkook, suas iniciais gravadas no peito dele com fios de ouro e prata. O tecido da sua roupa era macio e caro e tinha o cheiro da sua colônia de banho misturado com o seu cheiro de menta, o que me dava a sensação de estar bem pertinho dele, com o nariz afundado no seu pescoço e os dedos nos seus cabelos. Por isso eu havia criado o hábito de usar suas roupas ao invés das minhas; eu o queria por perto o tempo todo e assim eu poderia levá-lo comigo para qualquer lugar.

Terminei de amarrar o laço que mantinha o robe fechado e abri a porta do quarto com cuidado, dando uma última olhada em Jungkook, que ainda dormia de bruços e abraçado ao meu travesseiro, completamente entregue e imerso no mundo dos sonhos.

Sai para o corredor em silêncio e fechei a porta, descendo as escadas em direção a cozinha. Meus pés faziam um barulho arrastado no piso de madeira, como se eu fosse uma espécie de fantasma perambulando pelos cômodos da casa, mas eu era o único fora do quarto aquele horário. Não que fosse absurdamente cedo – o sol já havia nascido há algumas horas –, mas os empregados evitavam subir para organizar o segundo andar enquanto o café da manhã não fosse servido. Medo de acordar os patrões, talvez. Ou de invadir nossa privacidade matinal mais do que já invadiam. Só sei que era assim desde que consigo me lembrar e o costume nunca se desfez, nem mesmo depois que meus pais foram embora.

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⏰ Última atualização: May 26, 2021 ⏰

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Um mais um igual a quatro ✹ JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora