II

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Três meses se passaram desde o dia em que tudo começou e imensa coisa mudou neste curto espaço de tempo.

A minha mãe insiste para que eu acabe o 12• ano, mas de que me vão valer os estudos? Vou morrer sem os conseguir usar.

-Harry, já estamos atrasados despacha-te! -gritou a minha mãe do andar debaixo.

-Sim, já vou mãe. -gritei de volta enquanto desligava a aparelhagem e vestia o meu casaco preto, descendo em seguida as escadas para encontrar a minha mãe toda apressada à porta de casa.

-Entra no carro. -ela disse e eu obedeci.

Depois de cerca de 10 minutos de viagem aqui estava eu, outra vez, neste sítio que tanto odeio.

Os tratamentos ainda não começaram mas a minha mãe insiste que preciso de alguém com quem falar e como não tenho muitos amigos, aqui estou eu à espera que chegue a hora de mais uma das consultas com o psicólogo.

-Harry, pode entrar, a Doutora Jackman já está à sua espera. -disse uma das senhoras vestidas de branco, elas são clones umas das outras, é impossível distingui-las.

Levantei-me e dirigi-me ao mesmo consultório de sempre onde uma mulher baixa e de cabelos loiros me esperava sentada na sua cadeira branca.

-Olá Harry. -disse ela com um daqueles sorrisos detestáveis enquanto eu me sentei.

-Olá. -murmurei em resposta.

-Como te sentes? -perguntou ela tentando decifrar a minha feição, que suponho que seja mais límpida que uma folha de papel.

-Frustado. -cuspi.

-Porque? -perguntou enquanto rabiscava algo no seu habitual caderno preto.

-Não consigo lidar com isto tudo, não é fácil. -resmunguei

-Podes explicar-te melhor? -Ela pediu.

-Não me consigo expressar, tenho tudo preso na minha cabeça e isto dá comigo em doido. -respondi.

-Isso é normal, Harry. -ela disse sorrindo -Mas tenho algo que te pode ajudar.

Mal proferiu estas palavras levantou-se e moveu as suas curtas pernas até ao enorme armário de portas brancas procurando algo.

-Aqui está. -ela disse dando-me um caderno de capa preta para as mãos.

-O que é suposto eu fazer com isto?-perguntei um pouco confuso.

-Escrever. Quero que relates o teu dia-a-dia, as tuas experiências, o que sentes, apenas escreve. Vais certamente sentir-te melhor.

Encarei-a com um olhar confuso, pois relatar os meus sentimentos não me parecia propriamente uma boa ideia, mas se me vai sentir melhor acho que posso tentar.

-Bom Harry, por hoje é tudo. Podes ir para casa. -ela disse fechando o seu caderno preto.

-Oh, ok, obrigado. -respondi levantando-me rapidamente da cadeira preta super desconfortável.

-Até para a semana, Harry. -ela disse estendo a sua pequena e suave mão para que eu a apertasse em sinal de despedida.

De volta à sala de espera encontrei a minha mãe a falar com uma das mulheres vestidas de branco. Movi lentamente os meus pés para perto delas encostando a minha cabeça no ombro da minha mãe quando as alcancei.

-Já acabou a sessão de hoje, amor? -a minha mãe perguntou afagando os meus caracóis cor de chocolate.

-Sim. -sussurrei. -Podemos ir embora? -pedi.

Não obtive resposta mas logo a minha mãe se despediu da senhora de branco e nos guiou para o carro preto estacionado no enorme parque do hospital.

-Os teus tratamentos começam dentro de dois meses, Harry. -a minha mãe disse já dentro do carro.

-Está bem. -respondi encostando a minha cabeça ao vidro embaciado devido ao contraste das nossas respirações quentes com a temperatura gelada habitual dos invernos londrinos.

O hospital já se tornou a minha segunda casa, temo que em breve se torne na primeira.

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Sxx

•Bloodstream• ||H.S||Onde histórias criam vida. Descubra agora