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Assim que o despertador tocou, levantei apressada e abri a janela do quarto. Finalmente iria entrar no ensino médio e estava mais do que ansiosa, não tinha nem conseguido dormir durante a noite. Me equilibro e bato na janela de Killua.

— Vamos. Vamos. — Falo empolgada e arrasto a janela para o lado, dando passagem para eu entrar. Procuro ele pelo quarto, mas não o encontro.

Acho estranho o quarto estar vazio, então ligo para o telefone dele após voltar para o meu quarto. Depois de três ligações finalmente atendeu.

— Onde você está? — Pergunto com o celular pendurado na orelha enquanto eu desfazia a trança que estava em meus cabelos. Ouço algumas vozes distantes e fico curiosa.

— Estou... Tá, pai. — Fala com uma voz trêmula, como se estivesse segurando o choro e eu começo a ficar preocupada. Tento entender o que o senhor Gilbert estava dizendo, mas por conta do barulho não consigo — No hospital. Mamãe passou mal durante a noite e agora está internada.

Escuto o que ele diz rapidamente antes de ouvir o som de chamada finalizada. Ele não iria para a escola hoje porque queria ficar ao lado da mãe. Tomo um banho rapidamente e desço a escada, apressada. Peço para minha mãe me levar para o hospital depois de contar o que Killua havia me falado, mas ouço um não inesperado.

— Você não precisa ir para lá agora. Primeiro vai para a escola — Mamãe falou calmamente enquanto comia uma torrada, — Tenho certeza de que ela irá ficar bem. Você não tem o que fazer lá.

— Estou mais preocupada com o Killua — digo enquanto engulo o líquido quente que estava na xícara preparada para mim —, Ele vai precisar de mim lá, mamãe. Você não o conhece como eu. Ele pode até fingir que é forte na frente de vocês, mas não é.

Tento convencê-la a qualquer custo, mas não consigo. Me sinto frustrada ao entrar na escola e toda animação que eu sentia tinha ido por água abaixo. Sentei no fundo da sala e não falei com ninguém durante o dia. As aulas eram até às uma da tarde e eu contava os minutos para que acabasse.

Assim que o sinal da saída tocou, corri para casa o mais rápido que pude para esperar minha mãe. Ela havia prometido que iria me levar para o hospital quando chegasse do trabalho. Quando estava na esquina de casa, vi o carro dela se aproximar de mim e parar ao meu lado.

— Entra. Agora! — Mamãe grita apressada e eu rapidamente entro no veículo. Ela dirigia a oitenta por hora, passando até pelos sinais vermelhos e a esse ponto eu já estava pirando, sem ter uma resposta dela. Parecia que ela estava submersa em um oceano, se afogando, e que dirigir o mais rápido que podia era a única salvação que existia.

— Mamãe! O que está acontecendo? — Grito mais uma vez e ela freia bruscamente na frente do hospital.

— Não temos tempo para isso. Corre! — Ela estacionou de qualquer jeito em uma vaga qualquer e desceu do carro me puxando pelo braço — Eu recebi uma ligação do Gilbert pedindo para que eu te trouxesse o mais rápido possível.

Assim que escutei isso, comecei a correr mais rápido do que ela, invertendo os papéis. Meu coração batia rápido e minhas pernas se moviam sozinhas. Eu já sabia em qual quarto ela sempre ficava então passei direto pela recepção subindo as escadas apressadamente.

— Espera. Eu... — Mamãe tinha ficado para trás e eu a ignorei. — Ele está no 402.

Respirei fundo antes de abrir a porta do quarto. Eu tinha que me acalmar e não pensar no pior. Até ali, meus pensamentos estavam preenchidos por chegar o mais rápido possível até eles, mas agora tudo tinha se tornado branco, eu não sabia como agir ou o que esperar ao abrir a porta. Um tremor passou por minha mão antes de eu bater duas vezes.

— Charlotte. Graças a Deus — O senhor Gilbert me puxou para dentro e eu vi.

Ela estava deitada na cama, com vários fios conectados em seu corpo tão frágil e branco. Suas mãos estavam roxas e eu sabia de longe que estavam frias. A respiração dela estava irregular e ruidosa, fazendo o meu peito se apertar mais ainda. Ver aquela mulher que sempre foi alegre, linda e gentil, naquele estado era difícil.

Me aproximei pegando sua mão gélida e sentei no banquinho ao seu lado. Uma lágrima escorreu por sua bochecha e eu rapidamente sequei. Sem que alguém falasse, eu sabia o que estava acontecendo. Ela estava começando a ficar roxa em vários lugares e sua respiração estava pesada.

— Filha — falou com a voz rouca e baixa após tirar a máscara de respiração da boca —, obrigada por tudo até agora.

Me segurei para não chorar na frente dela, mas foi impossível. Algumas lágrimas começaram a cair enquanto eu escutava o que ela falava com dificuldade.

— Por favor, cuide do Kalil — continuou a falar, mas foi interrompida por uma crise de tosse. Cuspiu um pouco de sangue e depois o senhor Gilbert limpou a boca dela, — Eu queria ter mais tempo, mas...

Ela começou a chorar intensamente, sua respiração ficou mais ruidosa e seu peito se mexia mais lentamente. Eu tentava consolá-la ao máximo, lutando para controlar minhas lágrimas. Após alguns minutos ela fechou os olhos, mas continuou segurando minha mão.

— Não se preocupe. Ela só está dormindo agora — senti uma mão no meu ombro e me acalmei — Tomou alguns remédios para passar a dor ainda agora.

— Onde ele está? — me levanto e ando com dificuldade até a porta.

— Não sei. Ele disse que ia tomar um ar. — ele senta no banco que eu estava e segura a mão da esposa — Foi difícil contar para ele que o câncer começou a se espalhar e que...

— Eu sei. — Coloco a mão na maçaneta e abaixo a cabeça após perceber que ele havia começado a chorar também.

— Ele escutou o que a mãe dele tinha para falar, mas depois saiu daqui com raiva.

— Irei procurá-lo. — Abri a porta em silêncio e vi mamãe sentada no corredor. Ela levantou o olhar com pesar e eu dei de ombros. Não havia muito o que fazer ou se arrepender de não ter feito agora.

Sr. IdiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora