A sociedade em que eu vivo diz que as garotas devem ser "normais" seguir padrões, homens casam com mulheres e mulheres casam com homens, aceitar tudo o que dizem, mas no meu reflexo não vejo o "normal" que eles vêem, eu não sou assim, eu vejo ela e...
Depois que as meninas saem endureço minha postura e sento de um dos lados da enorme mesa no centro da sala e meu marido fica ao meu lado, logo todos se acomodam e sinto pena dos pais de Xiao Rou mesmo sabendo que o que eles disseram foi errado. Sem muita expectativa sobre essa conversa quebro o silêncio com a voz serena.
-"Mesmo que estejam em choque minha filha não deveria ter sido agredida." – me volto para a diretora que nem tem coragem de me encarar.
-"A sua filha é a responsável por esse absurdo! Xiao Rou era uma garota normal, ela nunca deu sinais de ser uma... Ser uma...".
-"Lésbica." – completo a frase da mãe de Xiao Rou que me encara abismada.
-"Como pode ser tão fácil pronunciar tais palavras? Não posso acreditar que ache normal esse comportamento." – ela responde me deixando ainda mais frustrada.
-"Como devo chama-la?" – ela me encara desconfiada.
-"Senhora Rou.".
-"Então senhora Rou, eu imagino que isso pegou vocês de surpresa e que talvez se ela tivesse contado vocês teriam como processar essa informação, mas eu sempre soube que Mi Le não era "normal" como você mesma disse. Ás vezes vocês descuidaram e deixaram escapar alguns sinais, eu sei que pode parecer que estou tentando ensina-los á criar sua filha, mas não é isso, apenas pensem em como ela deve ter se sentido confusa quando percebeu quem ela era de verdade, o medo e a solidão de não poder se abrir com ninguém, vocês são pais dela e ela não se apoiou no laço de sangue. Então mesmo que joguem a culpa na minha filha não vai mudar o fato de que Xiao Rou escolheu ser namorada da Mi Le, ninguém á obrigou em momento algum." – eles abrem a boca para responder, mas á fecham de novo.
-"Bom precisamos decidir como proceder sobre as meninas, como sabem Mi Le está em um quarto sozinha e Xiao Rou está dividindo com Lian. Preciso da opinião de vocês quatro." – quando ouço isso sinto meu estômago se revirar.
-"Como assim minha filha está sozinha? Ela está sendo isolada das outras garotas? Que tipo de solução é essa?! Alias eu quero entender qual é o problema antes de qualquer coisa!" – meu marido segura minha mão na tentativa de me acalmar.
-"Como assim não vê o problema? Acha que com palavras bonitas vai mudar alguma coisa? Isso não vai passar em branco." – o senhor Rou se pronuncia depois de se manter calado todo esse tempo.
-"Nós sempre soubemos quem nossa filha era e nunca vimos como problema, eu não sei qual é o problema aqui além do preconceito por todos os lados. E mais vergonhoso ainda é a hipocrisia da direção que fecha os olhos para coisas muito piores, a primeira que deveria dar o exemplo como educadora." – meu coração se enche de orgulho de meu marido.
-"Expulse essa garota, não quero que ela fique perto da minha filha e caso não faça isso vou tirar Xiao Rou da universidade e processa-los!" – a Sr.ª Rou dispara e eu me levanto da cadeira batendo os punhos na mesa.
-"Eu não sei em que mundinho a senhora vive, mas eu não vou permitir que a educação de nenhuma das duas seja prejudicada por seus pensamentos limitados! Eu amo minha filha e mesmo que eu apodreça na cadeia com ela ninguém meche ninguém vai tratar a minha menina dessa forma.".
-"Vocês dois são doentes! Não me importo se está tudo bem a "menina" de vocês ser assim, mas a minha filha não é. E como não pretendem tirar essa Mi Le da universidade eu vou tirar Xiao Rou e cura-la!" – perco o controle da minha boca e disparo tudo o que tenho entalado em minha garganta.
-"O problema dessa sociedade é pessoas como vocês, religiosos que sentem que tudo ao redor está errado se não for como a doutrina "ensina", eu não sei como minha filha suporta esse tipo de absurdo, mas nós não lutamos ao lado dela para que ela seja apedrejada por pessoas que nem ao menos entendem o que é amor de verdade, que rotulam relacionamentos, ações e as pessoas sem se dar ao trabalho de conhecê-las! Doença? A doença real é pensamento como esse, por que mesmo que o mundo esteja contra elas eu vou estar a favor, mesmo que tudo conspire contra eu vou lutar com todas as minhas forças para que nada ás atinja, e isso por que Mi Le é minha filha, meu grande presente, meu amor e se ela escolheu Xiao Rou como companheira e namorada vou protegê-las de todas as formas. Pensem bem no futuro, Xiao Rou é filha de vocês e não uma estranha e se não puderem dar apoio á elas que tipo de pais se consideram? Não vai ser a primeira e nem a última vez que me deparo com o preconceito e nem por isso abaixei a cabeça ou ignorei a dor de minha filha! Elas são seres humanos, são feitas de carne e osso, sentem dor, alegria, sentem igual á nós todos e não é e NUNCA será a sexualidade delas que irá mudar o coração delas. Eu poderia falar o dia inteiro, mas mesmo que eu recite na Bíblia não acreditarão, pois, a cabeça de vocês está tão cheia de vitimismo que nem se quer pensaram em olhar para Xiao Rou como ela é." – me sento e agarro a mão de meu marido retomando o ar.
-"Então... O que devo fazer senhoras?" – a diretora pergunta cautelosa.
-"Precisamos de um tempo para pensar sobre isso, enquanto isso não deixem a filha deles sozinha. Nós vamos embora." – a senhora Rou se levanta e sai acompanhada do marido.
-"E quanto á vocês?" – a voz dela sai ainda mais baixa do que antes.
-"Deixe as garotas em paz, e vou me certificar que ande na linha." – digo por fim e me levanto saindo da sala.
Quando chegamos ao corredor às meninas estão em pé encarando os pais de Xiao Rou passarem sem ao menos olharem para o lado, logo que elas nos veem correm em nossa direção com os olhares aflitos.
-"O que aconteceu?" – elas perguntam em uníssimo.
-"Por enquanto está tudo bem, a conversa foi complicada, mas esperamos que tudo se resolva da melhor forma então até lá podem respirar mais aliviadas." – respondo e elas se abraçam sorridentes.
-"Nós precisamos ir agora então fiquem bem. Vamos querida nosso voo é daqui à uma hora.".
Nos despedimos das garotas e logo a diretora sai da sala e as chama para dentro, meu peito aperta, mas sei que elas são fortes e vão passar por isso.
-"Elas vão ficar bem?" – pergunto apenas para ter certeza.
-"Elas vão meu bem, você conhece nossa filha ela é osso duro de roer.".
Música:TheChainsmokers - This Feeling ft. KelseaBallerini [Tradução/Legendado]
Boa Leitura!
Nota da autora:
Não existem rótulos para o amor, precisamos desesperadamente e urgentemente aprender a respeitar as diversas formas de amar para que o mundo seja um lugar melhor, mais bonito, e mais verdadeiro para se viver!
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