Isy Jones e A Dúvida

Capítulo 1

Todos os meus livros caíram no chão. E é lógico que nesse exato momento ele desfilava pelo corredor com seus amigos. E é lógico que ele não correu para me ajudar a recolhê-los, pois, além de a minha vida não ser um filme, ele não liga para a minha existência, e, principalmente, não é um cara legal. Eu, Isy Jones, sou completamente apaixonada, desde sempre, por Elliot Selberg, o garoto mais popular da escola.
A pior parte é que ele sabe exatamente quem eu sou: minha irmã mais nova, Emily, namora o irmão mais novo dele, Henry. Eles têm 14 anos, namoram há mais de um e não se desgrudam. Acho que a sorte no amor da família foi toda para ela. Henry está sempre na minha casa,e, mais de uma vez, Elliot foi buscá-lo. Um dia, eu estava trancada no meu quarto, ouvindo The Cure (como sempre), e devido ao volume mais alto do que seria recomendado por qualquer um, não ouvi a campainha. Então, ele resolveu simplesmente abrir a porta (por sinal, não sei porque ela estava destrancada) e entrar na minha casa, subir a escada e começar a esmurrar a porta do meu quarto e o da minha irmã. Me assustei tanto com o barulho que nem me preocupei em me olhar no espelho ou tirar a minha camisola de pandas, e abri a porta, para me deparar com um Elliot nada animado em me ver. Seu cabelo estava bagunçado, do jeito mais natural possível, e a camiseta vermelha destacava seus olhos verdes enormes e o brinco preto na orelha esquerda. Percebi que o estava encarando, me recompus e perguntei:

- Posso ajudar?
- Onde está o Henry???? - ele respondeu, bem menos tranquilo do que eu- Se eu não o levar de volta para casa até as oito, minha mãe tira meu PS4!

Ah, meninos. Quase 17 anos e ainda se preocupam tanto com o videogame.
- Se eles não ouviram suas batidas, devem estar bem ocupados.
Droga, ele não achou graça. Completei:
- Provavelmente eles estão no jardim.
Elliot nem se deu ao luxo de me agradecer, e o assisti andar pisando duro até o lado de fora e arrastar o irmão, não o dando tempo nem para se despedir da namorada.

No dia seguinte, cruzei com ele no corredor, e ele nem levantou a cabeça. Como eu consigo gostar tanto dele com ele me tratando assim?? E, meu Deus, por que ele é tão lindo???
Essas são as perguntas mais frequentes na vida das minhas melhores amigas, Anne e Alice, que me aguentam desde o quinto ano. As vezes, percebo que as infernizo tanto que sinto até pena. Um minuto depois, lembro que Anne é apaixonada pelo melhor amigo de Elliot, Max, e é tão correspondida quanto eu. Sobra para Alice, que, por ser mais madura que Anne e eu juntas, namora firme com um menino de sua antiga escola, dois anos mais velho, que conheceu praticamente antes de começar a ler e escrever.

Estava reclamando com as duas sobre o acontecimento do dia anterior, que foi a maior interação que tive com Elliot em muito tempo, quando Alice me interrompe e diz, ajustando seus óculos de armação grande e preta:
- Is, nós já conversamos muito sobre isso, mas você e Anne precisam entender que garotos como eles não ficam com garotas como nós. Enquanto estamos em casa, vendo filmes, lendo ou estudando, eles preferem não ligar a mínima para nada, apenas para as festas e bebidas. Alguém, em algum lugar, determinou que não podemos nem tentar qualquer tipo de relacionamento com esses meninos bonitos, mas assustadoramente burros. Eu e Dan só funcionamos pois somos parecidos.  Chega disso por hoje, será que podemos dividir quem fará qual parte no nosso trabalho de Química Orgânica?
Ally consegue ser bem brava. De nós três, ela é de longe a que mais leva os estudos a sério e se estressa com qualquer coisa relacionada à escola. Eu e Anne nos entreolhamos e cedemos; afinal, a matéria era mesmo difícil. Combinamos de fazer o trabalho no dia seguinte, mas em algum momento da conversa, percebo que comecei a encarar Elliot, que estava do outro lado do pátio. Ele nem nota.