Após isso súcubos some novamente indo para algum lugar do submundo ou para a mente de algum infeliz. Fico sentado na cama com uma vontade enorme de chorar, por lembrar de meu passado, por meus pais, pelo Dr. Licon e até mesmo por Nic, aquele velho besta que teve sua última noite alegre com um babaca de zelador. Mas acho que fiz o que qualquer um faria no meu lugar, proporcionei aquele velho um último sorriso. Pego uma calça preta uma blusa da banda Nirvana do álbum nevermind e calço meu All Star de cano longo também preto antes de sair do quarto. Nesses três dias que se passaram resolvi morar com Scar. Deixei para trás o bairro onde eu havia renascido como Sr. Müller, onde havia abandonado a minha nacionalidade brasileira. Umas semanas antes do doutor morrer ele teve a bondade de mudar toda a minha documentação, fazendo assim eu me tornar oficialmente um caipira inglês. Durante dois meses aprendi inglês naquele hospital, foram os únicos meses onde eu realmente me senti bem, me sentia renovado, não sentia raiva das pessoas. Continuava trabalhando no setor de câncer, sempre fazia amizade com os pacientes terminais. E quando a mãe morte os vinha arrebatar eu só fingia que eles haviam retornado as casas para seus familiares. E era assim que eu passava os dias com meu sorriso inabalável. Porém naquela noite, naquela maldita noite eu não pude ir para o hospital, acometido de dores e ânsia de vomito o doutor foi em meu auxílio. Antes não tivesse eu comido aqueles frutos do mar, não haveria necessidade de ele ir me ver e ainda estaria vivo. Tudo isso não teria ocorrido. Começo a vagar sem rumo, perambulando até a casa de Scar perdido em meus pensamentos arrastando me igual a um zumbi, numerando. Anne havia me visitado, e segundo ela – a meu pedido – já não estava mais na residência. Rodrigo havia sido morto, além de meus pais que estavam mortos a três anos e meu irmão mais velho a quatro anos. Eu estava claramente perdendo a minha sanidade mental a conta gotas. Scar ao me ver andando pela casa desnorteado.
– O que houve Hide? – ela indaga curiosa e com uma leve preocupação no tom suave de sua voz.
- Nada Scar, – respondo sem conseguir esconder a frustração – só pensando no quão ferrado que sou, todas essas percas, meu irmão mais velho, um ano depois meus pais e agora o Rodrigo me faz questionar: será que joguei merda na cruz? – Falo contendo as lágrimas e me sentando no chão.
– Calma Hide, há um propósito maior. Tudo que está acontecendo com você será usado mais à frente, lembre-se: nada se perde nessa vida tudo se transforma, então, se recomponha logo e dê um jeito em você, vá e mostre quem és de verdade, mostre o demônio que vive aí dentro!
Após ela ter dito aquilo, sinto algo dentro de mim. Como se aquelas palavras tivessem acordado realmente um demônio que à muito residia aqui dentro, que estava esperando por algo ou para ser mais exato, por aquelas palavras. Olho para Scar, respiro fundo e tomando coragem a beijo com ferocidade. Após isso, saio da casa dela e vou andando em direção a um boteco para comprar os seguintes itens:1 maço de cigarro
1 litro de vodka
5 velas
4 metros de linha vermelha
5 chiclete
1 isqueiro preto?Após comprar todos os itens puxo um cigarro, coloco em minha boca e o acendo. Dou uma boa tragada no cigarro Marlboro e solto um fio longo de fumaça. Saio andando atrás de um local abandonado para começar o meu fim e dar o inicio ao fim do mundo. Fico vagando pelas ruas e perguntado para alguns moradores de ruas aonde teria um local completamente abandonado e todos me apontam para o mesmo lugar. Um prédio completamente destruído pelo tempo, pelo o que ouvi, os antigos donos tinham o vendido para uma empresa que faliu um mês depois da compra, assim o imóvel ficou ali sem receber nenhum tipo de concerto simplesmente aos cuidados do sol e da chuva. Passo por uma brecha que há entre o portão e ao adentrar a residência, pelo o que vejo, tenho a impressão de que já estive ali a muito tempo, tudo muito familiar, cada lugar daquele terreno, cada falha e saliência me dava a impressão de já ter morado naquele lugar. No entanto, deixei de lado todos esses pensamentos e fui para o local aonde eu achei mais apropriado para o ritual, entrei e fui subindo, vasculhando tudo. As paredes me davam um certo tipo de conforto e já estava tão cansado de viver, de trazer tristeza para as pessoas. Subi as escadas deixando de lado os sentimentos, mas não cessou, tornei a minha antiga vida. Esquecendo de Hide Moss, eu era novamente Diogo Moss, o brasileiro ferrado que perdeu tudo em um ano. Chego na parte mais alta do casarão e dobro a esquerda seguindo por um corredor onde no fim de materializa uma porta semi-corroída pelos cupins, ao abrir vejo um quarto, provavelmente de um jovem no auge dos vinte e três anos. Perfeito. Começo a limpar para começar o meu fim, puxo mais um cigarro e coloco em minha boca mais não o acendo, apenas o deixo ali como se fosse uma metáfora. Após limpar uma boa parte da poeira com as mãos, retiro tudo da sacola e coloco no chão.
Primeiro eu organizo a linha para que tome a forma de um pentagrama, depois de coloca as velas em cada ponta do pentagrama, tomo o equivalente a dois goles da vodka antes de fazer um pequeno corte em minha mão. Derramo uma boa quantidade de sangue no centro do pentagrama para evocar aquele que me queria. O príncipe, esposo de Lilith, o primeiro caído e pai dos pecados, pai da maior legião, o antigo portador da luz, antigo braço esquerdo de Deus. Lúcifer, o príncipe das trevas. Após ter recitado a canção profana e ter feito a oferenda de meu próprio sangue e alma ele aparece em sua forma humana. Esta portando um terno negro, calça e sapato social negros como uma noite sem estrelas. Lhe peço para que se apresente em sua real forma. Com isso seu corpo inteiro começa a pegar fogo e a derreter. Sua pele se transforma e uma massa homogênea de carne e sangue dando forma um corpo bem maior com asas. Diferente que nos é apresentado pela concepção humana Lúcifer não tem chifres e muito menos calda, ele tem um corpo másculo e forte com asas brilhantes, um sorriso acolhedor e um olhar desafiador. O encaro enquanto ele completa sua mudança sem desviar os olhos dos meus.– Então és tu Hide, o mortal apaixonado por minha esposa? – ele vocifera para mim. – Já não basta que eu tenhas te salvado da morte três anos atrás? Livrado te de um vendedor de escravos logo quando chegastes em Dakota e ainda queres tu transar com minha esposa ser desprezível? Responda-me mortal!
– Não estou aqui para vos dizer lhes minhas vontades sexuais, não conheço vossa esposa, disso tu podes ter certeza, mas vamos ao que lhe interessa, Oh SER DAS TREVAS. – digo essas ultimas palavras com um tom de deboche caindo em seguida em uma crise de risos.
–Cala-te mortal! – ele rugi me fazendo engasgar. – A única coisa que eu precisava de vós era isto, precisava de teu sangue imundo, sangue de mestiço. Nem demônio nem anjo, mas contendo a linhagem de ambos os lados
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Batalha entre o céu e o inferno
Mystery / ThrillerHide é um jovem de 18 anos que foi tentar fazer uma nova vida em uma cidade pacata na Dakota do Sul, porém tudo começa a dar errado um certo dia.