Capítulo 22

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Day
Tomei um gole de café e fiquei atenta esperando o Renan começar falar, ele parecia tranquilo mas dava pra notar preocupação em suas palavras.
_Pode falar, o que aconteceu com a Carol?
_Aconteceu uma tragédia na nossa família, Day. A nossa irmã Mariana morreu há pouco mais de um ano. Ela e Carol tinham ido ao cinema sozinhas, Marina estava dirigindo. Quando decidiram parar perto de um lago e a Mari caiu._Ele respira fundo e algumas lágrimas escorrem pelo seu rosto._Achamos o corpo no outro dia, distante do lugar que ela caiu._Ele passa as mãos no rosto limpando as lágrimas._Depois disso a Carol nunca mais foi a mesma, ela se sente culpada, já procuramos ajuda psicológica e eu posso notar que ela está melhorando. Mas eu tenho medo, Day. Tenho medo de perder a Carol também.

Agora muita coisa faz sentido. Agora entendo porque Carol não quer que eu faça perguntas sobre sua vida, é tudo muito dolorido pra ela ainda.

_Eu, eu._ gaguejo_Sinto muito, Renan._Coloco minha mão em cima da dele.
_Desculpa te incomodar com isso, Day._Ele segura a minha mão.
_Você não me incomodou, está tudo bem. A Carol nunca me contou nada disso.
_Eu sei, aqui é como se ela fosse alguém que ninguém sabe da história, ninguém vai sentir pena porque ela perdeu a irmã, não vão perguntar como foi aquela noite e nem ficar no pé dela.
_Eu entendo agora porque ela nunca falava nada sobre a família, como era a vida dela lá.
_A Carol cantava com a Mariana, elas duas sempre tocavam e cantavam juntas. Depois disso ela parou, é como se uma parte da Carol também morreu junto com a Mari.
_Ela cantou pra mim._Dou um leve sorriso pra ele.
_Sério?_Ele da um sorriso largo e seus olhos brilham._Isso é muito bom.
_É sim. Vou cuidar dela agora, Renan.
_Confio em você.
_A Carol é muito incrível e vou ajudar ela no que for preciso.
_Bom saber que ela conheceu você.
_É muito bom ter ela... ter uma amiga como ela._Gaguejei mais uma vez.
_Eu sei que vocês estão juntas, Carol me falou._Ele ri e eu fico contente.
_Ela falou?_Fico muito feliz em saber.

Depois de alguns segundos o silêncio se fez presente, e a gente ficou tomando o café e comendo alguns salgados.

_Amanhã seria o aniversário de 21 anos dela._Fala quebrando o silêncio, eu respiro fundo e não digo nada. Sinto lágrimas escorrendo pelo meu rosto, é notável que a dor dele ainda é gigante.
_Ela deve estar em um lugar mais bonito agora._Finalmente consigo falar alguma coisa, ele balança a cabeça e sorri pra mim.

Quando chego em casa encontro meu pai sentado na sala, ele me chama pra sentar perto dele e diz que precisa ter uma conversa comigo. Eu senti em uma poltrona na sala e fico esperando ele falar.

_Então meu amor, eu vou ficar mais dois dias aqui e vou precisar viajar de novo.
_Isso não é novidade, pai._Ele sempre está viajando então não estranho.
_Mas agora é diferente, filha. Surgiu uma coisa melhor no emprego. Mas pra isso vou precisar ficar fora mais tempo.
_Ta bom.
_Filha, eu vou morar fora e talvez demore mais de um ano pra voltar aqui.
_Espero que de tudo certo então._Sabia que uma hora ou outra isso ia acabar acontecendo então já estava preparada pra isso.
_Filha, eu vou mandar dinheiro sempre, como sempre fiz e vou sempre ligar pra ver como você está. Caso você queira vir comigo será muito bem vinda, eu vou gostar muito.
_Não, eu não vou. Mas está tudo bem. Eu sei me virar sozinha.
_Vamos jantar fora hoje?
_Acho uma boa ideia._Dou um leve sorriso pra ele e vou pro meu quarto tomar banho.

Quando eu saio do banho pego meu celular em cima da cama e vejo algumas mensagens da Carol.

>Baby, você quer vir jantar comigo e com o Renan?
>Ele vai embora amanhã.
>Diz que sim.

Eu quero muito ir jantar com eles, mas preciso sair com meu pai. Quero que fique tudo bem entre a gente, nunca mais a gente teve uma conversa decente como hoje.

<Baby, meu pai me convidou pra ir jantar com ele.

>tudo bem então, baby :(

Lembro da conversa que tive com o Renan, quero abraçar a Carol, dizer que estou aqui pra ela. Quero que um dia ela me conte tudo, quero que ela confie em mim e pare de fugir. Que ela fique bem de verdade.

Carol
Lembro que, uma noite depois de sair escondida, Mari entrou no meu quarto, deitou na minha cama e disse:
_Você precisa ver essa camisa que eu comprei pra você.
Era uma camisa da Amy Whinehouse, Mari adorava quando eu cantava músicas da Amy pra ela. A preferida dela era "Back to black". E eu amava cantar as músicas da Amy. Cantei Valerie pra Day, ela também gosta da Amy é isso me deixa muito feliz. Queria que ela estivesse aqui, eu queria contar pra ela que conheci uma pessoa incrível e que pela primeira vez acho que estou apaixonada.

Vou sair hoje pra jantar com o Renan, queria que a Day fosse com a gente, mas entendo que ela precisa ficar com o pai dela que nunca fica em casa. Coloco a camisa que a Mari me deu, e vou encontrar Renan que me espera impaciente.

_Estou pronta.
_Até que enfim, Carol.
_Não reclama, vamos logo._Passo na frente dele.

Renan vai voltar pra casa amanhã, foi muito bom ter ele aqui mesmo que por pouco tempo. Sei que ele está preocupado comigo, assim como meus pais estão. Mas acho que ele vai voltar tranquilo depois de ver que eu estou bem.

A gente jantou em um restaurante de comida japonesa. Renan comprou sorvete pra nós e agora estamos andando pela pracinha.

_Era pra Day estar aqui._Ele fala.
_Você não acha que está muito interessado na companhia dela não?
_Eu gostei da minha cunhada. Estou muito feliz por vocês._Renan é tão incrível, eu amo tanto.
_Eu também estou feliz por ter encontrado ela.

Dou um sorriso bobo ao lembrar dos nossos momentos e da maneira que a gente se aproximou. E de como ela é incrível. E como eu tenho sorte por ter encontrado essa pessoa.

Voltamos pra casa por volta das 21:00h, colocamos um filme pra assistir mas Renan dormiu na metade do filme. Então eu resolvi ir pro meu quarto.
No aniversário de 15 anos da Mari eu comprei uma asa de borboleta de presente, junto com uma caixinha com algumas borboletas desenhadas. Ela amava borboletas. Naquele dia ela colocou as asas e correu pelo quintal fingindo estar voando e eu corria atrás dela com a câmera na mão filmando seu voo. Como as borboletas, Mari era colorida. E brilhava como as luminárias chinesas que enfeitavam sua festa. Já passam das 00:00h. Hoje é o aniversário dela. Eu queria fazer alguma coisa pra mostrar que ela ainda brilha. O corpo dela foi cremado. É tão estranho dizer isso. Sinceramente, às vezes ainda parece que um dia vou acordar e ela vai estar ali. Aquela noite volta à minha mente como um filme em que tudo está fora de foco e não da pra ver direto o que está acontecendo. A estrada passa correndo. O rio passa correndo.

Bom, eu queria dar oi. Desejar feliz aniversário.    Ou talvez pra ver se ela está lá em cima, com as estrelas, e saber se, de onde ela está elas parecem mais brilhantes que uma chama ou uma fogueira. Nesta noite eu sinto saudades, como em todas as noites desde que ela foi embora.

O celular toca do meu lado me causando um leve susto. Dou um sorriso ao ver que é a Day.
_Alô
_Oi baby, te acordei?
_Não, meu bem.
_Estou sem sono, só queria você aqui pra dormir abraçadinha comigo.
_Eu também queria você aqui._Suspiro
_Você está bem?
_Estou sim, baby. E você?
_Também! Seria loucura eu ir agora?
_E o seu pai?
_Ele tá dormindo, vou no carro dele, agora vai ser meu mesmo._Ela da uma risada.
_Cuidado, amor.
_Agora eu vou mesmo só pra você falar "amor" no meu ouvido.
_Besta.

A melhor parteOnde histórias criam vida. Descubra agora