Capítulo 8.Até que a morte os separe

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8. Até que a morte os separe

Os raios de sol invadiram o quarto quando abri meus olhos, era Ana abrindo as cortinas para me acordar.

— Vamos lá hoje é seu dia!

Não sabia como fazer isto, acabar com tudo, mas seguir a diante não era uma opção. A empolgação de Ana só me fazia ficar com mais peso na consciência.

— Ana, eu acho que não posso fazer isto, é um erro...

— Clar, acalme-se, é normal noivas ficarem assim no dia do casamento! Vamos, tome um banho com muitos sais e já vai relaxar. — ela era alheia ao fato de sua própria mãe ter feito o que fez, ela achava que era um simples nervosismo pré-casamento.

Ana estava animada e polvorosa com o evento cerimonial, e eu não conseguia acabar com sua alegria.

Entrei na água quente repleta de sais e um cheiro agradável invadia o banheiro. Ana preparou o banho com carinho e dedicação. Deixei meu corpo relaxar.

Tentei focar em alguma ideia para acabar com tudo, no entanto eu só estava puxando mais corda para me enforcar.

Quando a água deu sinais de estar esfriando, levantei peguei a toalha, e sequei meu corpo. Vesti o roupão que estava a minha espera.

Voltei ao quarto onde ela estava com todos os preparativos a postos.

Uma bancada improvisada em cima da mesa do quarto de hóspedes continha uma infinidade de apetrechos. Ana veio em minha direção enganchando em meu braço me conduzindo até a cadeira reclinável que estava no meio do quarto.

— Clar, vamos ser parentes, eu sempre quis ter uma irmã sabe, vivendo com homens sempre.

— Entendo, não tenho irmão, sou filha única.

A felicidade dela era radiante, como ia acabar com ela ali? Eu tinha que fazer isto direito, até o sim eu tinha tempo, claro o sim ele poderia virar não.

O cabeleireiro, a costureira o estilista e maquiador, todos chegaram, eu não conseguia achar uma brecha, um momento em que eu pudesse por fim aquela tortura.

— Querida, sorriso no rosto, sabe que o dia do casamento é o mais feliz para a mulher! — Jean, o cabeleireiro, estava falando enquanto ele encaixava a trança no coque. O penteado que me pareceu perfeito na prévia agora parecia que era errado.

— Sim o dia mais feliz. — respondi sem humor.

Meu estado constantemente era confundido com nervosismo o que ninguém entendia era que isso tudo era um erro, um erro enorme.

Ana correu com o espelho a minha frente tentando me arrancar um sorriso, porque até então minha expressão era sem vida.

A maquiadora reclinou a cadeira enquanto Jean foi arrumar os cabelos de Ana, fechei os olhos e deixei as imagens e as vozes da noite passada invadirem minha mente já conturbada com tudo.

O que Hermony realmente fez a Austin foi algo deplorável, ela pegou uma criança traumatizada e o usou ensinando a ele o mundo de dominação. Não era somente o fato de que ela havia o seduzido ou até mesmo cometido um crime diante a moral, mas o pior estava em ela ter o incentivado a achar que precisa disso, precisando dominar tudo a sua volta.

Enquanto eu sentia as pinceladas levemente em minha face eu fiquei ligando cada situação em que vi Austin lutar por controle ou quando ele lutava contra isso como ele ficava instável e vulnerável, eu não aguentaria essa inconstância.

Assim que ela terminou olhei novamente no espelho, era o meu rosto envolto em uma máscara de beleza, a trança caía na lateral do meu ombro esquerdo, meus lábios e bochechas mais corados e os olhos marcados realmente estava ali uma noiva, porém faltava a vontade de estar naquela posição.

Diário de uma vida duplaOnde histórias criam vida. Descubra agora