Capítulo 3

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Entrei no prédio, Seu José abriu a guarita para mim, era uma visitante frequente dali.

Quem abriu a porta do apartamento foi dona Sara, mãe de Clara, e minha professora de português do quinto ano. Ela não era muito alta, mas muito bonita, sorridente e agitada, nunca parava em casa.

Entrei, no sofá estava Cecilia, a irmã, tinha doze anos, uma figura, minha companheira de espera enquanto Clara se arrumava, quando íamos sair. Assistíamos partidas de futebol e eu a levava quando jogava, ela amava esportes, mesmo não tendo muita aptidão para tal.

Quando eu entrei no quarto de Clara, ela levou um susto, rimos rapidamente e depois fui direto ao assunto. Tentei não pensar muito, só falar o que eu sabia, o que eu realmente achava e tudo que envolvia o Carlos.

Saiu tudo. Desabafei, falei a verdade, a traição, a "dada em cima" de mim, a mesquinharia dele. Tudo! Quando eu acabei foi muito bom, tinha 20Kg a menos em cima de mim. Foi um alivio tão grande estar sentada de frente para minha melhor amiga e ser sincera assim com ela, mesmo que numa situação tão ruim.

No silencio, depois que tudo já tinha sido falado, Clara olhou para mim, seus olhos me traziam medo, estavam vazios. Ela não tinha reação, ela amava aquele cara. Não sei e nem entendo como, mas ela o amava, e era muito forte para ela, muito importante. Não pude fazer mais nada a não ser abraçá-la.

E ela chorou, se desidratou, choramos juntas. Era muito ruim vê-la assim. Toda aquela alegria que ela trazia sumiu do nada. Eu não sabia se a culpa era minha ou do babaca do Carlos. Ele que tinha feito tudo. Tudo bem que fui eu quem falou para ela. Mas era necessário, e acho que a Clara entendeu.

Liguei para minha mãe, ela me deixou dormir lá. Tudo que Clara mais precisava era de apoio, muito brigadeiro, choro e descarrego. Depois dessa recuperação, recorreria à Ju, ela é maravilhosa para dar um 'up' em qualquer um depois de um termino, mas nossa amiga com coração partido teria que ir devagar.

Naquela noite vimos dois filmes, "10 coisas que eu odeio em você" e "Curtindo a vida adoidado", porque não só de romance vive um coração partido, mas também um clássico adolescendo dos anos 80. Fizemos brigadeiro (uma das melhores terapias pós-decepção), novas playlists, cantamos, dançamos e choramos mais um pouco. Meu coração estava quebrado por Clara, ela era a última que merecia algo assim.

Ela dormiu com a cabeça no meu colo, droga. Tinha que esperar ela se mexer para poder dormir. Depois de muita paciência, consegui levantar.

Fui beber água (porque haja doce naquela noite, meu Deus) e quando voltei tinha TRÊS chamadas perdidas no celular da Clara, li na tela e não soube o que fazer. Quando fui pegar o celular para decidir alguma coisa, ele começa a vibrar novamente:

Ligação recebida:
Carlos Amorzinho <3
Deslize para atender

Droga, droga, droga. O que que faço?!
Deixei até desligar e depois mandei uma mensagem [do celular dela]:

Eu: Oi, não posso falar agora. Não me ligue, quando resolver, irei te procurar. Até.

Feliz Ano NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora