prólogo

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“Pouco dura a dor que termina em lágrimas, e muito longo é o período em que o sofrimento permanece no coração.”

Pietro Aretino

Como posso começa essa história? Contando como eu conheci o verdadeiro inferno, ou contando o quão ferrada eu fui na mão de SATÃ? N

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Como posso começa essa história? Contando como eu conheci o verdadeiro inferno, ou contando o quão ferrada eu fui na mão de SATÃ?
N

ão vou falar que eu me apaixonei por ele, porque isso nunca vai acontecer. Ele jamais terá o meu amor. Pois por ele só sinto ódio, raiva e rancor. Almejo vê-lo morto, com uma faca enterrada em seu coração.
Ele me moldou, me ensinou que o mundo é mau e que as pessoas são perversas. Ele me ensinou a matar sem ter um pingo de dó, ou de piedade. Ele me transformou em um monstro, no qual possuía total controle. Mas, agora tudo isso mudou. Ele já não tem mais controle sobre mim, desde que me rebelei contra ele e tomei tudo o que lhe pertencia. Vamos voltar um pouco no tempo e descobrir como isso aconteceu.

Cinco anos antes

Eu tinha acabado de entrar para a melhor universidade de Medicina do Rio de Janeiro. A palavra "felicidade" resumia tudo naquele momento, pois o meu maior sonho era me formar em medicina e ser uma grande médica como minha mãe sempre sonhou.
Eu queria que ela estivesse aqui agora, para que pudesse ver o início dos nossos sonhos, mas, infelizmente, isso não foi possível. Nós duas sofremos um acidente de carro há alguns anos e eu fiquei em coma por uma semana, mas ela... ela não sobreviveu. Quando acordei do coma, soube que havia perdido a minha mãe e a minha perna esquerda
Eu teria que recomeçar a minha vida, já que meu único parente era minha tia, que morava na favela. Não tenho preconceito contra o lugar, muito pelo contrário, já estava me adaptando muito bem a minha nova vida, aos novos lugares e a minha nova perna. Uma prótese mecânica, dada pelo amigo da família do tio Kiko.
Estava um calor do caralho, o que me fez ir até à sorveteria do bairro. Enquanto caminhava pela rua, encontrei uma criança, de aproximadamente cinco anos, chorando. Sem hesitar me aproximei.
── O que aconteceu? Por que está chorando? ── perguntei preocupada.
O garotinho engoliu o choro e ergueu a cabeça para me olhar.
── Minha pipa está agarrada na árvore. ── soluçou. ── Eu já tentei de tudo para tirar ela de lá. Eu não tenho dinheiro para comprar outra.
── Se eu for lá e pegar, você vai parar de chorar? ── perguntei.
── Sim! ── ele respondeu, enquanto enxugava o rosto com a camisa.
── Está bem. ── sorri. ── Vou subir. Fique aqui! ── exigi.
Eu tive que subir naquela árvore, mesmo tendo dificuldades. Por fim, eu acabei pegando a pipa do menino. Joguei ela na direção dele, que pegou e foi embora tão contente, que nem sequer agradeceu.
Eu tinha conseguido, mas agora estava com um problema bem pior. Subir em árvores sempre foi uma parte fácil, a difícil era descer. Na minha tentativa ridícula de descer, acabei pisando em falso e escorreguei. Tentei me agarrar a um dos galhos, mas falhei e caí.
Fechei os olhos, esperando pelo impacto, mas ele não aconteceu. Abri os olhos devagar e percebi que, na verdade, eu tinha sido pega por Satã, o dono do morro. Nossos olhos ficaram fixos um no outro, enquanto seus braços fortes estavam ao redor do meu corpo.
── Olha, chefe...eu já vi de tudo nessa vida...chuva de gelo, de bala. Agora de mulher, foi a primeira vez. ── A voz de um homem soou próxima.
── Vá se fuder, Marcos! Não vê que essa louca caiu da árvore? ── perguntou.
Meu coração falhou algumas batidas, enquanto aquele homem mantinha os olhos fixos em mim. O olhar maldoso que ele me lançava, fez todo o meu corpo entrar em colapso. Um frio subiu por minha espinha, me deixando arrepiada. ESTOU FERRADA.
── Me desculpe. ── pedi, tentando sair daquela confusão que eu mesma me meti.
── Qual o seu nome, passarinho? ── ele perguntou, com um sorriso travesso nos lábios, enquanto me colocava no chão.
── Maria Clara. ── metralhei, tremendo de medo.
Eu sabia que a fama dele não era nada boa.
── Marcos, eu acho que esse passarinho será um belo brinquedo. ── falou de forma irônica.
Meu corpo gelou novamente.
── Não, por favor. Eu tenho que voltar para casa. ── falei quase chorando.
Novamente ele me lançou aquele sorriso maldoso.
── Você pode ir passarinho. Mas, não adianta se esconder de mim, pois você já é minha.
E foi naquele instante, quando ouvi aquelas palavras, que eu percebi que não haveria paz na minha vida.
Não esperei que ele dissesse mais nada e fui embora o mais rápido possível. Quando cheguei em casa, descobri que minha tia já estava no trabalho. Tomei um longo banho e quando sai do banheiro, me deparei com ele no meu quarto.
── O que você está fazendo aqui? ── perguntei apreensiva. ── Como entrou na minha casa?
── Eu entro onde eu quiser, passarinho. ── respondeu. ── Eu não consigo esperar... ── ele começou. ── Você vem comigo! ── ordenou, se aproximando. ── Temos muito o que conversar. 

REFÉM DA DOR LIVRO 1 ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora