Prefácio

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    Dizem que quando se está próximo da morte, toda sua vida passa como um flash pelos seus olhos. 

    Ótimo

    Além do fato que tenho apenas 14 anos, eu nunca fiz metade das coisas que os garotos normais da minha idade já fizeram. Eu nunca bebi, as únicas festas que sou chamado são de aniversário, sou bem mediano na escola e nunca tive uma namorada, na verdade, nunca beijei ninguém. Ah, e claro, não tenho nenhum amigo. Josh Bailey, o garoto mais entediante de Half Moon Bay, Califórnia. Agora prestes a se afogar em maré baixa. Parabéns Josh, agora além de ser o estranho da escola, vai ser o idiota que morreu afogado na praia mais segura da costa.

    Tento buscar ar, mas meus pulmões queimam com a água turva mar, e cada movimento que faço tentando alcançar oxigênio, apenas servem para me levar cada vez mais para o fundo do oceano. O sal queima meus olhos e os cortes em meu rosto sem piedade e os últimos resquícios de luz já estão desaparecendo no meio desse mundo azul que me envolve com suas mãos frias. Já não tenho mais forças e apenas desisto de tentar, como eu sempre faço. 

    Então é assim que tudo acaba? Não poderia ter escolhido um momento pior da minha vida. Meu pai vai achar que morri odiando ele. Eu não o odeio, só estou com muita, mas muita, raiva. Minha mãe vai colocar a culpa nele, ela sim vai odiá-lo. 

    A água salgada lava o sangue do meu rosto e só consigo ouvir o som das ondas se quebrando, ele preenche todo o ambiente e cria uma pressão muito forte nos meus ouvidos. 

    Vou ser notícia na escola por, no máximo, três semanas. O que vai ser o suficiente para Dylan se aproveitar pra fazer comentários do tipo: '' O viadinho não aguentou nem um soco na cara!''. E provavelmente a diretoria vai usar meu exemplo para tentar combater os bullies na escola e fazê-los se colocarem no lugar do próximo. Aqueles idiotas de Half Moon High não conseguem entender que os alunos não dão à mínima para como os outros se sentem. Esse pra mim já é um ótimo motivo para não me enturmar, e eu também não sou, digamos, "A pessoa mais comunicativa do mundo", nem do estado, e muito menos da escola.

    Mesmo assim, não consigo entender por quê. O que eu fiz para tudo isso acontecer? Quando tudo começou a dar errado? Será que foi quando eu gritei com meu pai? Ou quando achei que poderia quebrar a cara do Hansen? Não, com certeza tem algo a ver com aquele dia. O dia que percebi que não era normal, que senti que havia algo peculiar em mim; 

    O dia que falei com a água.

O língua D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora