A ajuda do desconhecido

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Meg passava um pente azul nos seus cachos, sorrindo de lado para o seu reflexo no espelho. Não se lembrava de estar tão linda quanto já esteve em toda a sua vida. O vestido que usava lhe trazia esse ar de beleza mais velha. Repleto de detalhes em prata, suas vestes negras eram coladas e mostravam todas as suas curvas, assim como várias partes de seu corpo, como o decote enorme. Três toques na madeira da porta a distraíram de si.
- Pode entrar! - Ela pousou o pente em cima em cima de penteadeira e observou a porta se abrir.
Ysmatiz entrou em seus aposentos, com aquele sorriso frio que Meg ja tinha se acostumado. Não se lembrava de outras pessoas sendo tão boas com ela quanto Ysmatiz estava sendo. Todas aquelas pessoas horríveis de seu passado ela tinha deixado para trás. E não podia estar mais feliz com isso.
- Você tem o meu corpo quando tinha sua idade. - Ysmatiz se aproximou dela em passos lentos, a olhando pelo espelho e colocando gentilmente as mãos nos ombros de Meg. - Tão linda e tão sábia. Suas informações fizeram com que a resistência fosse destruída, minha querida.
- Sério? - Meg se levantou, dando um pulinho de alegria e sorrindo como se aquele fosse o dia mais feliz de sua vida. - E vossa majestade conseguiu pegar os rebeldes?
- Aubrey ainda está viva, assim como grande parte daqueles que não estavam na sede quando o ataque foi lançado. - Ysmatiz foi até a sacada do quarto e se debruçou no murinho, observando a fumaça negra das forjas onde antes era uma cidade repleta de pessoas. O céu estava nublado e prestes a se revoltar. - Sua amiga é difícil de encontrar.
- Minha amiga? - Meg foi até ela, ficando ao seu lado. - Ela nunca foi minha amiga.
- Está dizendo isso pois te enfeiticei, pequena. - Ysmatiz, por mais estranho que parecesse, passou levemente a mão no rosto de Meg, como uma carícia de mãe. - Você é totalmente leal à resistência mas no momento está sob um feitiço tão poderoso que mal consegue distinguir seus próprios pensamentos.
Meg inclinou a cabeça para o lado, com a expressão de total confusão no rosto.
- Eu não entendo... - Ela disse, tirando um sorriso debochado dos lábios de Ysmatiz.
- Não precisa entender, lunar. - Ela caminhou de volta para a porta, a abrindo. - Apenas precisa continuar como está, me fornecendo informações.
- Como quiser, majestade. - Meg fez uma reverência quando sua rainha saiu pela porta. Minutos depois, estava novamente na penteadeira, ajeitando o cabelo.

                          ***

Garva não se lembrava da última vez que comeu ou bebeu qualquer coisa. Não conseguia se levantar daquela cela escura e também não entendia para que precisaria fazer isso. Ela sentia que morria a cada dia que passava. Sua alma apodrecia assim como o corpo naquela prisão de Ysmatiz. Continuaria ali com os olhos fechados, até que ouviu um som de fechadura. Garva abriu os olhos e observou uma vela que flutuava pelo ar até a sua frente. Só depois de um bom tempo ela notou o soldado de armadura negra e de espinhos em sua frente.
- Veio finalizar a prisioneira? - Ela disse, sem medo da morte iminente.
- Vim trazer informações importantes, senhora Garva. - Quando tirou o capacete, Garva se assustou com o rosto do garoto. Sua pele era negra, assim como os olhos castanhos escuros.
- Como sabe meu nome, soldado?
- Meu nome é Harold. - Ele colocou a vela no chão e puxou a manga do pulso, revelando um símbolo tatuado parecido com uma lua e um sol entrelaçado. - Faço parte da resistência e estou a cinco dias tentando conseguir esse turno na vigia das celas para conversar com a senhora. Tenho pouco tempo.
- Não sabia que a resistência tinha um símbolo. - Foi o que Garva disse primeiro. A desnutrição estava fazendo com que sua cabeça voasse. - Só uma lua estaria bom o suficiente.
- Senhora. Me escute. - Harold pegou na mão de Garva gentilmente. - Se alimente da minha energia. Sei que podem fazer isso.
- Isso é magia negra, garoto. - Ela puxou a mão de volta mas ele a segurou, violento.
- Você não tem escolha. - Ele apertou o máximo que pode a mão dela. - A resistência foi atacada e você precisa continuar viva. Muitas lunares e solares morreram.
Garva não precisava de mais informações. Fechando os olhos, ela apertou a mão do jovem e respirou fundo, sentindo a força vital dele percorrer até dentro dela. Ela fez isso e parou rapidamente. Se continuasse, mataria.
- Está bem, garoto?
- Um pouco tonto mas... feliz por ter ajudado. - Um barulho nas celas distantes fez ele se levantar, mesmo tonto. - Tenho que voltar.
- Vão me tirar daqui? - Garva perguntou, quase se levantando do chão.
- O futuro é incerto. - Harold pegou a vela e trancou novamente a cela. - Mas a resistência vive.
Ele saiu dali, deixando Garva sozinha e com fome, mas viva. Viva e com uma vontade perversa de vingança.

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