Capítulo 04 - Memórias

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Depois de pouco mais de uma hora bebendo, kennick decidiu que já era hora de ir embora, mas ao sair da taverna, não imaginava que o mundo estava se acabando em água. A chuva estava tão forte que se formavam torrentes de água nas ruas agora completamente vazias. O lixo que estava espalhado pelas ruas da cidade foi varrido pela força da chuva e se acumulava em alguns pontos, formando uma pequena barreira, porém a água da chuva passava sem problema algum. Isso fazia com que as ruas ficassem alagadas em vários lugares.

kennick pensou até em voltar para a taverna e esperar a chuva pelo menos diminuir, mas se ficasse lá dentro, sabia que acabaria gastando mais dinheiro. Sabia também que com esse acordo feito com o Uraik, precisaria economizar como nunca e não poderia mais se dar o luxo de gastar como antes. Também não podia correr o risco de perder tempo, já que tinha apenas dois dias para conseguir o dinheiro que precisava e pagar Toan pelo serviço, usaria esse tempo o máximo possível, pois até o momento, não havia conseguido pensar em nada que o fizesse ganhar uma quantia tão alta em pouco tempo. E pior seria se ficasse bêbado demais essa noite. Provavelmente no dia seguinte perderia muitas horas de sol, devido as consequências da bebida e talvez nem conseguisse achar um meio de conseguir o dinheiro. Portanto, voltar à taverna estava fora de questão.

Ainda na cobertura do lado de fora da taverna, pensou em como a vida era engraçada, em como a situação financeira de alguém podia mudar tão rápido. Numa hora, podia beber quanta cerveja quisesse e comer o que quisesse. Na outra, tinha que enfrentar uma tempestade para evitar de gastar o que não podia. Riu então de sua situação, respirou fundo e decidiu encarar a chuva. Correr já não adiantava, pois ficaria ensopado até a alma de qualquer jeito. Tudo o que pôde fazer era cruzar os braços rente ao peito para tentar afastar o frio e se culpar mais uma vez por não ter trazido consigo sua capa com capuz. Pelo menos era uma proteção a mais. Não que alguma coisa fosse realmente proteger alguém de toda aquela água, claro.

Enquanto andava de braços cruzados e cabeça baixa, o rapaz voltou o pensamento mais uma vez para a questão do dinheiro que faltava. Como havia dito antes à Toan, se tivesse mais do que dez moedas de ouro, seria muito. E precisava de mais dez moedas para pagar o combinado e ainda ter algum dinheiro sobrando para suprir algumas necessidades básicas durante suas viagens. Como ele conseguiria esse valor é que ainda era um mistério. Já havia descartado a possibilidade de vender algumas peles que tinha em casa. O preço seria abaixo do esperado e o tempo que levaria até encontrar Toan já teria acabado. Poderia ainda tratar com Rovard, mas novamente o tempo era um empecilho e a certeza não era a mesma.

Enquando pensava sobre a questão do dinheiro, Kennick decidiu fazer o caminho mais longo para chegar à pousada, pois algumas ruas não eram pavimentadas ainda e a chuva transformou essas passagens em barro escorregadio. O caminho mais longo era justamente para evitar essas ruas. Pensou que como já estava ensopado, ensopado estaria de qualquer jeito. Era muito melhor chegar na pousada e só colocar as roupas para secar, do que ter que limpar toda a sujeira que a lama faria.

Com esse trajeto, em algum momento o rapaz entrou numa rua sem saída e, como estava de cabeça baixa, ainda distraído com toda questão de dinheiro e tempo, só percebeu que a rua era fechada quando já havia andando um bom pedaço dela. Era uma rua comprida e a escuridão não ajudava muito, pois todos os candeeiros em postes estavam apagados. Provavelmente a chuva conseguiu atravessar a proteção de vidro das lâmpadas e apagou o fogo. O que dava uma leve luz pálida e bruxuleante eram algumas luminárias na frente de casas com a frente coberta em pontos bem esparsos nessa rua.

O rapaz então murmurou de raiva de si mesmo e se virou para voltar. Só não esperava que agora um sujeito estaria ali, barrando sua passagem de volta.

*

O homem estava segurando uma enorme faca de caça, se aproximou de Kennick devagar e, antes que o rapaz pudesse passar por ele e atravessar para o outro lado, a fim de sair dali correndo, o homem se interpôs no seu caminho. No mesmo instante Kennick entendeu o que aconteceria a seguir e que não tinha como escapar sem lutar.

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