Eu estou sempre neste crepúsculo

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Quando a mãe de Juan me leva até em casa, já é tarde e seguimos o caminho todo conversando especialmente sobre faculdade e mercado de trabalho, até que descubro que ela é contadora, e pergunto mais sobre sua profissão, interessada.

Quando estamos quase chegando, ela fala sem tirar os olhos da pista:

-É a primeira vez que vejo Juan tão interessado em alguém, Carol. E vou te falar agora, porque apesar de ele ser meu filho e eu ama-lo, ele é uma pessoa difícil de lidar.

-Como assim?- Pergunto curiosa

-É que quero que você não seja babá de nenhum homem adulto já. As pessoas acham que nós mulheres podemos corrigir e magicamente educar qualquer homem que entre em nosso caminho. Não é assim Carol, eu demorei muito para perceber e não quero que isso aconteça com você. O Juan é um pessoa difícil e não quero que você perda seu tempo tentando mudar ele, isso é algo que ele tem que fazer sozinho.

Fico olhando-a incrédula e ao mesmo tempo surpresa, a mãe de Juan agora é meu principal exemplo de mulher bem decidida e independente. Ao notar meu silêncio, ela fala sorrindo:

-Relaxa Carol, só falei isso porque você é a primeira menina que ele insiste levar em casa, imagino que você seja diferente. E pelo que vi realmente é.

Quando finalmente cheguei em casa, minha mãe estava me esperando sentada no sofá. Levei o maior sermão da minha vida e assim que ela acabou subi correndo para o quarto, cheia de vontade de chorar. Mas depois de um banho quente, me tranquilizei e decidi dormir.

Quando estava prestes a entrar em um sono mais pesado, escuto a porta de meu quarto se abrir delicadamente. E decido fingir estar dormindo caso seja minha mãe. A pessoa senta de um lado da cama e passa as mãos pelo meu cabelo, e definitivamente não é minha mãe. Até que escuto sua voz em um ruído baixinho, quase inaudível:

- Me desculpa por não ter te esperado.- Diz Alan

Alan não pede desculpas, nunca, e para ninguém, nem mesmo minha mãe. No outro dia de manhã, durante o trajeto do ônibus, fiquei pensando se realmente foi real ou se minha mente cansada colaborou para esse sonho, porque em geral meus sonhos eram experiências muito vívidas e fantásticas. Foi um sonho. Meu irmão só ama ele e sua maconha, do resto mais ninguém.

É um dos raros momentos que chego cedo na escola  o suficiente para tomar café da manhã, compro alguns pães de queijo e um copão de café e sento-me no pátio sozinha, dou uma olhada no celular e vejo a mensagem do meu chefe que diz para mim tirar a semana de folga, pois o escritório está passando por reformas. A semana começou bem demais para ser verdade, e me pego sorrindo para o nada. 

Vejo Juan sair de seu grupo de amigos e vir em minha direção.

-Ei Carol, percebi que não tenho seu celular.- Diz ele 

Vejo o olhar das meninas da minha sala, inclusive o de Ana, todos focados em mim e em Juan. Sem me esperar responder, ele tira o celular de minhas mãos e salva seu número, mandando uma mensagem no whatsapp para ele salvar o meu mais tarde.

-Bom dia para você também.- Digo revirando os olhos.

-Depois te ligo. Vai fazer algo hoje?- Diz ele sem se preocupar com os olhares.

Foi por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora