Capítulo XXII

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Diana havia jurado que nunca mais pisaria em uma delegacia depois que a mãe morreu. O que ela não podia prever, é que estaria circunstanciada a romper essa promessa ao tornar-se pauta de uma investigação policial, precisando não somente pisar novamente em um departamento de polícia como também prestar depoimento.

Ao contrário dela, Donna não se incomodou em saber que teria que depor, sentada ao lado da irmã na sala de Bruce, a caçula parecia bastante atenta e interessada à movimentação na delegacia, ambiente que não lhe seria completamente estranho quando terminasse sua graduação em direito.

Já Diana era envolvida por lembranças remotas, de quando era criança e a mãe ainda não havia se casado com o pai de Donna. Eventualmente, quando a babá faltava, atolada de trabalho, a mãe lhe buscava na escola e a levava para o trabalho para finalizar alguma ocorrência que atendera. A pequena Diana ficava sentada em um banco frio, numa sala de espera, sempre com uma boneca de pano em mãos ou algum papel e lápis para desenhar, enquanto a mãe terminava de cumprir seus deveres.

Alguns agentes, amigos de sua mãe, tentavam lhe entreter quando podiam, mas o carinho e atenção que recebia, não contribuíam para que ela gostasse daquele lugar. Ela tinha medo. Lembrava-se das muitas vezes que via meliantes chegando agressivos após serem detidos, mulheres chorando após terem coragem de denunciar uma agressão e de jovens alegando inocência enquanto eram encaminhados para as salas de interrogatório. As horas não passavam, ela lembrou-se com pesar. Os minutos pareciam horas, enquanto esperava a mãe naquele ambiente tenso e obscuro.

Todavia também não podia ser injusta com a mãe em suas lembranças. Sempre que aconteciam essas eventualidades, em que a mãe precisava leva-la para o trabalho, quando chegavam em casa, a mãe se despia da policial e a mimava, brincando ou levando-a para passear, outras vezes assistindo tv juntas até tarde. É verdade que muitas vezes sentiu a ausência da mãe, mas Hipólita não era uma mãe negligente ou ruim, era devotada quando podia e Diana sabia que ela fizera o melhor para cria-la, educa-la e nunca deixou de dar-lhe afeto.

Inquieta por ser a próxima a entrar para depor, Diana levantou-se e começou a caminhar pela delegacia. Não era permitido transitar deliberadamente pelo departamento, mas ela não tinha condições de ater-se às regras. Paciência estava longe de ser uma de suas virtudes ultimamente.

Se enveredando por um dos corredores, avistou uma das salas de interrogatório. Embora a luz em seu interior fosse fraca, o vidro de isolamento acústico era transparente, o que aguçou sua curiosidade para saber se o detetive Wayne estaria ali. Olhando de esguelha, ela deu um sorriso involuntário ao avistar Bruce, sério e sexy, enquanto fazia algumas anotações. Ao seu lado, a detetive Lance falava e gesticulava, e, em um canto da sala, um escrevente digitava freneticamente. O que mais lhe chamou a atenção, porém, foi a silhueta masculina que era interrogada. Os cabelos claros e longos do homem não lhe eram estranhos.

"Não pode ser!" Ela murmurou para si mesma, quando reconheceu o homem que se levantou dentro da sala, certamente terminando de prestar seu depoimento.

Estática, ela teve a confirmação de sua suspeita quando a porta da sala se abriu e de lá saiu Arthur Curry, alinhado em um terno cinza claro, embora os sapatos informais e o cabelo rebelde evidenciassem seu despojamento.

Há meses atrás ela vira o ex-marido, de longe, durante um evento em Nova York, não se aproximaram, não trocaram olhares, apenas uma visão de relance de sua parte. Desde que se separaram formalmente, nunca mais ficaram frente a frente, era a primeira vez que olhava nos olhos do homem que fora seu primeiro amor e sua primeira decepção, após dez anos desde a separação.

Ao pousar os olhos sobre ela, tomado da mesma surpresa, Arthur encurtou a distância entre eles, sob os olhares atentos de Bruce e de Dinah, que conteve o parceiro de intervir naquela aproximação.

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