13 de Abril de 1912

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Era o turno da noite e os dois deram uma pausa de alguns minutos para dar um trago no cigarro, beber um pouco de água e ouvirem o som de mar.

No andar de cima ao lado da sala de máquinas, onde estavam os grandes geradores e transformadores de energia, havia uma espécie de uma pequena sala com janelas, que podiam ser abertas caso se quisesse, e alguns bancos para descansar.

Os dois estavam ali. Era uma sala de fumar, assim disseram os tripulantes que estavam em maior contato com os passageiros, e Naruto estava ali realmente para dar uns tragos. Os dois contemplavam as estrelas pelas pequenas janelas, que agora estavam abertas, e a cada sugada que dava no fumo preparado, Naruto suspirava de encanto por ver o céu noturno. Não havia ninguém ali que pudesse interrompê-los, então estavam de mãos dadas - hábito que adquiriram desde aquele dia - e perto um do outro.

-Eu amo o céu à noite. - Naruto sussurrou depois de um trago mais longo. Sasuke lhe fitou com alguma curiosidade. - Aquele monte de estrelas brilhando numa imensidão escura. Por isso trabalho em barcos: não há melhor lugar para ver as estrelas do que em cima do oceano, quando ele está em silêncio. - o seu bom amigo concordou. - É mágico.

-De onde eu venho, não vejo as estrelas. - comentou e Naruto ficou atento. - Não para vê-las por causas das outras luzes, as mais fortes, mas é lugar bonito mesmo assim. - sorriu pequeno.

-Um dia, quando estivermos ricos, me leva até o seu antigo lar? Eu adoraria conhecer as outras luzes. - pediu e Sasuke assentiu, apertando um pouco mais a mão que estava na sua. - Ouvi dizer que Nova York é tão iluminada que mal dá para ver as estrelas. - comentou e deu um novo trago no cigarro.

-Triste. - Sasuke sussurrou ao ver Naruto terminar de fumar e jogar a ponta num cinzeiro.

-Por que é triste? - perguntou.

Os dois se levantaram do banco onde estavam e foram até uma das janelas para observar o mundo lá fora. Tão calmo e tão silencioso. Parecia que em todo o universo só existia o Titanic deslizando por águas cósmicas, um gigante de ferro iluminado. Os únicos sons que se ouvia eram do casco longo e largo cortando aquele oceano escuri como uma navalha.

-As estrelas são lindas. - foi direto e o outro só pôde concordar com cada palavra. - Como seus olhos.

Naruto corou ao ouvir aquilo e ficou sem reação, observando o rosto sério de Sasuke. A mão, que antes segurava com gentileza a do foguista, subiu delicadamente pelo braço até chegar ao ombro e dali, tocar a nuca de Naruto. O arrepio que percorreu a espinha dele quando sentiu os dedos frios em sua pele ali lhe fez arfar muito baixo e morder o lábio inferior.

Quando Naruto fitou o rosto do homem ao seu lado, ele estava tão próximo, mas não o surpreendeu. Desde aquela noite, criara uma expectativa estranha sobre aquele ato. As bocas se tocaram lentamente, encaixando-se com perfeição, quando a mão na nuca do foguista lhe fez curvar para frente. Foi o beijo mais doce que Naruto já havia recebido na vida. Quando sentiu a mão pálida afagar seus fios loiros, Naruto aprofundou o beijo, ficando mais perto de Sasuke.

Os lábios se afastaram devagar para manter o máximo de tempo que fosse possível o calor agradável das bocas em contato. Naruto afagou o rosto dele quando estavam distantes o suficiente para se fitarem. Exibiu um enorme sorriso de satisfação ao ver as bochechas pálidas levemente rosadas, porém suspirou em surpresa quando foi beijado de novo e, desta vez, sentiu a língua alheia procurar a sua.

Beijar sob a luz das estrelas, embalados pelos sons do navio e do mar logo abaixo, trocando sutis carícias nos rostos e nos braços, enquanto as bocas se moviam naquela sincronia apaixonada, era o momento mais erótico que Naruto já viveu em seus anos.

Os dois não disseram nada quando voltaram para as caldeiras, retomar o serviço. Não precisavam dizer coisa alguma porque estava claro em seus rostos que estava tudo bem, não fora um erro, mas seria um segredo gentil guardado nos corações. Talvez pudessem repetir os beijos, pensou Naruto, quando estivessem sozinhos no quarto, debaixo dos lençóis.

Acabou por rir sozinho, sem que ninguém percebesse - com exceção de Sasuke, que estava sempre atento ao homem -, quando entendeu o que se passava por sua cabeça: era como uma adolescente apaixonada esperando pelo dia que reveria seu amor.

-Que bobo. - sussurrou enquanto lançava o carvão para dentro da caldeira usando a pá. Sasuke achou interessante aquilo, mas não perguntou. Ainda estava hipnotizado pelo sabor e pelo calor dos lábios de Naruto, imerso naquela calmaria que eles provocaram.

Escolhera bem, pensou o homem de cabelos negros, ao confiar sua vida frágil nas mãos de uma pessoa tão gentil e tão incrível. Nem tinha muita certeza em como definir suas percepções sobre Naruto. A única certeza que tinha era de que ao olhá-lo, tinha a impressão de que ele brilhava, como as próprias estrelas ou o sol.

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