Outra Vida

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Tóquio, 08 de agosto de 2018

Abri meus olhos e fui atingida em cheio por uma dor de cabeça horrível. Me apressei para desligar o despertador pois seu toque estava me enlouquecendo.

Levantei cambaleando enquanto desviava das garrafas de bebida que se espalhavam pelo chão do meu quarto e fui em direção ao banheiro para fazer minha higiene matinal e tomar um banho gelado.

Encontrei meu reflexo no espelho e por um momento não me reconheci: os cabelos em seu tom rosado estavam desgrenhados e opacos, meu semblante estava abatido e haviam olheiras enormes e arroxeadas abaixo dos olhos verdes antes brilhantes.

"Mulher, em seus 23 anos de vida você nunca esteve tão horrível como está agora".

Baixei o olhar para minhas mãos em busca de alguma explicação para que eu tenha me deixado chegar àquele estado, mas não consegui pensar em nada realmente convincente.

A água atingiu meu corpo como um calmante, relaxando os músculos um à um. Mas a dor de cabeça se fez presente novamente, tão forte quanto se espera de um dia de ressaca.

Saí do banheiro e comecei a procurar meu celular enquanto pedia à Deus que não tivesse ligado ou enviado mensagens para ninguém depois dos inúmeros copos de vodca que ingeri na noite anterior.

Encontrei o mesmo jogado no chão ao lado da minha cama, verifiquei as chamadas e as mensagens, ficando aliviada quando vi que não havia feito nenhuma besteira, pelo menos não dessa vez.

Definitivamente não era um bom dia para ir trabalhar. Mas, também, quem manda beber como uma louca em plena terça-feira?

"Tenho 1 hora para melhorar essa cara, é mais do que suficiente. Eu espero..."

***

Cinquenta minutos depois eu estava pronta para enfrentar mais um dia de trabalho. Coloquei um vestido preto social e passei mais maquiagem do que de costume. Podia ouvir a voz de Ino em minha mente dizendo: "Isso mesmo testuda. Quanto pior você estiver se sentindo, mais você deve se arrumar. Fica muito mais fácil encarar os problemas quando você sabe que está maravilhosa".

Permiti que um sorriso escapasse dos meus lábios ao ter essa lembrança. É claro que para Ino "estar maravilhosa" não era muito difícil. Minha melhor amiga era louca, mas com toda a certeza do mundo, era uma das mulheres mais lindas que eu já conhecera. Com este pensamento e uma cara emburrada, comecei a recolher as garrafas vazias da minha casa e, após deixá-la organizada, tomei um café da manhã rápido e fui para o trabalho.

No caminho, enquanto dirigia, comecei a observar as ruas a minha volta. Tóquio é realmente uma cidade muito bonita, mesmo àquela hora da manhã e de noite ficava ainda mais surpreendente.

"Talvez eu possa sair um dia desses, devem haver lugares e pessoas interessantes para conhecer".

Porém, quase que no mesmo instante que este pensamento se formou, afastei-o para longe. A ideia de sair e tentar socializar fazia o hábito de beber sozinha, na segurança da minha casa, muito mais atrativo e menos trabalhoso.

"Além disso, tenho ficado tanto tempo no trabalho que não daria para sair, mesmo que eu quisesse".

No exato momento em que terminei o meu mini discurso desmotivacional, me dei conta de que já estava em frente à Incorporação Konoha.

Ao longo dos anos dediquei todo o meu tempo e esforço para conquistar a carreira que possuía. Entrei na faculdade de medicina com 17 anos e não descansei desde então. Foram muitas noites em claro e incontáveis horas de estudo até me formar, 4 anos depois, 2 anos a menos do que o habitual.

Epifania de SakuraWhere stories live. Discover now