Capítulo 11

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Olhei no espelho. A pessoa do outro lado estava acabada. Olhos inchados, nariz escorrendo e um belo par de olheiras. Nem me afetou. Usei o banheiro e deitei de novo.

Ao meio-dia minha mãe veio me acordar, um pouco surpresa de eu não estar pulando pela casa pela minha classificação. Tentei ser forte ao contar, mas minha tristeza foi maior, me derramei nos seus braços. Ela quase chorou junto, e jurou que mataria a gestão do Santos, dei um sorriso sem graça. Ela estava dando seu melhor.

Depois de mais ou menos uma hora, Ju e Clara estavam no chão do meu quarto, com um brigadeiro muito doce [ou talvez a minha vida que estivesse amarga demais].

Não chorei na frente delas, era só o que faltava. E embora o apoio que elas davam para mim, não entendem o peso do futebol na minha vida. Acho que nem eu entendo.
As meninas foram embora umas 19h. Estava mais exausta ainda. Tomei uma ducha, mas bem quentinha, coloquei meu pijama e fui assistir o jornal com minha mãe.

Recebi uma ligação um tanto inesperada. Meu pai.

Quanto tempo que eu não falava com ele, acho que a ultima vez foi nas férias, no ano passado ainda. Acho que agora ele estava no Chile, ou Bolívia, não lembro ao certo.

- Alô?

- Er... Aurora? É o Rafael, seu er... pai!

- Oi Pai!!! Quanto tempo, nossa! Aconteceu algo, tudo bem?

- Por aqui sim Aurora, estou no aeroporto agora, indo encontrar a Vanessa.

Respire fundo e ignorei. Ele continuou:

- Fiquei sabendo que a senhorita fez uma peneira para o Santos, UAU, Mas não foi dessa vez né. Mas relaxa querida, é assim mesmo. Estou mandando uma lembrança, deve chegar em umas duas semanas. Tenho que embarcar, beijo, te amo!

- Hãn...? Ok... também de te am... Pi Pi Pi

Desligou. Olhei para a mamãe, um pouco desconfiada, e fingi que nada aconteceu.

Era assim desde que eles se separam. 5 anos já. Nada de brigas, só separam. Um dia, simples assim. Fiquei com a minha mãe, até por que meu pai não tem moradia fixa, cada mês em um país. Acho que era esse o motivo da separação, mas passei a desacreditar, quando fui encontrar o Rafael em uma de suas vindas para o Brasil e lá estava ela. Alta, cabelo longo ruivo e um belo batom vermelho na boca. Era a Vanessa, ela não fazia por mal, mas, com ela, tive as conversas mais fúteis da minha vida. Não acreditei no papai, não conseguia acreditar nem no que via, não dei nem um ano para esses dois, mas já se passaram 4 longos anos. E pelo visto mais alguns. Mas tudo bem também, acho que foi melhor assim, talvez não para mim, mas a mamãe está bem mais radiante, mais leve. A dona Estela arrasa corações. Minha mãe era o máximo.

Pensar nesses desencantos de família nem me afetava mais, era rotina, era normal, era minha vida.

. . .

Segunda de manhã, mesmo com zero disposição de ir para aula. Fui quase empurrada da cama pela senhora Estela, que falou que se eu fosse me tornar uma pessoa melancólica, pelo menos deveria ser uma melancólica formada. Sorri e logo levantei.

Os meninos estavam uma graça, era cômico ver eles tentando não falar da ultima rodada do Brasileirão ou qualquer coisa relacionada ao futebol perto de mim. Decidi nem me importar, me isolei dos jogos ou qualquer coisa no final de semana mesmo, estava sobrando, algo raro em uma segunda-feira.

No quarto horário, no meio da sala recebi uma ligação de um numero empresarial, logo achei que "ganhei um carro, só bastava dar todos os meu dados para finalizar o premio", era só o que faltava mesmo. De qualquer forma, estava quase dormindo assistindo um documentário da vida marinha, pedi para ir ao banheiro.
Atendi no caminho mesmo, estava com medo de ser algo importante e não conseguir ligar de volta.

-Bom dia, senhorita Aurora Eulâmpio, por favor. - uma voz masculina quase rosnou para mim.
- Sou eu mesmo, o que deseja?

- Venho em nome da Equipe Esportiva do Santos, para comunicar a desistência de uma de nossas atletas escolhidas, que infelizmente, teve que se mudar para a Espanha. Mas isso não importa para você. O importante é que como você foi selecionada como posição 21, automaticamente você entra na vaga dela. Entraremos em contato nos próximos dias para o preenchimento da ficha por seus responsáveis. Boa sorte. Obrigado.

- Ok senhor, obrigada, muito obrigada.

Escapei até o jardim da escola. Apreciei o céu, um raio de sol brotou no meu rosto, quase simultaneamente junto com uma lágrima, duas e mais três.

'Você conseguiu entrar, agora permaneça, você não é como oas outras, você é você, agora prove que mereceu essa sorte (que eu mais chamaria de Deus)'

Entrei na sala no final do horário, com o olhar de reprovação do professor.

Quase joguei a notícia em cima deles. Meus amigos me abraçaram como se tivesse trago o hexa até eles.

Feliz Ano NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora