O Baralho

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A carruagem enfim parou. Pan teve a delicadeza de estender-lhe a mão para que descesse.

"Que gentileza." Comentou Lana.

O palácio estava da mesma forma que o vira da última vez. Belo, gigantesco, imponente. E vermelho.

De vez em quando, Lana divagava. Imaginava-se em outras vidas, outras realidades. Tinha curiosidade de saber... Se ela tivesse nascido em outro lugar com outras circunstâncias... Será que ela gostaria da cor vermelha?

Não conseguia acreditar que sim.

Os dois guardas de copas colocaram-lhe algemas rústicas. A guiaram para dentro do palácio puxando as correntes, como se fosse um animal exótico. Pan tomou a frente.

"Pan?" Perguntou a Lagarta. "Eu fiz alguma coisa errada?"

"Muito provável que sim." Respondeu. "Mas não é por isso que você está aqui."

Lana entendeu o que quis dizer. 'Ótimo. A Rainha quer dar uma palheta de seu poder à Corte, e eu serei uma das atrações.'

Depois de um tempo atravessando diversos corredores, os quatro pararam diante de um portão gigante - que davam para a sala do trono. Sala não, um salão gigante onde a Rainha proporcionava as maiores festividades.

Pan bateu nas grande portas. A barulheira da festa pareceu se silenciar, e a partir disto só se ouviu o berro agudo de Victoria:

"Deixe que entrem!"

Os portões se abriram. O salão, em contraste da maioria do palácio, era completamente dourado. Provavelmente para que o vestido escarlate e extravagante de Victoria pudesse se destacar ainda mais.

A multidão de vermelhos formou um corredor para que Lana e os guardas passassem. Eles cochichavam, surpresos. Não deveriam estar acostumados a ver alguém vestindo azul.

Lana sabia que não tinha a melhor fama do universo. A achavam estranha demais, misteriosa demais - afinal, sabia demais.

"Meu queridos súditos!" Exclamou Victoria, teatralmente. "Trouxe um entretenimento diferente hoje! A Lagarta, que tem os poderes mais sombrios e obscuros, poderá ler o futuro de quem tiver atrevimento para desvendá-lo!"

A plateia inicialmente se assustou, mas logo podia-se ouvir alguns aventureiros corajosos se vangloriando por tentar ver sua sorte. Outros se animaram por pura curiosidade.

'É lamentável o quanto Victoria simplifica a capacidade de meus poderes.' Pensou, por fim.

Óbvio que não podia ver o futuro. Afinal, o futuro não existe.

Mas Lana não se desesperou. Já estava acostumada a fingir que previa o futuro. Na verdade, o que fazia era analisar a aura das pessoas e ver o que vivenciaram ou sentiram até então. Sabendo disso, tentava supor o que aconteceria com elas. O trabalho era facilitado, claro, quando a Lagarta falava de formas misteriosas.

Simples assim. Não passava de raciocínio lógico. Mas como Lana havia acertado todas as vezes que fizera isto, sua fama de vidente havia se espalhado.

Os dois guardas, enfim, retiraram as algemas e saíram do salão. Nunca havia visto muito a utilidade nelas de qualquer forma, já que podia evaporá-las quando quisesse. Colocaram-nas em seus pulsos por puro fingimento. Os dois cartas, assim como a Rainha, só o fizeram pela sensação de controle.

Lana suspirou. Estava no centro do salão, e todos a observavam.

De uma distância segura, claro.

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