3

108 17 0
                                    

Após ganhar o primeiro lugar no festival de sua escola, com uma bela apresentação de piano, na qual ficou dia e noite ensaiando para ganhar algum crédito para conseguir entrar em uma boa faculdade, Charlotte foi em direção ao seu quarto no segundo andar, mas parou de repente.

— Mamãe — gritou ao ficar na frente da porta que estava semiaberta —, vem aqui por favor.

— Oi? — dona Ana, mãe de Charlotte falou do pé da escada.

— Fecha a janela e cortina do meu quarto, por favor.

Ah, claro que seria isso. Ela não queria ver uma certa pessoa, mesmo que tivesse planejado esse dia milhares de vezes.

Após estarem devidamente fechadas, ela foi em direção a sua estante para ligar o aparelho de som. Música clássica começou a tocar, mas mudou para sua playlist intitulada "Distraction". A playlist que ela usava para poder chorar sozinha sem que ninguém escutasse, pelo som alto abafando qualquer barulho.

Enquanto isso deitado na cama de madeira na casa ao lado estava Killua. Assim que viu a luz do quarto ao lado acender seu coração palpitou. Levantou e foi em direção a janela para fechar a cortina. Não estava a fim de vê-la, nem de lembrar coisas antigas.

Para ele a pior coisa que poderia acontecer, estava acontecendo. A última coisa que queria era voltar para aquela casa, para aquele quarto e para aquele sentimento de culpa.

— Como será que ela está? — pensou, mas rapidamente se repreendeu.

Ele não se importava mais. Tinha prometido nunca mais falar com ela.

Voltando ao quarto de Charlotte, ela continuava chorando, lutando contra as memórias que insistiam em invadir sua mente.

Tá vendo aquela garota ali? Uma das meninas da minha sala apontava para mim enquanto cochichava com outra garota , não podemos falar com ela. Ela é irmã daquele menino que pulou da ponte e morreu.

Para crianças de cinco anos, tinham algumas muito maldosas no meio delas, que acabavam fazendo as outras pensarem da mesma forma. Afinal, o que eu tinha a ver com o fato do meu irmão ter se matado?

Vem, Snow — senti uma mão puxar a minha e começar a me arrastar em direção à praia —, agora vou te mostrar como sei fazer o maior castelo de areia.

Sorri tentando prestar atenção no que aquele garoto de cabelos brancos dizia.
Desde quando me lembrava por gente, nenhuma outra criança havia falado comigo, ou tentado ser minha amiga. Todos me ignoravam e eu não entendia o motivo.
Eu olhava distraída para as ondas quebrando no mar enquanto Killua construía seu castelo de areia.

É verdade que seu irmão se matou? perguntou sem cerimônia.

Concordei com a cabeça enquanto mexia nos dedos do meu pé. Não entendia o que tinha acontecido com meu irmão mais velho, mas sabia que mamãe e papai viviam tristes por causa disso.

Você não tem nada a ver com isso. Por que os outros não falam com você?

Boa pergunta. Dei de ombros e me levantei tentando limpar a areia do meu vestido.

Isso é bom porque só eu vou ser seu amigo Killua deu outro daqueles sorrisos que fazia meu coração se sentir aquecido e calmo , para sempre.

Você promete? Estendo o dedo mindinho e ele entrelaça nossos dedos, sujando minha mão com areia.

Prometo. Se eu parar de ser seu amigo, eu prometo nunca mais fazer um castelo de areia na vida ele falou rindo, me fazendo gargalhar.

Apesar de tudo que tinha acontecido, Charlotte era agradecida por aquele garoto de cabelos brancos ter aparecido em sua vida, por ter a tirado da solidão e ter sido seu primeiro amigo.

Sr. IdiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora