A felicidade ficou mais intensa e parecia que tudo aquilo que o casal havia sentido nos anos anteriores não era nada comparado com o sentimentos de agora. Estavam muito bem em sua vida de casal. Os pais de Luna, que nem se falavam mais após o divórcio, passaram a se aproximar com viagens de Vancouver até Liverpool após a notícia que iam ser avós. Passavam de vez em quando uma semana na casa do casal para acompanhar a gestação de Luna. Já os pais de Douglas, não gostavam da futura mãe de seus netos, mas com um pequeno esforço passaram a ter mais empatia por ela.
A alegria esbravejava através do casal, tanto que saiu nos jornais da cidade a notícia dos famosos pais de trigêmeos. É claro, Douglas ser filho de um dos casais mais ricos da cidade havia tido um dedo na situação. O sobrenome White era uma geração de riqueza que vinha do pai de Douglas, Charles White. Ele era um empresário sério e tinha a empresa do jornal mais lido e comentado de Liverpool e cidades vizinhas, não era atoa que o moreno chamava atenção... Beleza, inteligência, charme e uns zeros garantidos no bolso: pretendente perfeito. Mas é claro, agora, marido de Luna. Charles não gostava de seu filho não ter assumido a sua empresa que, era sua por direito. Apesar da medicina ser sinônimo de coisa boa, não era o desejo de pai para filho.
Com isso, nomeou diretor seu afilhado Thiago Robson que coincidentemente, acabou se tornando namorado da Roberta. Ele era um rapaz alto, branco e tinha olhos castanhos escuros. Muito querido pela família de seu melhor amigo, Douglas. Recebeu a direção da empresa com muita gratidão, mas não imaginava que sua atual namorada era mentirosa e perversa. Thiago a conheceu através do casal — Douglas e Luna — e o rapaz a achou intrigante e misteriosa, o que após alguns encontros deu em um namoro de um ano.
Roberta não o amava, havia aceitado o namoro para tentar chamar atenção de Douglas porque ainda acreditava que poderia causar ciúmes, mas percebeu que o problema era a Luna. Teria que fazer algo com ela e com seus filhos que estavam para nascer. Precisavam sair da vida de seu grande amor.
No entanto, não sabia de que forma acabaria com esse romance e teria que ser mais rápido possível.
Certo dia, Roberta e Thiago assistiam ao clássico filme "A Bela e a Fera" quando teve a idéia. Os filmes de romance sempre eram um final feliz e pensava: Por quê não reverter isso? Por quê não tornar a Bela, no caso Luna, a fera?
Quando o filme terminou e Thiago se despediu, a mulher tomada pelos pensamentos correu até o notebook e começou a pesquisar sobre carros. Assistiu vídeos e leu matérias, estava pronta para cortar os freios do carro e fazer com que a melhor amiga sofresse um grave acidente. Esperando, é claro, que se machucasse o suficiente para que seu rosto e corpo não fossem mais os mesmos. Se perdesse os bebês, seria melhor ainda.
Com tudo planejado e decidida a fazer:
— Não posso falhar agora — disse para si mesma.
Enquanto isso o casal nem imaginava que pelas ruas daquela cidade belíssima, algo terrível estava por vir. Luna sempre foi batalhadora e sempre sonhou com a vida cuidando de pessoas. Sendo finalmente médica a pouco tempo, teve que tirar licença médica, mas isso não impedia de receber visitas e ser querida por todos. Era algo esplêndido para aquela família.
Em uma das manhãs, Roberta havia mandado mensagens para sua amiga dizendo que não estava se sentindo bem com sua relação amorosa. Luna mesmo grávida e com uma barriga enorme ainda era uma amiga atenciosa e se convidou para ir a casa dela levantar seu astral. A única coisa com que Roberta não contava, é que Douglas iria levá-la até o apartamento.
Douglas sempre foi cauteloso com sua amada, principalmente agora, quando faltavam semanas para o fruto do amor deles nascerem. Então, ficou decidido, naquela manhã o marido a levaria até a casa de sua amiga e de lá iria para o trabalho em seguida. Saindo de casa, sem ter percebido nada fora do comum, o rapaz parou em um semáforo com alguma dificuldade ao avistar o sinal amarelo. Ele sabia que além do próprio carro estar com problemas na embreagem, teria que consertar o da esposa, que seria mais trabalho e dinheiro gasto, mas para ele aquilo não era problema. O dinheiro guardado para emergências seria útil para fins pessoais.
Ao chegar próximo do quarteirão de Roberta, um carro em alta velocidade surgiu de repente e Douglas distraído com sua amada e focado no trajeto não teve tempo de desviar e ao pisar no freio, tudo falhou. O carro ultrapassou o sinal vermelho e acertou o carro do casal pegando exatamente a parte lateral esquerda onde Luna estava sentada com as mãos acariciando a barriga.
O casal chegou às pressas ao CTI. Douglas, aparentemente, poderia ter problemas sérios de hemorragia interna e Luna teria que ser operada o mais rápido possível, pois, o risco de perder os primogênitos eram a maior preocupação dos médicos. Quando os colegas de trabalhos perceberam de quem se tratava no acidente ficaram em choque e precisaria de uma cirurgia com bastante tempo e precisão para ter êxito, tanto em Luna quanto em seu marido. Rapidamente a notícia se espalhou. Os jornais e redes de comunicação só falavam no acidente inesperado e que havia causado grande trânsito.
Roberta, sem aparelhos ligados estava em sua casa e ainda satisfeita com o trabalho que havia feito no carro de Luna, pela demora da "amiga" tinha certeza que algo tinha acontecido e o plano tinha sido um sucesso. Nem tudo era o que se esperava. O telefone tocou e então ela saindo do banho, o atendeu às pressas para saber quem era e possivelmente se seria algo sobre Luna.
— Olá amor, ligando tão cedo? — Perguntou com um tom irônico ao ler o nome de Thiago no identificador de chamadas.
— Você ainda não soube da notícia?
— Não.... O que aconteceu?
— Douglas e Luna sofreram um grave acidente perto do seu quarteirão. Parece que vão ficar horas em cirurgia e observação constante.
O choque repentino atingiu Roberta que desacreditava no que tinha acabado de escutar. Não imaginava que Douglas entraria no carro sabotado pela mesma, pensava que ele iria trabalhar em seu próprio carro.
A mãe dos trigêmeos passou horas em cirurgia e não teria sido tão afetada pelo acidente se o carro não tivesse acertado justamente em cheio seu lado. O risco maior era conseguir que todos os seus filhos nascessem vivos e saudáveis, mesmo antes do previsto. David foi o primeiro e não havia sinais de perigo em sua natalidade. Clarisse, nasceu em seguida. E então o último filho, Diego, nasceu com sérios riscos para saúde. Além de ser o menor de todos, causado pelo espaço que os outros tomavam e por sugarem mais nutrientes da mãe, sua aparência e o choro fraco demais preocupou os médicos.
Tudo estava sendo difícil para a família. E Roberta sempre tinha um plano B.
Aproveitou a situação em que o casal estava sendo atendido em seu local de trabalho — por ser o mais próximo de atendimento urgente e já que não era a maternidade escolhida — e vendo todos frágeis demais... Colocou o plano B em ação.
Mesmo em sua folga, tinha acesso permitido aos corredores e assim entrou no vestiário e usou o uniforme de uma colega enfermeira. Andou pelos corredores sem que notassem o nome diferente na roupa e foi até o local onde Diego permanecia em observação. Trocou de turno com a enfermeira que havia ali com um grande papo furado. Aproximou-se do bebê do casal e o pegou sem que ninguém percebesse. A ala estava vazia, apesar de fraco e pequeno o bebê sobreviveria. O que ela não queria.
Deixou o quarto de observação com o bebê enrolado em um pano de maca alegando estar sujo para os que a olhavam curiosos, era sorte a enfermeira que tapeou ser nova por ali. Voltou ao vestiário e roubou uma bolsa grande que havia ali, tudo estava indo bem, porque o pequeno desgraçado não fazia um pio. Foi colocado dentro da bolsa e então suas roupas normais foram recolocadas, e do hospital saiu sem muito alarde. A agitação era na ala da cirurgia de Douglas, o que a preocupava. O plano B era sumir com um bebê por vez e Diego, seria o primeiro na lata de lixo do outro lado da cidade. Sua obsessão havia extrapolado.
Horas depois o sumisso de Diego foi notado quando a enfermeira voltou ao seu posto para então, trocar de turno com a enfermeira Kristy. O desespero tomou conta de seus nervos e a gerência do hospital foi notificada. Os médicos alarmaram todos os seguranças e o hospital inteiro vagava salas e corredores procurando algo. Nada. Tentaram localizar o bebê, mas nem nas imagens de segurança conseguia ver nada, pois Roberta aproveitou-se da gula do segurança e desligou as câmeras antes de sequestrar o filho de Luna.
A família do casal foi comunicado, e para a saúde dos recém saídos de cirurgias, mantiveram tudo em sigilo temporariamente — conselho dos médicos.
A polícia estava a procura do bebê e todos os meios de comunicação dos quartos individuais do casal estavam desligados por motivos chulos. Luna estava ansiosa por ver Diego, pois nunca o alimentava, mas a desculpa era a incubadora. Duas semanas se passaram e finalmente foram comunicados do grave sequestro-sumisso que seu filho mais novo teria tido misteriosamente.A família estava devastada. Um mês depois, a família já estava em casa. Thiago, melhor amigo de Douglas, o avisou sobre o término com Roberta e que aparentemente, ela havia pedido demissão e saído de Liverpool. Mas havia deixado uma carta para o casal.
Amanheceu o dia e Luna entrou no quarto dos bebês os vendo dormir com calma. O terceiro berço permanecia ali, por insistência dela e passou as mãos no lençol vazio. Suas lágrimas caíram como a chuva que começava do lado de fora. Não aceitava a morte de Diego.
Naquela mesma semana, a polícia havia notificado a solução do caso. Krysti havia sido presa pelo assassinato do bebê, que foi encontrado em um saco no quarto da limpeza do hospital. A testemunha, enfermeira que trocara de turno com ela, lembrava de sua aparência, similar a de Roberta, e do nome em seu crachá. Já o segurança, foi indicado, mas com uma fiança barata deixou a delegacia e apenas perdeu o emprego.
Seriam longos anos pela frente, pensava Douglas ao ver tantas vezes Luna observar o berço vazio.
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O sol nasce para todos
RomanceLocalizada no noroeste da Inglaterra e uma das cidades mais visitadas pelos turistas, Liverpool trazia grandes emoções aos Beatlesmaníacos, que mesmo com o fim da banda em 1970, permaneciam apaixonados pela história da banda e de seus membros. Entre...