...quando as luzes vermelhas e azuis que refletiam nas paredes me acordaram. Era a polícia. A sirene não estava ligada, provavelmente pra não chamar atenção ou nos acordar, mas eu tenho sono leve. Ao contrário de mim, Hannah dorme que nem pedra.
Era isso. Seriamos pegos. Eu estraguei o plano que Hannah levou a vida toda pra por em ação em quatro dias.
— Hannah! — disse, tentando a acordar — Hannah, acorda, minha filha, vamo!
— Dá pra parar?!! — gritou. Olhou em volta e viu as luzes. — O que é isso? Você me fez uma festa?!
— A polícia.
— Polícia?! Por que a polícia me faria uma festa?
— Hannie, volte ao normal! Eles nos acharam! O que fazemos agora?
Ela se sentou e olhou pro nada, tentando pensar em alguma coisa. Ou talvez estivesse dormindo de olhos abertos...
— Hannah!!
— Pulamos a cerca, corremos até a estação de trem, entramos em um vagão de carga e descemos no Tennessee. Vamos.
— Pera, o que...
Ela se levantou, pegou algumas coisas nossas que estavam espalhadas e colocou na mochila. Corremos pra porta dos fundos bem na hora que alguém começou a se aproximar da outra porta.
— Crianças, fiquem onde estão. — a porta ainda não tinha sido aberta e podíamos correr, mas Hannah ficou parada.
— O que você está fazendo?!
— Ele mandou...
— Corre, mulher!!
Segurei seu braço e corremos pra porta dos fundos. Fiz um apoio com as mãos pra que ela pudesse pular a cerca com mais facilidade e dar impulso. Como eu iria subir era problema meu...
O policial já estava na sala. Eu me afastei um pouco, o que foi preocupante por causa do mato alto, corri e pulei. Segurei o topo da cerca e literalmente me joguei pro terreno do vizinho bem na hora que o policial chegou onde eu estava.
— E agora? — perguntei, me levantando.
— Agora a gente corre que nem o flash!! — ela gritou e fez isso. Correu tão rápido que fez até vento. Fiz o mesmo e a segui sem me preocupar pra onde, porque ela sabia exatamente onde estava indo. A estação era perto e o trem já estava vindo. Esperamos ele parar completamente e pulamos em um vagão de carga aberto.
Quando nós conseguimos entrar no vagão, foi um alívio pra mim. Eu jurava que seríamos presos e levados de volta pra Fairfax. Do nada, Hannah deu um grito, me assustando.
— Eles estão vindo! Vai logo trem!!
Ela deu uns pulinhos como se aquilo fosse ajudar. Ironicamente o trem começou a andar, mas ainda lento. Os policiais vinham correndo e gritando pra que parassem o trem, mas óbvio que não pararam, e logo estávamos a quilômetros por hora e muito longe deles.
— Isso foi... — comecei.
— Incrível!! — Hannah gritou, muito feliz.
— Eu ia dizer assustador, mas isso serve.
Ficamos em silêncio, tentando controlar a respiração causada pela correria.
— Ok, o que fazemos agora?
— Nada, como sempre. Pode dormir tranquilo, só vamos descer quando estivermos bem longe de Ohio.
— Meu sono foi embora.
— O meu também...
Ela se sentou entre algumas caixas de madeira que estavam espalhadas pelo vagão e pegou alguma coisa em sua mochila que não vi o que era. Eu me deitei e usei minha mochila de travesseiro, não que eu fosse dormir agora, mas sabe quando você deita na sua cama de noite e é nessa hora que seu cérebro começa a criar paranóias e histórias loucas? A escapatória do silêncio da noite... E, nesse caso, do tédio. E também porque o trem balança e eu fico tonto.
Não sei quanto tempo fiquei lá pensando na vida, mas de repente Hannah diz algo baixinho que eu não entendo.
— O quê?
— Ela vai fugir.
Hannah estava sentada com os joelhos dobrados e olhava fixamente suas coxas. Me sentei e a olhei, sem entender nada.
— Quem?
— Quem o quê? — ela olhou para mim, confusa.
— Quem vai fugir?! O que você está olhando ai?
— Nada.
Me aproximei e vi que era um livro. Ou melhor, um caderninho.
— Trouxe o diário da Kate?
— Desculpe, ela disse que queria sumir e eu preciso saber se ela vai! Acho que ela vai fugir de casa.
— Por causa do irmão dela?
— Não, olha. Aqui. No dia 26 de Novembro de 1943. Só tem quatro frases.
Me sentei ao lado dela pra poder ver o livro também.
— "Algo aconteceu. Algo ruim, muito ruim. Preciso sumir daqui, ir embora. Pra sempre". Ela quer dizer fugir, não é?
— Pode ser...
— Se ela fugiu, essa deve ter sido a "carta de despedida" dela. Sabe, como quando alguém comete suicídio e deixa um bilhete... O estranho é que essa é a única coisa da casa que nos conecta àquela família. A única coisa que eles parecem ter deixado pra trás... Mas é tão importante! Por que eles deixariam lá?
— Talvez eles não o tenham encontrado.
— Não... As gavetas estavam vazias! Como podem não ter encontrado?
— Lembra em 13 Reasons Why? Quando a mãe dela quer que todos saibam da história da Hannah? Podem ter deixado pra alguém, como nós, o encontrasse e contasse a história dela.
— Só tem um jeito de descobrir.
Hannah voltou a ler os textos da Kate.
— Acho que não é uma boa idéia ler...
— Por que não?
— Sei lá... Acho que não vai te fazer bem...
— Quero saber porquê ela vai fugir e o que aconteceu com ela antes de escrever isso.
— Por que você pode saber porque ela fugiu e eu não posso saber porque nós estamos fugindo?!
— Porque a vida não é fácil, Corbyn.
Revirei os olhos e olhei em volta, na esperança de encontrar algo pra fazer. Só tinha caixas em cima de caixas. Fiquei de pé e tentei abrir uma delas. Foi mais fácil do que eu imaginei... e dentro não eram bombas como eu achei que seria. Eram...
— Frutas?
— Vamos levar algumas!
— Não vamos roubar o trem!
— Não é roubo, vamos pegar emprestado... e não vamos devolver... É por uma boa causa, Corbyn!
— Tá bom...
Mas antes que pudéssemos pegar qualquer coisa, o trem para de repente e nós somos jogados no chão.
— O que foi isso? — perguntou, se sentando e massageando a cabeça que tinha batido no chão quando caiu.
— Não sei...
Me levantei e andei até a entrada do vagão e olhei lá fora. Meu coração quase parou quando vi do que se tratava.
— Hannah...
Ela se levantou pra olhar também.
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Se preparem que eu vou fazer muito mistério nessa fanfic ainda!!
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Runner 💫 Corbyn Besson
FanficQuando Corbyn abriu a porta para Hannah naquela noite, ela disse que estava fugindo de seu pai. Ele não achou estranho, porque ela, desde pequena, vai à casa dele dizendo isso, mas dessa vez ela estava falando sério. Mesmo sendo amigos desde o útero...