11th

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Aconselho que se preparem para altos tiros

Amo vocês xx

💫💫💫💫💫💫

— Boa noite, sr. Policial. — disse o cara que estava ao volante quando abriu a janela do carro.

— Habilitação. — O policial respondeu sem olhar para dentro do carro, anotando algo em um caderninho, provavelmente uma multa.

— Claro. — ele respondeu e abriu o porta luvas. Tirou de lá uns documentos, provavelmente todos eram falsos. Ele entregou um para o policial.

O policial deu uma olhada e, olhando pela primeira vez para o cara dentro do carro, disse:

— Documentos do carro.

— Do carro? — perguntou um pouco nervoso.

— São detetizadores? Precisa de documentos pra isso. Na verdade, qualquer um precisa. Se não tiver, tenho que levar o carro e vocês pra delegacia, e você e seu amigo podem ficar presos por 48 horas ou mais.

— Mas sr. Policial, temos crianças no carro. — Não pude evitar revirar os olhos. Hannah me deu uma cotovelada e me repreendeu com os olhos.

— São seus filhos?

— São. — vi que ele segurou a mão do cara ao seu lado, pra mostrar que eles se amavam.

— Ele tá falando sério? — sussurei para Hannah e ela me ignorou.

— Tudo bem, eles vão ter que aguardar as 48 horas na delegacia. — O policial disse dando uma olhada dentro do carro.

O policial pediu para sairmos do carro e irmos para a viatura. Um dos caras abriu a porta da van e Hannah saiu, eu fui logo atrás. Entramos na viatura, meio apertados no banco de trás. O policial estava falando com alguém no seu rádio do lado de fora.

— Vocês dois vão ficar calados o tempo todo. — disse um dos caras apontando o dedo na minha cara — Abram o bico pra falar qualquer coisa e estão mortos.

Hannah fez que sim com a cabeça e eu revirei os olhos. Como eu vim parar aqui, oh Deus? Eu mesmo respondo minha própria pergunta: Sua mania super protetora com tudo e todos ao seu redor o trouxe até aqui. Por que não podia simplesmente deixar ela ir sozinha? Ou por que ela não me deixou de fora disso? Mas sei que se tivesse feito qualquer uma dessas coisas, eu estaria em casa, perdendo sono, imaginando que ela estaria em algum lugar com medo, fome e com frio, e eu não podia deixar isso acontecer com ela.

O policial entra na viatura logo que o reboque chega e leva a van, e vamos logo atrás dela para a delegacia. Como era só uma apreensão por andar sem habilitação, eles ficaram numas celas pequenas ali perto e eu e Hannah ficamos esperando em um banco na recepção.

Na mesa da recepção à nossa frente, tinha um policial cuidando de tudo; olhando as câmeras e de olho em nós. Mas eram duas da manhã e ele devia estar sem dormir por mais de vinte e quatro horas, porque acabou dormindo.

Hannah me cutucou com o cotovelo, mas não olhou para mim. Ela levantou da cadeira e andou silenciosamente até a saída, olhou lá fora se tinha alguém e saiu. Eu, um pouco confuso, a segui.

— Isso foi fácil demais, tem algo errado. — digo quando a alcanço e ando ao seu lado. Ela simplesmente continua a olhar a "cidade que nunca dorme" em volta como se eu nunca tivesse falado — Você que está me ignorando? Eu tinha que te ignorar, afinal foi você que nos meteu nisso tudo. Sabe como aquilo foi arriscado, Hannah?

— Sim, Corbyn, eu sei. — ela disse finalmente olhando para mim — E sei como tudo isso é arriscado, mas eu prefiro passar minha vida toda em uma daquelas celas do que outro dia na minha própria casa. Sabe como é isso, Corbyn? — eu apenas a encaro com olhos atentos, esperando não ter que responder. — Eu pensei em tudo antes de fugir. Onde eu ficaria, onde pegaria ônibus, estações de trem, comida, esconderijos... Mas sabe na única coisa que não consegui pensar? Uma desculpa para dizer a você. Qualquer coisa que eu dissesse não te convenceria de que era verdade. Talvez nem mesmo se realmente fosse a verdade.

Hannah não disse mais nada e eu não achei palavras para conforta-la. Passei a andar olhando o chão e fingi que não a escutei chorando baixinho.

Ela entrou em um beco sem saída e, sem se importar com o lixão que tinha ali, se sentou no chão. Não me importei em reclamar e me juntei a ela.

Hannah abriu sua mochila e tirou meu moletom de lá, o qual tinha usado para cobrir o contrabando, me entregou e eu o vesti.

— Eu não roubei nada. — ela disse de repente, com a voz calma.

— O quê?

— Não roubei o veneno. Está vendo? Não tem nada aqui. — ela joga a mochila para mim. Nada de veneno de rato. Só comida que ela roubou da casa daquela senhora — Enganamos eles.

— Mas... Como... Quando... Quê?

— Você saiu da loja com eles. Eu tirei o veneno da mochila e usei sua blusa pra fazer volume.

— Mas o alarme, os seguranças...

— Eu liguei o alarme de incêndio e eles me viram. Por isso nos deixaram escapar. Não tinha sentido perseguir alguém que não fez nada tão errado.

Olhei para ela sem entender nada, e sem saber o que dizer. Mas ela não queria uma resposta. Pegou sua mochila de volta e a usou de travesseiro e eu fiquei encostado na parede. O silêncio entre nós pairou por longos minutos, mas ainda podia ouvir as sirenes e buzinas ao longe. Na cidade que nunca dorme.

— Eu terminei de ler o diário de Kate Morgan. — Hannah disse, me assustando. Realmente achei que ela tinha dormido.

— É mesmo? E o que aconteceu com ela?

— Suicídio. — ela disse com a maior naturalidade.

— E ela contou o motivo?

— Não... Mas acho que não quero saber.

— Entendi...

Silêncio e mais uma vez Hannah o quebra com uma frase impactante. Mas dessa vez a sua voz não tinha tanta confiança. Estava falhando e chorosa.

— Corbyn... Sabe que nossas mães eram amigas no Colégio, não sabe?

— Sei...

— A minha mãe sempre sentiu inveja da sua. De tudo. Então tentava imitar tudo que sua mãe fazia. Sua mãe se casou e engravidou de você, e a minha achou um cara qualquer, o chamou de amor da sua vida e, dois meses depois, lá estava eu crescendo dentro dela. Claramente foi um erro. Você nasceu saudável e gordinho, e eu nasci magricela e sem ninguém para me amar. Ela aguentou a mim e meu pai por dois anos, depois saiu de casa e nunca mais voltou.

"Eu passei a viver na sua casa enquanto meu pai não estava. Quando fiz cinco anos, ele me disse que se minha mãe não tivesse ido primeiro, ele teria ido embora. Sabe por que ele não foi assim que ela nos deixou? Porque agora ele tinha uma garotinha inocente para fazer o que ele quisesse.

"Se lembra daquele dia em que cheguei na sua casa chorando, com medo de você e do seu pai? Eu estava com medo de que fizessem o mesmo. Até hoje tenho esse pensamento. Fui grossa com seus amigos por causa disso. Não fico confortável perto de garotos. Tirando você. Porque eu sei que você não faria nada pra me machucar."

Minha boca abria e fechava, mas nenhum som saía dela.

— Seu pai te...

— Estuprou? Sim. Todas as noites em que chegava bêbado em casa, desde meus cinco anos. É isso, esse é o motivo de estarmos aqui agora...

— Por que não me contou antes?

— Você não entenderia. Iria ligar para polícia e isso só deixaria tudo pior...

— Meu Deus, Hannie... — me aproximo dela e a envolvo em um abraço apertado — Eu sinto muito.

Fiquei ali sentado no chão imundo, a abraçando com todo carinho do mundo enquanto ela chorava no meu peito.

— Não quero voltar para casa, Corbyn. Não aguento mais isso.

— Eu prometo que ele nunca mais vai encostar em você, Hannie. Eu prometo.

Mesmo depois que Hannah dormiu, eu não a soltei. Ali eu percebi que não é possível proteger quem você ama, por mais que você tente. E que você pode achar que conhece alguém, que sabe tudo que se passa na cabeça dela, mas você não sabe. Não é possível. Talvez nem conhecemos a nós mesmos tão bem.

Runner 💫 Corbyn Besson Onde histórias criam vida. Descubra agora