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Distrito Dongjak, Seul

Maio, 2017

A primeira semana daquele mês havia acabado e Ji Min mal podia acreditar que já fazia cinco meses que estava morando em Seul e que era um calouro em seu primeiro semestre na aclamada Universidade Nacional de Seul. Ele e sua mãe alugaram um pequeno e confortável apartamento perto da universidade e do novo serviço da mais velha, a qual, atualmente, mostrava seu sorriso fácil e feliz com maior frequência que há meses atrás; So Ra regozijava da sua liberdade e independência o máximo quanto podia agora. Ambos demoraram certo tempo para se adaptarem à rotina atribulada da vida na capital, entre a correria da mudança para o novo lar, as documentações necessárias para a matrícula de Ji Min na faculdade e do emprego de So Ra em uma modesta agência de viagens, os novos moradores de Seul foram, pouco a pouco, acostumando-se a morarem na cidade mais movimentada do país.

Desde a mudança para a cidade, no início do mês de janeiro, sua mãe ocupava os dias de folga do trabalho com arranjos pela casa, para deixar o ambiente cada vez mais com aparência de "lar", ou, então, em passeios para conhecer mais os distritos próximos. A mulher transbordava alegria, tanto por se ver livre de um casamento infeliz quanto por estar longe de Busan, cidade na qual tinha certeza de que seria comentada por todos que a conhecessem por ser "uma mulher divorciada"; a Coréia do Sul ainda se mantinha atada a muitos de seus preconceitos e do conservadorismo pesado. Contudo, por outro lado, Ji estava quase que completamente o oposto de sua mãe, por mais que o apartamento fosse bonito e a UNS realmente uma universidade incrível, ele ainda se remoía por tudo o que deixou para trás, em Busan: Jeong Guk e as lembranças do que viveu por lá, da infância até o ano anterior, dos momentos bons aos ruins. Park admitia, até os últimos e tristes dias que teve com o ex-namorado e amigo faziam falta, mesmo que doesse quando relembrava das mentiras que ouviu do Jeon, das lágrimas do mesmo que se dizia arrependido, da hora da despedida...

Sentia falta da presença do seu dongsaeng, de conversar e sorrir com ele.

Ji Min ora ou outra se pegava arrependido por ter imposto o total afastamento do Jeon, sentia falta do amigo e do namorado sempre presente e carinhoso por perto, sentia necessidade de saber se Guk estava melhor do que na última vez em que se viram na estação de trem, queria ligar para o mais novo e pedir desculpas por abandonar ele em um momento tão doloroso para ambos, queria voltar no tempo e se impedir de aceitar a falsa confissão de amor de Jeon... Queria tantas coisas e se via paralisado por pura covardia. Sabia que voltar no tempo ou apagar certas memórias eram desejos impossíveis, entretanto, tinha ciência de que poderia muito bem pegar o celular e ligar para Jeong Guk, dizer ao seu dongsaeng que sentia muito e que queria mais que tudo voltar a se comunicar com ele. Conversava frequentemente com Yoon e Ho Seok sobre o assunto, sempre rondando a possibilidade de estar fragilizando ainda mais a sua relação com Jeon ao se afastar abruptamente daquela forma, colocando na balança e pesando a sua própria mágoa e a mágoa do ex.

Ele se sentia envergonhado em relação a certos momentos que forçou com Jeon quando começaram a namorar, a raiva por ter sido enganado também sempre esteve presente desde que percebeu que seu namoro estava muito aquém de ser verdadeiro, assim como o medo de perder a pessoa que lhe era mais cara em sua vida; paralelos a estes sentimentos, havia angústia no peito de Ji Min, pois, relembrando os vários momentos amorosos que compartilhou com o mais novo, também conseguia identificar sinceridade no olhar do outro, mesmo que não fossem muitos os momentos, havia, sim, verdade nas palavras de Jeong, e sua agonia se alimentava da imagem de um Jeon Jeong Guk chorando na despedida, pedindo desculpas por algo que, definitivamente, não era inteiramente sua culpa.

E com esses dilemas diários, Park conciliou sua nova rotina de estudo puxado entre um trabalho de meio período e as diversas mensagens sendo escritas e deletadas para o contato que ainda permanecia em primeiro na sua discagem rápida; sentindo-se sufocado pelo peso de suas próprias decisões e pelo desejo de superar seu ressentimento para com Jeon, pois, embora acreditasse piamente que sempre amaria seu melhor amigo de forma íntima, Ji Min reconhecia que antes de tudo — muito além da saudade, do remorso e do pesar que o dominavam — ele carecia de um tempo apenas dele para sanar as incertezas e os receios que a novela que ele e Jeon criaram suscitaram em si para se estabilizar emocionalmente, a fim de ser capaz de recomeçar seu relacionamento com o mais novo de maneira saudável e mais esclarecida, seja para permanecerem como os amigos que sempre foram ou para, quem sabe, darem um passo realmente franco em uma relação de amor conjugal.

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