Fica

77 5 0
                                    

~Era um plantão comum, um domingo comum. Só havia Jade de cirurgiã naquela noite. A emergência não tinha casos graves. Jade ajudava os outros médicos a atender pacientes não-cirúrgicos.
~Daniel havia passado o fim de semana inteiro fazendo o espetáculo com os meninos. Não dormira a última noite, pois estava administrando o canal no youtube. Era madrugada, estava no carro, voltando do teatro pra casa, sozinho. Divagava sobre Jade. Tantas coisas passavam pela cabeça...

Até chegar o cruzamento. Aquele maldito cruzamento. Estava distraído, não havia movimento na rua, deixou o cruzamento passar despercebido. Bom, o motorista do ônibus também deixou. A colisão foi lateral, na porta de Daniel. O impacto foi forte. O carro capotou duas vezes.



Uma ambulância chega até o hospital. Imediatamente chamam os emergencistas. Agora chovia forte. Jade corre na chuva até a ambulância.
Jade: Qual é o caso?
Paramédico: Homem adulto, envolveu-se em um acidente automobilístico contra um ônibus, usava o cinto de segurança, mas o impacto foi muito forte. Grande risco de hemorragia interna. Está inconsciente, fizemos 2 miligramas de morfina no caminho.
Jade: Acharam algum documento? Qual o nome?
~Jade olhava para os paramédicos, não olhou para o rosto do paciente. O chefe do hospital, Samuel, chega até a ambulância.
Paramédico: Encontramos a carteira e um celular, vamos deixar os pertences na recepção. ~O paramédico lê o documento.
Paramédico: Daniel Alves de Castro Nascimento
~Jade dá dois passos pra trás e uma lágrima escorre.
Samuel: O que houve, doutora Jade?
Samuel: Você conhece esse paciente?
~Jade acena positivamente com a cabeça. Os paramédicos descem a maca e Jade corre para perto. Começa a auscultar o coração.
Jade: DANIEL!! DANIEEEEL!!
Jade: Vamos levar ele pra emergência
Samuel: VOCÊ NÃO VAI OPERAR UM CONHECIDO
Jade: E VOCÊ QUER QUE EU ESPERE ELE MORRER?
Samuel: Eu vou chamar o doutor Rafael
Jade: O RAFAEL É CLÍNICO GERAL
Samuel: Você não pode operar um amigo
Jade: SAMUEL, ELE TÁ CIANÓTICO, TÁ CHOCADO E EU VOU OPERAR
Jade: Levem ele pra tomografia
Samuel: Ainda estamos sem tomógrafo
Jade: Então levem pro trauma e me consigam um aparelho de ultrassom
Samuel: Quebrou hoje de manhã
Jade: O QUE TEM NESSE HOSPITAL PRA EXAME DE IMAGEM?
Samuel: Útil pra localizar hemorragia? Nada.
Jade: Ótimo, vou operar às cegas
Samuel: Se operar um amigo, você pode ser processada, sabia? Pode perder sua licença médica
Jade: Pelo menos eu não vou ter que carregar a culpa de ter deixado meu namorado morrer
Samuel: ELE É SEU NAMORADO?
~Eles estavam no elevador, a caminho do centro cirúrgico
Jade: Manda chamar o Henrique, ele pode ter algum trauma neurológico
~Jade se prepara rapidamente para a cirurgia e entra na sala. O anestesista diz que está tudo pronto. Jade olha para o rosto de Daniel e se aproxima
Jade: Me escuta, por favor, você não pode morrer antes que eu diga "sim" pra sua proposta ~Jade chora, mas contém-se rapidamente.
Jade: Ok, vamos lá. Bisturi, por favor.

Cômico MiocárdioOnde histórias criam vida. Descubra agora