Capítulo 01 - Olhares

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 Kennick está mais uma vez à caminho de Baum, uma cidade que fica ao extremo sul do país de Nolas, a poucos quilômetros de distância da fronteira com outra nação chamada Bortul. Já faz mais de duas horas que está na estrada que leva à cidade. Seu alívio nesse fim de tarde é que caía uma garoa fina, se não fosse por ela, agora ele estaria coberto de poeira que subiria da estrada de terra a cada passo de seu cavalo.

 Seu objetivo na cidade é descobrir se a guarda conseguiu alguma informação sobre o paradeiro de seu mentor, um humano chamado Askelad. O homem está desaparecido há semanas e o rapaz o tem procurado todos os dias desde então. Começou as buscas pela região onde moram, que fica à oeste de Baum, numa clareira escondida por uma vasta floresta que circunda toda uma região entre os reinos Nolas e Bortul, como também em vilarejos que são margeados pela floresta. Porém, suas buscas não resultaram em nenhuma única informação até então.

 Askelad e kennick viviam da caça e comércio de peles. Não era um negócio muito lucrativo, mas conseguiam viver sem depender de ninguém. Certo dia, como era de seu feitio, Askelad saiu  sozinho para caçar nas fronteiras entre os dois países. Normalmente o homem não levaria mais do que dois ou três dias para voltar, mas ao se passar quase uma semana sem seu retorno, Kennick começou a procurá-lo. Até achou algumas pegadas e tentou seguí-las, mas a trilha foi confundida por dezenas de outras pegadas que iam e vinham em várias direções, pois aquela região era percorrida por vários tipos de pessoas, moradores das redondezas, caçadores, fugitivos, curiosos e tantos outros. Portanto, seria impossível achar algo que diferenciasse as pegadas de Askelad de todas as outras.

 Foi além da fronteira e perguntou nas vilas se alguém viu um sujeito loiro de cabelo curto e cavanhaque bem feito, vestido com peles grossas. Não obtendo nenhuma resposta, continuou sua busca. Perguntou entre os mercadores com quem costumavam negociar, também sem sucesso algum. Decidiu então que seria melhor voltar à Nolas e levar o caso para as autoridades da cidade de Baum, por ser a mais próxima de onde moram. Feito isso, continuou suas buscas por conta própria.

 Estava agora chegando a quarta semana do desaparecimento de Askelad. Constantemente Kennick ia até Baum verificar se a equipe de busca obteve alguma informação enquanto ele mesmo o procurava em outros lugares. Todo esse tempo e nem sequer uma única pista foi obtida, nem pela equipe de busca, nem por ele. Nenhum rastro, marcas de briga, nada de sequer boatos de confusão ou desentendimento e, o pior, ninguém viu alguém ao menos parecido com Askelad ultimamente.

 O rapaz lamentava ter que ir novamente à Baum, pois odiava a cidade. Os guardas e a população o tratavam como um inimigo público e toda vez que ia ao quartel general da cidade, a fim de perguntar sobre as buscas por Askelad, as respostas eram curtas e grosseiras. Tinha quase certeza que dessa vez não seria diferente das tantas outras vezes, mas sabia que devia tentar.

 Kennick sabia que esse tratamento que recebia da cidade era pelo simples fato de que ele é um Lied. Houve uma época em que uma colônia de Lieds habitava uma das cidades em Nolas. Esses Lieds, dizem, planejavam um golpe de estado, com o intuito de causar uma guerra cívil e tomar o controle de todo o país.

 O antigo rei, Borg, que era conhecido por sua crueldade para com os inimigos, soube dessa suposta traição dos Lieds, os quais ele aceitou de bom grado no seu país tantos anos antes. Ordenou então que todos daquela raça fossem aniquilados, sem exceção.

 Askelad, que na época fazia parte do exército de Nolas, era muito amigo dos pais de Kennick, ficou sabendo o inevitável destino que caíria sobre os Lieds e não havia tempo de avisar a todos para se prepararem para lutar ou fugir, pois se fosse pego, seria acusado de traição e não conseguiria salvar nem mesmo seus amigos.

 kennick sabia que Askelad não gostava de falar sobre aquele dia, pois dizia que as lembranças eram dolorosas demais, mas o homem lhe contou que correu até a casa dos pais de Kennick e os avisou que parte do exército de Nolas estava à caminho, disse que eles precisavam ir embora. Implorou para que não tentassem lutar, que pegassem seu filho e partissem dali o mais rápido possível. Nesse momento porém, gritos começaram a ser ouvidos em vários lugares e na mesma hora, batidas bruscas na porta anunciavam que os guardas já estavam ali. Antyr e Hage, mãe e pai de Kennick, pediram para Askelad fugir com seu filho enquanto eles lutavam a fim de conseguir um pouco de tempo para ele. Relutante, Askelad obedeceu, pois sabia qua as habilidades de luta de cada um deles já superava em muito as suas, os dois juntos então eram uma força equivalente à vários homens.

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