Mi Corazón Es Tuyo

Capítulo 1

Estou voltando para Buenos Aires com meus pais. Fui para Madrid visitar a minha mãe e agora a trago para morar com a gente na nossa casa, onde ela morava antes de ir embora.

Mal cheguei lá e minha mãe já quer me matricular numa escola de música e eu nem tenho talento para isso. Durante toda a viagem, minha mãe que é uma cantora muito conhecida e que tem uma voz maravilhosa, me preparou para fazer a prova de ingresso nessa escola, mas eu duvido muito que eu consiga passar. Se existe algo que eu consiga fazer muito bem – e que, certamente, seria uma das melhores áreas para mim – são os cálculos. Desde muito pequena eu tenho uma paixão incrível por matemática e acho que é tudo graças ao meu pai. Ele é engenheiro, dono de uma grande empresa de construção civil e sustentável, e sempre me ensinava um pouco quando podia.

Meu maior sonho é ser como ele e fazer o que ele faz. Não é segredo para ninguém que a construção civil é um dos setores que mais poluem o meio ambiente e ver que o meu pai projeta construções de grande porte, se preocupando com a sustentabilidade, é realmente uma inspiração.

Quem não vai gostar muito de saber disso é a minha mãe. Ela colocou na cabeça dela que eu tenho que ser uma artista como ela e se eu disser que quero fazer algo como o meu pai faz, ela vai dizer que é manipulação dele. Isso não tem o menor sentido. Eu achava que tinha o direito de criar os meus próprios sonhos.

Essa discussão sobre o meu futuro ocorreu durante todo o nosso período em Madrid. Foram oito meses vendo meus pais discutindo, o que eu já não via há muito tempo visto que eles se divorciaram e passaram a morar mais de 10.000km de distância um do outro. Agora eu sinto que vou ter que ser obrigada a aguentar essas discussões por mais tempo já que ela vem morar com a gente.

Mal posso esperar para voltar a respirar os lindos ares de Buenos Aires. É como se eu tivesse passado anos fora. Sei que quando eu voltar, tudo vai estar diferente. Lá vai ser outono. Uma parte das árvores do bosque vai estar sem folhas, não vai haver flores no jardim, vai estar frio, mas nem vai chover. Quando eu fui embora era inverno.

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– Acorde Cecília, nós já estamos atrasadas – falou minha mãe, me sacudindo de um lado para o outro na cama.

Abri os olhos devagar e olhei para o despertador. Seis horas e quarenta minutos antes do meio-dia. O que ela queria a essa hora? Balbuciei várias vezes que estava com sono e que queria dormir mais, mas de nada adiantou. Não me lembro de como ela costumava me acordar quando eu era criança, certamente de uma maneira que estressasse menos. Se eu ficar de mau humor hoje, a culpa é da dona Maria.

– Atrasadas para o quê? - esfreguei os olhos e me sentei na cama. Não queria imaginar o estado do meu cabelo agora. Deve parecer um ninho.

– Hoje você faz o seu teste! – cantarolou e eu tive muito medo disso. Como vou fazer uma prova e só descubro na hora? De verdade, nem o teste surpresa do carrasco professor de química me deixou tão assustada.

Ela me explicou que tinha feito a inscrição para o teste ontem mesmo assim que chegamos a Buenos Aires. Enquanto ela contava essa história, eu pensava em qualquer desculpa esfarrapada para não ir, nem que eu tenha que inventar uma febre, um enjoo e coisas desse tipo.

– E não adianta dizer que não vai fazer porque eu posso remarcar até você ir. Também não recomendo faltar. O ano letivo já começou e você não vai querer se atrasar no conteúdo. O Germán me disse que você é bastante comprometida com o que faz e eu espero muito ver isso. – completou seja lá o que ela estava dizendo e saiu.

Levantei-me ainda com bastante sono, fiz a minha higiene matinal, tomei um banho rápido e me vesti com a primeira roupa que vi – e que não estava amassada. Deixei meu cabelo solto. Antes, eu só andava com ele preso porque eu não tinha paciência para arrumá-lo, mas agora que o cortei na altura do ombro ficou bem mais fácil. Ele é ondulado, mas passei a chapinha para disfarçar o ninho que estava. Passei tons leves de maquiagem, peguei a minha bolsa e, antes de sair, me olhei no espelho: eu estava muito diferente desde a última vez que estive aqui.