5.- Vício.

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  Apenas um dia pode mudar tudo. Um dia pode mudar uma escolha, uma idéia, uma vida. Não que Jack tivesse escolhido ter ficado com aquela aparência monstruosa, mas ele escolheu sua morte no momento em que aceitou participar de um assalto que poderia dar errado, tudo por seu desespero por ganância. Jack tinha tido a idéia que tudo daria certo naquele dia, mas a partir do telefonema que sua esposa estava morta, sua idéia havia mudado. A sua própria vida estava em suas mãos, até que Batman, o morcego de Gotham, apareceu, deixando apenas uma escolha para Jack, se matar, já que o mesmo não queria ser preso.
 
  Eu, já não conseguindo mais achar Jack Napier dentro se si, continuei andando pelas vagas e frias ruas de Gotham, tentando racionar o que havia acontecido. Eu tinha matado alguém. Acredito que a maioria das pessoas já pensaram em matar alguém ou fazer alguém sofrer muito por algo que ela tenha feito, porém nunca ter tido coragem de cometer isso, Jack jamais mataria ou iria ferir alguém. Mas em minutos atrás, eu havia matado uma pessoa, um humano como um dia eu também fora, um desconhecido igual ao meu novo eu. Foi tudo muito rápido, quando eu analisei o corpo no chão, tudo que eu pude fazer foi olhar para as minhas mãos e para o revolver, e sair do local o mais rápido possível.

  Foi em um simples minuto que eu percebi que eu não era mais Jack, eu não senti culpa quando encarei o rosto assustado do defunto ensanguentado no chão, não senti luto por ele, mesmo eu não o conhecendo. A culpa era dele, a culpa era do morcego de Gotham, a culpa era das pesssoas por eu ter me tornado aquele ser que por sua nova aparência, jamais iria ser julgado humano novamente. Me senti a Fera e as pessoas a maldita bruxa que havia me jogado um feitiço que só iria ser curado com um beijo de amor verdadeiro e um final feliz, porém eu só seria a Fera sem o beijo de amor verdadeiro e o final feliz.

  Eu continuei andando e andando, até chegar em um beco aparentemente vazio e sujo.

-Ei! -uma voz com a de um adolescente passando por sua puberdade exclamou em um eco pelo beco quando eu já estava na metade do mesmo. - Parado. -ele se aproximou de mim no escuro, provavelmente não havia visto minha aparência atual naquele momento, se não ele e seus amigos já teriam corrido do monstro que eu havia me tornado.

-O que querem? -analisei os rostos dos jovens, os mesmos tinham uma aparência de garotos de rua, mas mesmo assim pareciam emponderados e certeiros que iriam conseguir algo de mim.

-Jóias, dinheiro, tudo que tem de valor! -um deles, o mais baixinho, disse, colocando um bastão de baseball apoiado sobre os pequenos ombros. - Se não nos passar o que tem, iremos tirar o que tem na porrada.

-Ha Ha Ha! -eu ri sem pensar naquele momento, minha risada era macabra, diferente daquelas que eu tentava tirar das pessoas que me assistiam no velho palco do bar mal frequentado que eu ia para tentar a vida. Minha risada, por mais que macabra, era sombria e sofrida, sombria como Gotham, sofrida como Jack foi. -Eu não possuo nada, meus caros, tudo o que eu tinha a vida tirou de mim na porrada. -a vida nunca fora fácil, especialmente para mim. Tudo o que eu tinha era minha esposa e meu futuro filho. Eu era pobre, um verme que devia por toda Gotham, um fracasso, mas eu ainda sim tinha minha pequena família. Depois do acidente, eu não tinha nada, continuava pobre, havia virado um monstro de aparência, cuja mais tarde se tornaria um monstro internamente também, e eu também não tinha mais família. Saí da sombra escura um pouco, deixando a pouca luz da lua iluminar somente meu rosto pálido com um sorriso que se estendia de orelha a orelha, mais um sinal que a vida zombava de mim, o sorriso que eu tanto quisera das pessoas, agora estava gravado em meu rosto, para sempre. Eram quatro garotos e três deles se afastaram um pouco ao me ver.

-Steve, acho melhor deixar esse cara quieto... -um dos meninos disse por trás do que estava praticamente na minha frente.

-Não! Eu prometi para a mamãe que iria arranjar dinheiro para comprar os remédios dela! -o tal de Steve olhou brevemente para trás quase gritando com o outro menino. Prometer, Jack fazia isso, sempre que achamos que podemos cumprir algo, prometemos, mas nem sempre conseguimos. Jack achava que iria ter um pouco que dinheiro que fosse um dia, por isso prometia, suas promessas eram vazias e nunca cumpridas.

-Sua mãe está praticamente morta, Steve, os médicos mesmo já disseram isso. -o garotinho do bastão disse olhando com pena para o "Steve", eu só fiquei analisando. Eu pensava que somente eu era o amaldiçoado por ser fracassado e pobre, mas aparentemente as pessoas tinham que nascer com esse dom, e eu e aquele garoto haviamos nascido com esse dom.

-Os médicos não sabem de nada! -ele gritou e virou de costas para mim. Era para eu estar comovido?

-Se me dão licença, tenho mais o que fazer. -pronunciei virando de costas para continuar meu rumo quando eu senti um dor nas costas, Steve havia me batido com o bastão de baseball do baixinho. Eu me virei lentamente de olhos fechados e fechei os punhos. Ele achou que a culpa era minha por a mãe dele estar morrendo?! Abri os olhos, já não mais calmos, mas sim insanos, assim como haviam ficado quando atirei no homem algumas horas atrás. Sorri largo e arranquei o taco de baseball da mão do garoto e bati o mesmo na cara do menino. -Por que ao invés de ficar se lamentando apenas não aceita que sua mãe vai morrer, desgraça?! -quando ele estava no chão, bati em sua barriga com o bastão. Eu me lamentava porque eu não aceitava tudo aquilo que eu tinha, ou melhor, não tinha. Eu queria que alguém tivesse me falado que lamentar não me levaria a lugar nenhum, mas como alguém iria me falar isso se eu não tinha ninguém?

-P-para, s-se-senhor... -ele disse entre as lágrimas, eu deveria ter parado, mas não parei. Gostei de vê-lo implorar. Os cúmplices dele já não estavam mais ali e é assim que a vida funcina: até mesmo quando você acha que alguém está com você para o que der vier, na hora que você precisar dela, ela irá te deixar para trás, consegui você fosse insignificante.

-Oh... -pronunciei quando vi que o garoto estava para desmaiar. - Meu caro, por quê esta tão sério? Está com medo de mim? -não deixei ele responder. -Não tenha medo, eu sou seu amigo, veja só... -observei em seu bolso um canivete, puxei o mesmo do bolso do moleque e o abri. - Sou tão bom que colocarei um sorriso em seu rosto... -coloquei a lâmina do canivete entre os lábios do pobre Steve, deslizando primeiramente para a direita, o sangue escorria lentamente pelo rosto do menino e manchava minha mão junto com o canivete. - Um sorriso que irá ficar marcado em você para o resto da sua vida, uma cicatriz no seu rosto... -o garoto já voltava a chorar, trêmulo. Coloquei a lâmina no outro lado, deslizando para a esquerda. - Um sorriso tão parecido com o do Diabo, tão danificado quanto nossas almas... -o menino desmaiou em meus braços, não satisfeito, segurei firme o canivete e o afundei em seu peito, no coração.

  Matar se tornou um vício. Eu comecei a matar por raiva, raiva por eu ter perdido tudo em um dia só, raiva do Batman por ter me feito perder até mesmo minha aparência, minha personalidade. O garoto Steve havia morrido por mim, mesmo tendo nascido com o mesmo maldito dom de azar, pelo menos ele morreu com um sorriso no rosto, do mesmo modo que eu nasci, sorrindo.

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P.S.:Oi, leitores, tudo bem? Gostaram do capítulo? Eu realmente estou com medo da resposta, não sei se ficou realmente bom, mas eu tenho uma boa desculpa (kkk). Eu definitivamente não sabia o que escrever nele, mas como eu tenho que continuar a fanfic, eu consegui escrever somente isso, espero que tenha ficado no mínimo agradável. Ah, não se esqueçam de votar. :))

 

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