Eu tenho uma metade a deriva
Um encaixe enferrujado
Mas eu nunca mais permito em vida
Entregar falas e historietas de amor
A uma metade líquida
Na solidez de um buraco
Eu tenho uma metade linda
De encanto ácido
É abraçar pra ficar mal
Não se curar do passado
Beijar e beijar
Entre pausas: enjoado
Eu tenho uma metade
Que é metade de mim
Mas fala pra ela que ela não presta
Fala pra ela que não é assim
Fala pra ela que nada é pior que morrer
Sabendo que a sua metade
É a metade do pecado
Canta Djavan...
Mas não te lembro mais numa Pétala
Te lembro sim, na Flor de Lis
Pra você quem gosta de Machado
E se apaixona pela escrita
Se deixou levar tanto pela icógnita
Que nunca percebeu que Capitu nunca foi o mel de sua vida?
Tenho a dizer uma coisa
A quem não posso mais chamar de meu amor
Mas te chamo, minha linda
Eu quem nunca fui pai
É como perder uma filha
Eu quem beijava o canto de seus olhos
Detalhados em rugas
Uma parte tão bonita
Dos ombros largos
Dos lábios feitos para um batom escuro
Os seios duros
As pernas e a pinta
Nunca percebi que beijava os olhos de um caminho triste ou feliz
Mas um caminho só de ida
Eu choro eu por inteiro...
Choro você, de camisa cigana,
esculpida...
Me rodeia os vultos de nossos abraços em cada choro
Do sufoco do meu rosto abafado em seu pescoço
A sozinho no quarto
Chorando a inocência de um mundo todo
Saindo da minha vida.
