Capítulo 13

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Precisaria estar 16h na Escola do Santos. Saio de casa quase 6h, chego na escola 7h20, saio 13h, Almoço lá perto até umas 14h e meia e pego o metrô até Praia Grande, onde fica a Escola do Santos. Chego 15h28. Tenho esse tempo para me trocar e me concentrar no treino. Acabo 18h40, outro metrô, e depois em casa. Nesse meio termo estudaria e faria os deveres. Assim seria todas as segundas, quartas e sextas. Nas semanas de jogo, que são ao sábados, não treinaríamos na sexta-feira. UAU, seria uma bela aventura, não seria?

No intervalo, enquanto estávamos sentados na mesa do refeitório, compartilhando um Doritos que a Clara trouxe, Gustavo interrompeu nossas conversas paralelas.

- Então, nem sei como começar. - Ju olhou para ele, encorajando-o - eu recebi uma bolsa do meu curso de francês e fui convidado para fazer um intercambio em Versalhes.

Todos olhamos admirados e um pouco surpresos. Ele prosseguiu.

- Ele começa em junho. E demora 6 meses... Então eu meio que vou sair do colégio. Mas não se preocupem, volto ano que vem.

Antes da gente começar a reclamar com ele, a Juliana cortou.

- E como o Gustavo já tinha comentado comigo antes, falei por alto com meus pais e eles ficaram super empolgados. Logo ligaram para uma agência e de uma hora para outra me perguntaram se eu aguentaria ir junto.

- Descobrimos também que nossos pais têm amigos em comum. O que ajudou na decisão e na aprovação dos dois - Gustavo completou.

- Então meio... Que estamos de partida! - Eles falaram juntos, num tom mais melancólico impossível.

Estava em choque. Claro que feliz. A oportunidade que eles tinham era única. Era um intercâmbio na França, oras. Mas mesmo assim. Eu iria perder dois dos seus melhores amigos.
Quem iria arranjar festas em cima da hora para todos. E quem iria deixar a Ju e os outros todos desconcertados com as piadas. Para quem eu ligaria quando quisesse festejar ou pedir uma dica de beleza. Quem arranjaria carona para todo mundo para irmos ao cinema.

De repente percebi a importância de Juliana e Gustavo na minha vida. Me vi com os olhos marejados e um tanto brava por eles nos abandonarem assim.

Teríamos mais uns dois meses, ou menos, para aproveitar cada momento em grupo.
Meu coração ficou apertado.

O sinal tocou e nos levantamos para ir para a sala.

No caminho, abracei a Ju. Ela era meu exemplo de amor e segurança. Apertei forte. Num gesto de tentar segurá-la para nuca mais soltar. Claro que em vão. Sentamos em nossos lugares. Logos seriamos soterrados de pensamentos filosóficos trazidos pela Dona Marcia, como se eu já não tivesse nenhum.

No ultimo horário, o professor de historia passou um trabalho sobre Arte Romana. Teríamos que fazer uma replica de alguma obra escolhida e explicar sobre ela. Não seria nenhum problema para mim, já manjava de deveres assim. Até ler no quadro, em caixa alta:

TRABALHO EXCLUSIVAMENTE EM DUPLA NEM EM TRIO NEM INDIVIDUAL
VALOR: 2 PONTOS NA MÉDIA

Maravilha.

Clara faria com David, claro. Já tinha visto Ju olhar para Gustavo. Quem me sobrara?Não tinha contado para ninguém minha discussão com Mateus, ou melhor, a discussão dele comigo. A gente nem se olhou direito nesses dois dias. Ele chegava de cabeça baixa sentava atrás dos meninos, quase inalcançável.

Ele também não ficou a pessoa mais feliz do mundo ao descobrir que faria o trabalho comigo.
Puxei uma cadeira para o lado dele.

- Er... Oi né! Vamos ter que fazer juntos então. Não quer primeiro falar alguma coisa sob...

- Coliseu.

- Como?

- Vamos falar sobre o Coliseu. É mais fácil fazer a maquete, a pesquisa a gente divide e mandamos por email. Tudo certo pra você?

- Ah sim... Claro, clar...

- Ótimo. Me avise quando puder ficar na escola para fazer a maquete. Um dia só será o suficiente.

O Sinal tocou e ele saiu voando, dizendo para a galera que o pai dele estava atrasado para alguma reunião.

Clara, David, Ju e Gustavo ficaram me olhando com cara de duvida, respondi com a mesma cara para eles, e sai também. Mas sem atropelar metade das cadeiras e das pessoas no meu caminho.

Não acredito que seria assim minha relação com o Mateus. Logo ele, que julguei ter se tornado meu amigo mais próximo. Me vi cansada, já iria perder o Gustavo e a Juliana. Agora ele também.Meu restante do dia seguiu conforme o planejado. Foi uma correria até chegar no treino, mas teria que me adaptar, e me acostumar com tudo aquilo.

Hoje seria o segundo treino para todas, menos para mim. Já que consegui a vaga só agora.Fiz alguns chutes individuais, algumas jogadas em dupla e trio e depois jogamos por uns 50 minutos. Notei que as pessoas não faziam muita questão de passar a bola para mim. Não por que eram fominha ou algo assim, até porque passavam para outras jogadoras, vi até uma ou duas jogadas que ensaiamos hoje. Era comigo, eu tinha alguma coisa, ou pelo vista, deixava de ter alguma coisa para ser tão excluída assim.

Quando acabou, no vestiário, me dei conta de que não tinha feito nenhuma amiga, foi meio triste pensar assim. Até que uma menina se aproximou, Mônica o nome - me lembrei dele porque era a capitã, e uma das preferidas pela treinadora, e com toda razão, ela era um espetáculo.

- Oi! Aurora,certo...? Então, queria lhe dar as boas vindas ao time. Sei que não parecemos muito amigáveis, coisa e tal... Mas é só dar um tempo. Ate por que né, tecnicamente você não deveria estar aqui, vai demorar um tempo para a galera gostar mesmo de você. Mas nada pessoal, relaxa. Tenho que ir agora, mas até sexto, Beijos!

No meio da frase, meu queixo já estava no chão. Não acreditei no que acabei de ouvir. Aquele "Você não deveria estar aqui " não parava de martelar na minha cabeça.

Nem reparei o tempo que fiquei encarando os armários, mas quando vi, acabavam de desligar as luzes.

- EI! - Gritei - Ainda tem gente aqui!

Mas pelo visto era só eu mesmo.

Liguei a lanterna do celular e saí catando minhas coisas. Quando passei pela porta do vestiário, tentando lembrar qual o próximo horário do metrô, um ser -uns 15 centímetros mais alto do que eu, cabelo enrolado escondendo um pouco os olhos castanhos claros, e com bochechas meio rosadas sem graça - sorriu timidamente:- Foi mal, achei que já tinham ido embora. Você é nova aqui né?

Feliz Ano NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora