Corações despedaçados

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Xiao Rou

Com o coração na mão penso em mil maneiras de encarar a situação sem enlouquecer, mas na realidade todas elas incluíam surtar no final. Encosto meu ouvido na porta e o silêncio domina a sala, então deduzo que meus pais ainda não chegaram e sinto certo alívio.

Fico escorada alguns minutos na porta e logo ouço vozes no corredor, me escondo e vejo meus pais entrarem na sala da diretora Kim, minha mãe esbravejo em cima dela toda a sua raiva, meu pai parece decepcionado, mas não diz uma palavra sequer. Fico um tempo do lado de fora e crio coragem para encara-los.

Bato na porta e ouço a voz da diretora autorizando a entrada, abro a porta e assim que me veem meus pais se levantam e minha mãe vem até mim com a expressão cheia de fúria, desço meus olhos para sua mão que segura um maço de fotos minhas e de Mi Le, volto a olhar para minha mãe que levanta as fotos na altura do meu rosto.

-"Então era isso que estava fazendo? Estava pagando suas mensalidades para você sair por aí com uma garota! Estou tão decepcionada com você Xiao Rou." – meu nome é pronunciado de forma amarga e uma lágrima corre pelo meu olho.

-"Por favor, entenda mãe, eu sei que parece confuso, mas eu amo a Mi Le." – mal termino de falar e as fotos voam e atingem meu rosto, segundos depois a porta é aberta e Mi Le entra na sala pegando todos de surpresa.

-"Você está bem? Está machucada?" – Mi Le me vira e procura ferimentos pelo meu corpo.

-"Estou bem, mas você não deveria estar aqui não quero que se machuque." – passo a mão pelo seu rosto e por breves segundos esqueço onde estamos.

-"Então você é a garota ou garoto que corrompeu minha filha?" – mais uma vez minha mãe se aproxima e para em frente a Mi Le avaliando-a da cabeça aos pés.

-"Eu amo sua filha, eu amo Xiao Rou." – o estalo de um tapa preenche a sala e Mi Le leva a mão ao rosto.

-"Eu não sei como você foi criada, mas eu não vejo amor entre duas mulheres como algo possível, isso é blasfêmia, pecado, se deseja queimar no inferno vá sozinha por que eu vou salvar Xiao Rou. Amor? Isso não pode existir para pessoas como você!" – meu peito queima e pela primeira vez em toda minha vida sinto ódio da voz de minha mãe.

-"O amor que sentimos uma pela outra é mais forte e mais intenso que jamais será capaz de sentir. Eu lamento ter te decepcionado, mas eu sempre fui assim, sempre reparava nas garotas e não nos garotos, e eu só entendi que nunca fui eu mesma até conhecer a Mi Le. Nunca mais diga que ela vai para o inferno, nunca mais encoste em minha namorada, nunca mais." – meu pai se levanta e puxa minha mãe para trás, sinto um frio na barriga ao ver sua expressão tão calma.

-"Não posso apresentar você como minha filha em nossa igreja, não posso permitir que contaminem nossa comunidade e nossas vidas com todo esse pecado. Xiao Rou eu posso te dar uma única chance de ser salva e voltar a ser como antes, procurar um namorado, casar e ter filhos. E assim como sua mãe e eu fizemos ter uma vida normal." – meu chão cai, nunca pensei em ouvir tais palavras de minha família, nunca me vi indo contra eles, mas se eu desistisse agora levaria uma vida miserável sem Mi Le e simplesmente não suportaria isso, então eu apenas sorri e segurei a mão da mulher que eu amava deixando minha alma se corroer de dor e decepção.

-"Sinto muito, eu sinto tanto... Espero que um dia posam me perdoar, mas eu vou ficar com a Mi Le, não vou casar para ter filhos e sim por que eu amo a pessoa, e se em algum momento nos separarmos eu não vou correr para os braços de vocês. Mãe, pai... – me viro para Mi Le e sem precisar dizer nada ela me abraça apertado, deixo o peso de meu corpo cair sobre seus braços.

-"VOCÊ É UM MOSNTRO! VAI LEVAR MINHA FILHA PARA O INFERNO! NÃO VOU PERMITIR, NUNCA VOU DEIXAR ISSO ACONTECER!" – Mi Le protege meu corpo quando minha mãe pula em nós duas para nos separarmos, meu corpo fica pequeno encaixada nos braços dela, e mesmo com esforço não consigo ver muita coisa, e por um milagre ouvimos um grito vindo da porta que faz com que o ataque pare.

-"O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!" – me viro para olhar e uma mulher linda está parada na porta com os olhos queimando de ira.

-"Quem é você? Não percebeu que isso é assunto de família?!" – minha mãe bufa e a diretora toma a frente.

-"Sinto muito senhora Wang, eu tentei intervir, mas essa senhora estava fora de si." – todos encaramos a diretora incrédulos com a resposta ridícula que ela deu.

-"Eu tenho cara de idiota? Eu vi muito bem que ficou parada vendo minha filha ser agredida! Entende que a partir de agora pode começar a arrumar suas coisas, pois, esse cargo já perdeu?" – fico incrédula e Mi Le sorri e caminha abraçando a mulher que a aperta contra si.

-"Sinto muito ter chegado tarde meu amor." – ela diz e passa as mãos pelo rosto de Mi Le.

-"Estou bem, não chegou tarde mãe. Eu quero te apresentar uma pessoa. – elas vem até mim e Mi Le passa o braço pelos meus ombros. – Mãe, essa é Xiao Rou minha namorada." – a mulher sorri e me abraça apertado, retribuo o abraço e me desvencilho de Mi Le.

-"Você é tão linda quanto Mi Le havia me contado. Como você está?" – percebo que ela tem os mesmos olhos acolhedores e sinceros que Mi Le, meu coração se preenche de uma felicidade absurda e sorrio.

-"Estou bem senhora Wang, sinto muito por tudo isso. Mi Le é tão parecida com você." – ela ri e trás Mi Le para o nosso lado.

-"O pai dela está entrando e depois me diga se eles não são cara de um focinho de outro?" – logo um homem alto entra e vai até Mi Le á abraçando.

-"Minha filha fiquei com tanta saudade! Você está tão linda, pena que só nos vemos quando arruma confusão, deveria arrumar mais vezes, aliás." – me pego rindo e o homem se vira para mim.

-"Pai essa é Xiao Rou minha namorada." – Mi Le se adianta e o homem me pega de surpresa quando me abraça gentilmente.

-"Muito prazer senhor Wang." – sinto meu rosto queimando e ele se afasta.

-"Pode me chamar de "Pai."" – tapo minha boca com as mãos para conter minha animação, logo a mãe de Mi Le vem para o meu lado e diz;

-"Pode me chamar de "Mãe", agora que nos conhecemos oficialmente deveríamos jantar juntas.".

E como já imaginava esse momento não duraria o suficiente para ser aproveitado e minha mãe começa a rir de forma debochada.

-"Que lindo momento não é? Esse teatrinho terá fim, eu vou tirar minha filha desse antro e ela só voltará a ver o sol quando voltar a ser minha doce e sensata menina.".

-"Deixe as crianças de fora, a conversa será entre nós quatro." – o senhor Wang diz e abre a porta fazendo sinal para sairmos.

Com certa relutância saímos da sala e sentamos nas cadeiras em logo em frente.

-"O que acha que vai acontecer?" – pergunto apreensiva.

-"É imprevisível, mesmo conhecendo meus pais não posso prever até onde vai o limite deles.".

-"Está machucada? Deixa eu ver." – faço Mi Le se virar e vejo por baixo de sua blusa alguns aranhões e sua pele avermelhada.

-"Não dói, não se preocupe.".

-"Vamos há enfermaria, vou higienizar pelo menos." – me levanto e estendo minha mão, Mi Le á segura e saímos dali.

Música: Sleeping At Last -Saturn

Boa Leitura! 

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