5th

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Acordamos e nos arrumamos pra descer e pegar outro ônibus. 

— Vamos tomar café na recepção? Estou com muita fome. — eu disse.

— Não, temos comida.

Ela colocou a touca dela e arrumou o meu cabelo de forma que ficasse dentro da minha touca.

— Corbs, me empresta sua blusa?

— Tá. — eu tirei meu moletom e dei pra ela vestir.

— Tem cheirinho de Corbyn. — disse sorrindo, colocando o capuz.

Fomos pro elevador e eu apertei o térreo.

— Que nomes você disse pra ela?

— Joey e Phoebe.

— Tá bem, vamos pensar em sobrenomes depois.

— Eu disse que tínhamos o mesmo sobrenome, Green.

— Ah, depois eu que sou viciada em Friends. — ela disse e eu revirei os olhos — Então, mas temos que ter sobrenomes diferentes.

— Certo.

Fomos até a recepção fazer o check-out. Era a mesma moça, mas ela não fez observações sobre nossos novos visuais. Ela nos desejou um bom dia e nós agradecemos. Saímos e deixamos para trás a moça que em algumas horas seria interrogada por dois policias. "Você viu esses garotos? Se chamam Hannah e Corbyn." diria um deles, mostrando nossa foto. "Não" ela responderia, "não vi".

Entramos em outro ônibus, mas dessa vez sabíamos onde ele iria. Monroe, Ohio. Dessa vez o ônibus estava mais cheio, o que ainda era um problema depois de termos aparecido no jornal, mas estávamos disfarçados.

— Hannie, — eu disse baixinho — não vai dormir dessa vez.

— Você também não, hein, Corbs.

💫💫💫💫💫💫

Depois de um tempão dentro daquele ônibus, Hannah disse que havíamos chegado ao nosso destino e descemos do ônibus.

— Pra onde... — comecei.

— Só me siga. Eu sei onde estamos indo.

Andamos por uns quinze minutos pelas ruas de Monroe, Ohio, escondendo o rosto de policiais e a maioria das pessoas, até pararmos em frente uma casa.

— Eu conheço esse lugar... — eu disse.

— Verão passado viemos aqui. Eu, você, seus pais e o meu pai. Eu vi essa casa abandonada, não estava à venda nem alugando, então pensei em me esconder aqui.

— E se tiver gente ai?

— Olhe a grama alta e os vidros sujos. Não tem ninguém aí há muito tempo.

— Tá bom, então.

Entramos na casa. Tinha pó pra todo lado, os móveis que ainda restavam estavam cobertos por lençóis. Hannah apertou um interruptor. A luz piscou, ficou acesa e apagou de novo.

— Por isso eu trouxe duas lanternas. — disse ela.

— Que bom, vamos precisar.

Tiramos os lençóis de um sofá e colocamos as mochilas em cima dele. Hannah abriu a mochila dela e pegou um Doritos.

— Me dá um, mulher, aqui ninguém é de ferro.

Nos sentamos no sofá e comemos o salgadinho. Eu estava morrendo de fome.

— Hannie, eu estava pensando...

— Ai, lá vem...

— Deve ter ratos aqui.

— É. Vamos ficar bem, não se preocupe.

— Onde vamos tomar banho?

— Isso a gente vai ter que ficar sem até formos para um lugar com chuveiro. Não vamos morrer.

Ficamos comendo o salgadinho em silêncio até que ele acabou.

— Ainda tem dinheiro? — perguntei.

— Tem.

— Quero comida de verdade.

— Tem uma loja aqui perto. Vamos?

— É melhor ir um só...

— Tá bom. — ela pegou o dinheiro e se levantou. Segurei seu braço.

— ...e eu acho que deveria ser eu.

Ela revira os olhos e me entrega o dinheiro.

— Odeio o Corbyn responsável.

Me levantei e fui até a porta.

— Corbyn, espera!

— Que foi?

— Toma sua blusa de volta, e deixa eu arrumar seu cabelo. Dá pra ver.

Ela fez isso e depois apertou minhas bochechas.

— Pronto, pode ir, filho.

Eu ri e sai da casa. Andei até achar um Dukin Donuts. Olhei meu reflexo no vidro, arrumei o óculos e entrei na loja. Fiquei na fila, que estava um pouco curta. Mais pessoas chegaram e ficaram atrás de mim.

— Você ouviu sobre as crianças de Fairfax que sumiram? — disse uma delas.

— Ouvi. Eu não queria ser a mãe delas. Imagina a preocupação!

Engoli em seco e puxei a touca mais pra baixo. Já era minha vez. Pedi uma caixa de donuts, a mais barata que vem quatro.

— Qual seu nome, garoto? — o moço atrás do balcão perguntou. Eu o olhei confuso. — Pra te chamarmos quando ficar pronto.

— Ah, Joey.

— Certo, Joey, aguarde ali.

Ele apontou o lugar e eu andei até lá lentamente. Meu coração batia tão rápido que parecia audível a todos. Tinham outras pessoas aguardando seus pedidos. Fiquei observando o local e foi ai que eu vi um policial entrar na loja. A fila já estava pequena, ele pediu sua comida e veio aguardar ao meu lado.

(Respira, Corbyn. Talvez ele nem te veja. Calminha. Eles farejam o medo)

— Susan. — chamou o moço que entrega os pedidos. Ainda tinham duas pessoas na minha frente!

(eles farejam o medo, Corbyn)

— Oi, garoto. — disse o policial.

— Oi.

— O que faz aqui sozinho?

— Eu... moro aqui perto. Minha... mãe está grávida e quer comer donuts.

(Boa, Corbyn)

— Meu parabéns pelo irmão.

— É, obrigado.

— Sua mãe assiste jornal, filho?

— Sim.

— Ela te falou sobre os desaparecimentos?

— Falou.

— Essas crianças de Fairfax... Notícias correm rápido por aqui. Estão todos falando deles.

— É, eu percebi. — disse baixinho.

— Tome cuidado, sim? O mundo é cheio de gente ruim.

— Vou tomar.

— Joey. — O moço finalmente me chamou. Andei até ele e peguei minha comida.

— Tchau, Joey! — disse o policial.

— Tchau! — respondi, olhando para ele pela primeira vez.

(não me reconheça não me reconheça não)

Continuei andando. Sai da loja e aumentei o passo. Logo eu estava na nossa casa temporária.

Runner 💫 Corbyn Besson Onde histórias criam vida. Descubra agora