Mais um dia acabava de começar... eu acordei super disposta à ir para o meu estágio e na minha cabeça ecoava um pensamento como um mantra "hoje vai ser um bom dia". Acredito muito que você atrai aquilo que pensa, então sempre tento pensar muito positivo, por mais que às vezes eu diga coisas negativas, o meu pensamento sempre estará torcendo para que só aconteçam coisas boas.
Eu estava trabalhando em um laudo para uma empresa madeireira, identificação botânica e anatômica de uma espécie florestal de grande importância econômica. Eram quase 200 árvores a serem identificadas. Se o resultado do laudo desse a mínima porcentagem de erro, ou seja, se alguma das árvores que coletei as amostras não fosse do gênero o qual eles afirmaram para os órgãos ambientais, ia dar muita bronca... do tipo que gera multas altíssimas e até perda do documento que possibilita o engenheiro florestal de atuar na profissão. Nessa hora eu estava muito feliz por ser a pessoa que estava confirmando as identificações e não a engenheira que tinha assinado o projeto.
Na verdade, aquele trabalho tinha sido a minha fuga de muitas coisas naquela época.
Duas semanas antes eu estava fora da cidade trabalhando junto às minhas colegas da Empresa Júnior em coletar as amostras para a identificação. Trabalharíamos com uma árvore chamada Ipê. Que pra falar a verdade, é o amor da minha vida! É uma árvore tão linda que se fosse uma pessoa, eu casaria com ela.
Durante a viagem eu ainda estava namorando. Se bem, que, não parecia mais o mesmo namoro de 1 ano atrás... Eu sentia que apenas eu estava sustentando o relacionamento, e que por medo de ficar sozinha acabei prendendo uma pessoa à mim. Reconheço que em muitos momentos da relação eu acabei sendo abusiva por medo de que ela fosse que nem todas as outras que tinham 100% de liberdade comigo.
Como eu disse antes, ainda era assombrada pelos fantasmas do meu passado...
O cara que havia contratado a minha empresa era um verdadeiro gentleman, e cuidou de toda a equipe dando direito a inúmeras regalias, como o melhor hotel da cidade e liberando um motorista só para nós. Mas uma coisa tenho que dizer: a internet era péssima! E isso foi algo que fez eu e a minha ex nos separarmos mais ainda, pois das 7hrs da manhã até às 18hrs da tarde eu ainda estava na floresta coletando amostras, e quando chegava no hotel já era 20hrs e o wi-fi não ajudava, 3g não funcionava e acabávamos nos tratando com indiferença.
Ela sentiu esse meu afastamento... sentiu a minha ausência e percebeu que talvez fosse hora de colocar reticências na nossa história. E justamente no dia em que a internet estava boa, eu cheguei feliz pra contar pra ela como tinha sido o meu dia e também perguntar como havia sido o dela, recebi respostas curtas e vi que algo estava acontecendo... e na verdade, acabando...
Ela foi gentil comigo, de certa forma, ao terminar pacificamente. Eu não quis aceitar de início, pois o nosso relacionamento era do tipo que envolvia família e tudo. Okay, que nos víamos apenas nas férias pelo fato dela morar em SP e eu no PA... Mas, era algo que todo mundo achava que seria pra toda a vida. De ter casamento, filhos e etc...
Quando ela terminou, eu surtei... saí para a praça que ficava perto do hotel e acendi um cigarro. A noite estava quente e minha cabeça parecia girar. Eu chorei. Chorei como se quisesse que toda a dor que eu estava sentindo, saísse naquelas lágrimas. E então parei para pensar em tudo o que estava acontecendo. Ali, naquele lugar pouco iluminado, cheio de casais adolescentes me causando enjoo eu percebi que o meu namoro não era mais o mesmo fazia muito tempo... Ela já não se interessava pelas coisas que eu contava pra ela, eu já não perguntava sobre a faculdade dela e acabamos esfriando.
Sentada no banco mais afastado da praça, que ficava embaixo de um poste com a luz azul, eu me senti mais sozinha que nunca, aí eu pude pensar... E lembrei que tudo começou quando eu impliquei com os jogos de integração que ela participava, já naquele tempo a minha intuição dizia que aquilo ainda seria motivo para terminarmos, pois durante o ano passado o qual ela foi pela primeira vez, fez tudo o que eu havia pedido para não fazer e postou nas redes sociais. Eu não fiquei brava. Fiquei triste. Brigamos. Ela sumia. Só aparecia pra me avisar que estava se arrumando para ir para as festas. E eu em casa preocupada se ela realmente levava nosso relacionamento à sério.
A temperatura pareceu esfriar ali na praça, o cigarro já queimando no final, preso entre meus dedos. A chama acesa fazia aquele ponto ser a única parte mais quente do meu corpo. I
números pensamentos me invadiram e um deles era "se eu não tivesse ligado para esse evento, se não fosse tão paranoica e insegura... o INTERENF, não seria o elefante no nosso relacionamento". Mas intuição de mulher é uma merda né ?!
Pois esse ano ela iria como parte do comitê organizador e eu ainda não tinha superado o trauma do evento passado, mas estava aprendendo a perguntar sobre as coisas e permitir ela me mostrar que não era tão ruim assim. Porém, ela preferiu não falar.
Acendi outro cigarro e traguei a fumaça em meio a um suspiro. O vento frio da madrugada que se aproximava, ao passar pelo caminho das lágrimas em meu rosto, fazia com que eu sentisse o beijo gelado da solidão em minhas bochechas. O que de algum jeito foi reconfortante. Eu fechei os olhos e decidi não me torturar com aquilo. Caminhei pela rua de volta para o hotel e aproveitando a internet boa quando cheguei, baixei algumas músicas para ouvir no dia seguinte quando voltasse à campo para finalizar as coletas. Caí no sono ouvindo Los Hermanos.
Acabei dormindo por puro cansaço. Físico. Emocional.
No final da conversa da noite passada, eu e minha ex tínhamos decidido continuar a nos falar. Eu sabia que no início seria difícil eu me afastar tão rápido e pedi para que mantivéssemos a amizade.
Logo que desbloqueei o celular, tinha mensagem dela me dando Bom Dia, como se nada tivesse acontecido. Eu fingi demência também e respondi.
Acho que no fundo eu já tinha me despedido dela... Ainda tinha esperanças de voltar... Mas não obrigaria ela a fazer nada que fosse contra a sua vontade. Aliás, eu nunca a forcei a fazer nada que não quisesse. Pelo contrário. Mesmo não gostando de certas coisas, eu a incentivava sabendo que seria importante para ela.
O ruim era que eu tinha me acostumado com ela e apenas ela. Não tinha outra pessoa a quem recorrer quando precisasse. Não tinha amigos com quem conversar sobre o término, não tinha de quem ouvir qualquer conselho de que tudo ficaria bem... Então era eu por mim mesma.
Mal eu sabia que as coisas estavam por tomar um rumo totalmente diferente. A partir daquele dia, minha vida teria uma reviravolta que eu talvez nem consiga descrever nos próximos capítulos...
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Todas As Canções Que Me Lembram Você
Romance"Se fosse pra montar uma playlist perfeita na qual as letras das músicas se encaixassem com a nossa história e melodia, não haveriam canções o suficiente para descrever o que essa mulher me fez sentir em tão pouco tempo, e por isso só peço que ela l...