— Hannah!
— Que foi, praga? — ela fica de joelhos no sofá e olha pra mim. — Você trouxe donuts!
— Trouxe. Tem quatro, vamos dividir igualmente!
Me sento ao lado dela e abro a caixa.
— Tinha um policial lá. Ele falou comigo.
— Nos entregou, Besson?!
— Não, mas talvez ele tenha me reconhecido.
— Não vamos ser pessimista, você estava disfarçado.
— Uma touca e um óculos? Será que é suficiente?
— Sei lá, é melhor evitarmos sair daqui por enquanto. Vamos ter que viver a base de salgadinho e água.
— E guardar dinheiro.
— É, isso também.
Terminamos os donuts em silêncio.
— Você podia ter pego o que vem seis, né, Matthew?
— Eu não sou feito de dinheiro, sabia, Rachel?
Ela fez cara de deboche e eu a imitei. Nós rimos e voltamos ao famoso silêncio.
— Uma vez eu li um conto do Stephen King que se chamava 1922. O cara matou a mulher dele, aí o filho dele fugiu com a namorada dele, que tava grávida. Eles ficaram em uma casa abandonada e morreram congelados, e os ratos comeram os olhos deles. — contou Hannah.
— Que história horrível.
— Acha que pode acontecer conosco?
— Primeiramente, vira essa boca pra lá. Depois, não estamos em 1922, não estamos no inverno, você não está grávida, e não matamos ninguém.
— É, verdade.
Silêncio. Por que ficamos tanto em silêncio nessa vida?
— Hannah, por que você jogou meu celular fora? Eu podia jogar Candy Crush quando estivesse no tédio!
— E quando acabasse a bateria? Dá no mesmo.
— O que faze fazemos agora?
— Quer explorar a casa?
— Por que não?
— Tá bem. Eu vi uma escada ali.
— Eu estava brincando!
— Vem logo! — ela segurou meu braço.
— Hannah, vai dar merda, vamos morrer.
— Deixa de ser medroso, Corbyn.
Fomos até o outro lado da casa, onde tinha uma escada. Quando percebi, já estávamos subindo. Os degraus faziam barulho conforme pisávamos neles. Sabe lá há quanto tempo ninguém sobe essas escadas.
— Ai, socorro, o que encostou na minha cara?! — gritou Hannah.
— Uma teia de aranha, menina, calma.
— Ai, credo.
No andar de cima, estava tudo meio bagunçado: algumas tábuas quebradas, vidro quebrado, pó, quadros jogados no chão; só um ainda pendurado na parede. O pó tampava a imagem, mas eu me aproximei e o limpei, revelando uma foto de uma família. Tinha um pai, uma mãe, uma menina e um bebê. Nenhum deles sorria. Usavam roupas daquelas que gente importante antigamente usava.
— Hannie, olha esse quadro.
— Sangue de Jesus tem poder. — disse ela, se assustando com a foto.
— Acha que eram os donos dessa casa?
— Pode ser... Olha isso.
Ela me puxou para um cômodo, que eu acho que um dia foi o quarto da menina. O papel de parede estava desbotado, mas dava pra ver que era rosa. Tinha uma cama sem colchão, um guarda roupa gigantesco e uma penteadeira. E, claro, Hannah foi fuçar nas gavetas da penteadeira.
Abriu uma, vazia. Outra, algumas presilhas e grampos. Na terceira, ela achou um caderninho. Hannah o abriu e leu o que estava escrito.
— "Este diário pertence à Kate Morgan". — virou mais uma página — "18 de Novembro de 1943" .
— 43? Talvez eles só gostassem das roupas antigas.
— É, acho que ela tinha uns 15 quando escreveu. "Hoje faz um ano meu irmãozinho nasceu. Ele se chama Harry. Eu não pedi um irmão, e se eu pudesse escolher tê-lo ou não, eu diria que não."
— Eu tenho um avô chamado Harry.
— Tem muitos Harrys no mundo.
— Continue lendo.
— "Meus pais só ligam pra ele. Harry pra cá, Harry pra lá. Harry o tempo todo. A Kate já é coisa do passado. Eu só queria sumir daqui. Pra sempre". — Hannah fechou o livro. — Fim. Vou guardar onde eu o achei...
💫💫💫💫💫💫
Hannah e eu continuamos a nossa exploração e encontramos um quintal no fundo da casa. O mato era muito alto, então não passamos da porta. Ficamos sentados nos degraus olhando as estrelas.
— Faremos isso pra sempre? — eu disse.
— O quê?
— Ficar se escondendo.
— Podemos deixar concluírem que morremos, e podemos viver como Joey e Phoebe. Recomeçar nossa vida. Ou você pode voltar e dizer que eu morri, fazer sua faculdade, viver sua vida e me deixar no seu passado. Pode dizer aos seus netos: "Eu conhecia uma garota um tanto estranha. Ela me arrastou para Ohio e lá ficamos até que ela morreu".
— Não vou fazer isso. Vou ser o Joey da sua Phoebe pelo tempo necessário, mesmo que eles não fiquem juntos no final da série. Pra sempre, se você precisar.
Ela sorriu e depois ficamos em silêncio, ouvindo as cigarras.
— Como você acha que sua mãe está? — perguntou.
— Muito preocupada, talvez sem dormir.
— Estamos ferrados. Talvez nos encontrem aqui. Temos que pensar em um novo esconderijo rápido.
— Cadê seu plano infalível?
— Vou ver o que tenho por lá.
Depois de uns quinze minutos, Hannah estava com sono e foi deitar no sofá. Eu disse que também estava, e demos um jeito de caber no sofá.
Dormimos de boas até às três dá manhã, quando...
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Runner 💫 Corbyn Besson
FanfictionQuando Corbyn abriu a porta para Hannah naquela noite, ela disse que estava fugindo de seu pai. Ele não achou estranho, porque ela, desde pequena, vai à casa dele dizendo isso, mas dessa vez ela estava falando sério. Mesmo sendo amigos desde o útero...