Obstinação e concentração sempre foram traços imutáveis na postura do detetive Wayne no cumprimento de seu dever. Uma vez incorporado o policial, qualquer tipo de distração, física ou emocional, se tornava irrelevante para tirar-lhe o foco. Sendo assim, nem mesmo o fato de estar na delegacia ao meio dia, sem se alimentar devidamente, recém chegado de viagem e mal instalado em sua sala pequena, sem ar condicionado e isolamento acústico, fazia com que ele perdesse uma vírgula dos relatórios que lia sobre o caso Diana Prince.
O casaco estava pendurado no encosto da cadeira e as mangas da camisa social dobradas, numa tentativa inútil de sentir menos calor. Ao redor, saltos ecoavam pelos corredores, policiais falavam alto e digitavam freneticamente, sem contar o cheiro de café morno e rosquinhas calóricas que impregnava todo o ambiente.
Contudo, o cérebro aguçado do detetive apenas focava nos relatórios sobre John Stewart e Shayera Hall, que prestariam depoimentos em poucos minutos. O cargo da telefonista ruiva fora indicação do diretor do The Prince Show e seu currículo profissional era, no mínimo, muito intrigante. Talvez Bruce não se preocupasse tanto, se não fosse a descoberta da detetive Lance a respeito de John Stewart ter sido demitido da emissora em que Diana trabalhou em Chicago por se recusar a dirigi-la.
Vingança poderia ser um bom motivo para as ligações que Diana vinha recebendo. E ter uma telefonista como cúmplice uma estratégia arriscada, mas válida. Embora não conseguisse ligar John Stewart com suas descobertas recentes a respeito da morte da mãe de Diana, não podia descartar a hipótese. Talvez tivesse dois mistérios em mãos ao invés de apenas um.
Quando o cheiro de almíscar e baunilha misturou-se à atmosfera de sua sala, ele não precisou levantar os olhos do relatório que lia para saber que sua parceira estava vindo ao seu encontro. O cheiro sexy do perfume da detetive Lance era elegante e perigoso, uma tentação constante para os homens que compunham o efetivo do departamento de polícia, à exceção de Bruce que sempre teve um carinho e respeito muito grande pela detetive, que suprimia qualquer vulnerabilidade ao desejo que ela despertava naturalmente no sexo oposto.
Dinah Lance trazia a jaqueta de couro amarrada à cintura, cobrindo parte do coldre e da pistola semiautomática acomodada entre a coxa e o quadril sobre o jeans escuro. Usava uma camiseta com estampa rock in roll e os cabelos presos, deixando o belo rosto angelical em destaque.
Ela jogou uma pasta com mais relatórios sobre a mesa de Bruce e foi em direção a gaveta do parceiro, furtar uma barra de chocolate suíço para suprir a falta do almoço.
― Encerrei o depoimento de Wally West. – Ela sentou-se sobre a borda da mesa, atraindo a atenção do parceiro. ― O garoto parece inofensivo, mas nutre uma paixão platônica por Diana. Estuda, trabalha, tem bons antecedentes e respondeu a todas as perguntas sem qualquer retração. – Bruce foleou o relatório da parceira. ― Pareceu muito ressentido ao descobrir que sua musa foi casada e por ter descoberto na emissora que ela passou o fim de semana com você.
― Qual o seu parecer? – Bruce fitou os olhos azuis e ofereceu mais uma barra de chocolate para a parceira, que olhava de soslaio para sua gaveta.
― Não tem o perfil dos psicopatas e maníacos com os quais já lidei. – Dinah aceitou a barra de chocolate de bom grado. Seu salário de funcionária pública não lhe permitia comprar chocolates que custavam cerca de 100 dólares cada 100 gramas. ― Mas, na nossa profissão, isso não significa nada. Sempre encontramos perfis inovadores de loucos assassinos.
Bruce assentiu e observou mais uma vez o resultado da perícia realizada no bilhete deixado no camarim de Diana, durante o evento em comemoração ao aniversário da Planet TV. Como esperado, não havia nenhum vestígio de digitais que pudesse ser levado em conta. Verificou ainda que, enquanto Diana esteve fora, nenhuma ligação foi feita para sua residência. Quem a perseguia, de alguma forma, sabia que ela não estaria na cidade, o que diminuía bastante seus suspeitos, concentrando-os na emissora.
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Backstage
FanfictionBela, carismática, bem sucedida e no auge da carreira. Essa é a apresentadora Diana Prince, no fim dos anos 90. O contrato milionário com a Planet TV e a nova vida em Gotham City parecia um tempo de paz e prosperidade para a celebridade, entretanto...