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— Tá, ok! Mas a Terra não é plana! – grito com Aaron pela milésima vez nessa tarde. Estamos no meu quarto, encarando o teto e discutindo sobre o fato de ele não aceitar que a Terra é redonda.

—Claro que é, minha filha! Como você explica as inundações? Os mares? – fala e se levanta sentando de frente para mim.

— O primeiro ponto se explica com o excesso de água em um lugar sem retenção e o segundo com a gravidade. – encaro-o arqueando uma sobrancelha. Ele pode ser muito teimoso quando quer.

Mesmo nesse meio tempo, eu ainda não tirei a conversa que tive com Shawn da minha cabeça. Lembrar do Samuel me dói até hoje.

Nós realmente éramos um grupinho estranho. Uma nerd, um estranho, um popular e um metido a bad boy; porém, mesmo com todas as razões para não darmos certo, nós funcionamos. Até a morte do Samuel.

Mesmo quando éramos crianças, esses rótulos nos seguiam por qualquer canto que fôssemos e quando Samuel se foi, bom, ele levou consigo toda a cola que nos segurava. Shawn assumiu o seu verdadeiro posto e Aaron se afastou de nós. Até o ano passado.

Quando voltamos a nos falar, pensei em ir conversar com o Mendes também, o que era natural; mas a forma que ele falou comigo e tratou Aaron me fez desistir de realmente tentar nos aproximar.

— Cassy?

—Hum?

— O que você tem? - pergunta passando a mão nos meus cabelos e me olhando com um rosto cheio de preocupação.

— O que? Nada. – respondo olhando para ele e dando um meio sorriso – Só estou pensando nesse ano. Ano novo, vida nova, certo?

— Certo..? – me olhou com uma cara desconfiada e logo engatou outro assunto no meio.

☀️
Vocês já pararam pra pensar que ler é uma das melhores formas de viajar? No momento eu me encontro em Hertfordshire e datado lá pelos anos 70, se não me falha a memória. Orgulho e Preconceito é, e sempre será uma das melhores obras já escritas. Não tenho dúvidas.

O fato de estar sentada em um grande sofá em uma biblioteca, faz o meu dia ser 300% melhor e o fato de não ter ninguém esperando ou alguma obrigação da escola, torna tudo ainda melhor.

— Se importa se eu sentar aqui? – Um garoto de cabelos louros e olhos azuis - incrivelmente gato, devo ressaltar - perguntou apontando para o lugar vazio ao meu lado. — É que é o único lugar vazio.

— Claro que não, fique à vontade. – tiro meus pés de cima do sofá e sorrio de lado para o garoto.

— Orgulho e preconceito, huh? – fala e aponta para a capa – Literatura inglesa é realmente fascinante.

— Sim, de fato é realmente fascinante. Amo o fato da expressividade dos personagens e a forma como eles crescem durante a história.

— A senhorita tem total razão. Quase nunca encontro uma garota bonita que saiba realmente apreciar alguma obra. – sorri e estende a mão para mim – Lucas. Lucas Friar.

– Cassidy Walker. – aperto sua mão e sorrio de lado.

— Oh, então você é aquela garota que tem um blog sobre ficção científica e livros? Eu sigo você! – fala com uma leve empolgação na voz e eu concordo com a cabeça.

— Essa aí mesmo. Eu e meus 15K de seguidores agradecemos a sua visita ao site e a colaboração!

— Não há de que, senhorita Walker! – rimos e ele se encostou no sofá — mas então, o que te trás aqui, em uma biblioteca em um dia de domingo?

— Bom... Eu não tenho nada pra fazer, nenhuma resenha de um novo livro ou filme.. então é. É isso mesmo. Nada para fazer. – Dou de ombros e vejo soltar um pequeno riso.

— Enfim, foi um prazer te conhecer, Cassy. Posso te chamar assim, certo? – pergunta e eu faço que sim com a cabeça – mas eu eu gostaria de te ver mais uma vez.

— Tipo um encontro? – fecho o livro e o encaro.

— Tipo um encontro. Pode me passar seu número?

— Com toda certeza, senhor Friar.
XXXXX-XXXX30. Faça bom proveito dele.

— Anotado, more. – rimos e ele se despediu.

Meu domingo não poderia ter sido melhor.

All the love.

blackmail || HIATUS Onde histórias criam vida. Descubra agora