Acordamos e nos arrumamos pra descer e pegar outro ônibus.
— Vamos tomar café na recepção? Estou com muita fome. — eu disse.— Não, temos comida.
Ela colocou a touca dela e arrumou o meu cabelo de forma que ficasse dentro da minha touca.
— Corbs, me empresta sua blusa?
— Tá. — eu tirei meu moletom e dei pra ela vestir.
— Tem cheirinho de Corbyn. — disse sorrindo, colocando o capuz.
Fomos pro elevador e eu apertei o térreo.
— Que nomes você disse pra ela?
— Joey e Phoebe.
— Tá bem, vamos pensar em sobrenomes depois.
— Eu disse que tínhamos o mesmo sobrenome, Green.
— Ah, depois eu que sou viciada em Friends. — ela disse e eu revirei os olhos — Então, mas temos que ter sobrenomes diferentes.
— Certo.
Fomos até a recepção fazer o check-out. Era a mesma moça, mas ela não fez observações sobre nossos novos visuais. Ela nos desejou um bom dia e nós agradecemos. Saímos e deixamos para trás a moça que em algumas horas seria interrogada por dois policias. "Você viu esses garotos? Se chamam Hannah e Corbyn." diria um deles, mostrando nossa foto. "Não" ela responderia, "não vi".
Entramos em outro ônibus, mas dessa vez sabíamos onde ele iria. Monroe, Ohio. Dessa vez o ônibus estava mais cheio, o que ainda era um problema depois de termos aparecido no jornal, mas estávamos disfarçados.
— Hannie, — eu disse baixinho — não vai dormir dessa vez.
— Você também não, hein, Corbs.
💫💫💫💫💫💫
Depois de um tempão dentro daquele ônibus, Hannah disse que havíamos chegado ao nosso destino e descemos do ônibus.
— Pra onde... — comecei.
— Só me siga. Eu sei onde estamos indo.
Andamos por uns quinze minutos pelas ruas de Monroe, Ohio, escondendo o rosto de policiais e a maioria das pessoas, até pararmos em frente uma casa.
— Eu conheço esse lugar... — eu disse.
— Verão passado viemos aqui. Eu, você, seus pais e o meu pai. Eu vi essa casa abandonada, não estava à venda nem alugando, então pensei em me esconder aqui.
— E se tiver gente ai?
— Olhe a grama alta e os vidros sujos. Não tem ninguém aí há muito tempo.
— Tá bom, então.
Entramos na casa. Tinha pó pra todo lado, os móveis que ainda restavam estavam cobertos por lençóis. Hannah apertou um interruptor. A luz piscou, ficou acesa e apagou de novo.
— Por isso eu trouxe duas lanternas. — disse ela.
— Que bom, vamos precisar.
Tiramos os lençóis de um sofá e colocamos as mochilas em cima dele. Hannah abriu a mochila dela e pegou um Doritos.
— Me dá um, mulher, aqui ninguém é de ferro.
Nos sentamos no sofá e comemos o salgadinho. Eu estava morrendo de fome.
— Hannie, eu estava pensando...
— Ai, lá vem...
— Deve ter ratos aqui.
— É. Vamos ficar bem, não se preocupe.
— Onde vamos tomar banho?
— Isso a gente vai ter que ficar sem até formos para um lugar com chuveiro. Não vamos morrer.
Ficamos comendo o salgadinho em silêncio até que ele acabou.
— Ainda tem dinheiro? — perguntei.
— Tem.
— Quero comida de verdade.
— Tem uma loja aqui perto. Vamos?
— É melhor ir um só...
— Tá bom. — ela pegou o dinheiro e se levantou. Segurei seu braço.
— ...e eu acho que deveria ser eu.
Ela revira os olhos e me entrega o dinheiro.
— Odeio o Corbyn responsável.
Me levantei e fui até a porta.
— Corbyn, espera!
— Que foi?
— Toma sua blusa de volta, e deixa eu arrumar seu cabelo. Dá pra ver.
Ela fez isso e depois apertou minhas bochechas.
— Pronto, pode ir, filho.
Eu ri e sai da casa. Andei até achar um Dukin Donuts. Olhei meu reflexo no vidro, arrumei o óculos e entrei na loja. Fiquei na fila, que estava um pouco curta. Mais pessoas chegaram e ficaram atrás de mim.
— Você ouviu sobre as crianças de Fairfax que sumiram? — disse uma delas.
— Ouvi. Eu não queria ser a mãe delas. Imagina a preocupação!
Engoli em seco e puxei a touca mais pra baixo. Já era minha vez. Pedi uma caixa de donuts, a mais barata que vem quatro.
— Qual seu nome, garoto? — o moço atrás do balcão perguntou. Eu o olhei confuso. — Pra te chamarmos quando ficar pronto.
— Ah, Joey.
— Certo, Joey, aguarde ali.
Ele apontou o lugar e eu andei até lá lentamente. Meu coração batia tão rápido que parecia audível a todos. Tinham outras pessoas aguardando seus pedidos. Fiquei observando o local e foi ai que eu vi um policial entrar na loja. A fila já estava pequena, ele pediu sua comida e veio aguardar ao meu lado.
(Respira, Corbyn. Talvez ele nem te veja. Calminha. Eles farejam o medo)
— Susan. — chamou o moço que entrega os pedidos. Ainda tinham duas pessoas na minha frente!
(eles farejam o medo, Corbyn)
— Oi, garoto. — disse o policial.
— Oi.
— O que faz aqui sozinho?
— Eu... moro aqui perto. Minha... mãe está grávida e quer comer donuts.
(Boa, Corbyn)
— Meu parabéns pelo irmão.
— É, obrigado.
— Sua mãe assiste jornal, filho?
— Sim.
— Ela te falou sobre os desaparecimentos?
— Falou.
— Essas crianças de Fairfax... Notícias correm rápido por aqui. Estão todos falando deles.
— É, eu percebi. — disse baixinho.
— Tome cuidado, sim? O mundo é cheio de gente ruim.
— Vou tomar.
— Joey. — O moço finalmente me chamou. Andei até ele e peguei minha comida.
— Tchau, Joey! — disse o policial.
— Tchau! — respondi, olhando para ele pela primeira vez.
(não me reconheça não me reconheça não)
Continuei andando. Sai da loja e aumentei o passo. Logo eu estava na nossa casa temporária.
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Runner 💫 Corbyn Besson
أدب الهواةQuando Corbyn abriu a porta para Hannah naquela noite, ela disse que estava fugindo de seu pai. Ele não achou estranho, porque ela, desde pequena, vai à casa dele dizendo isso, mas dessa vez ela estava falando sério. Mesmo sendo amigos desde o útero...