4

97 18 0
                                    

Dois meses se passaram rapidamente, Charlotte já estava quase terminando o ensino médio. Todos os dias ela acordava mais cedo do que o normal para não ter que encontrá-lo.

Ele havia começado a ir para uma escola pública perto do quarteirão e ela agradecia aos céus por ele não estudar em sua escola. Já era difícil o suficiente vê-lo todos os dias pela sua janela, ela não queria nem pensar no que faria se ele passasse pela porta de sua sala e sentasse ao seu lado.

Todos os dias ela se concentrava ao máximo em seus estudos, afinal passar no Exame Nacional para entrar em uma faculdade não era fácil. Após as aulas terminarem ela ia direto para a aula de piano onde ficava até o anoitecer.

Claro que ela preferia ficar deitada em sua cama, assistindo série ou vendo vídeos aleatórios no YouTube. Mas toda vez que tentava fazer isso seus pensamentos iam direto para o garoto de cabelos brancos.

— Terra chamando Charlotte — O professor tentava chamar a atenção da menina que estava distraída olhando para o nada.

— Hein? — Charlotte falou após receber um beliscão.

— Vamos terminar a aula por hoje. Vou precisar levar minha filha no médico — falou Jorge, o professor de piano dela desde os seus quinze anos.

— Mas ainda são 15h:30 — reclamou olhando para o relógio na parede branca.

Cabisbaixa, começou a recolher as partituras guardando-as na pasta para não amassar.

— Até amanhã, prof deu um pequeno sorriso e saiu em direção a sua casa.

Ela começou a caminhar lentamente, desanimada e com vontade de ir para qualquer lugar que não fosse perto de casa. E foi isso mesmo que fez. Virou no sentido contrário e começou a ir para uma praça que ficava a dois quarteirões.

Já sentada no banco com as pernas cruzadas igual índio, Charlotte começou a divagar, enquanto observava algumas crianças brincando no balanço próximo a ela e algumas folhas caindo da árvore a pouco metros. Quando começou a escurecer ela levantou-se e quase que se arrastando foi para casa. Cantava distraída, tentando não pisar nas linhas da calçada com os braços estendidos para manter o equilíbrio.

Quando virou na esquina de casa Killua vinha logo atrás distraído, chutando uma pedrinha qualquer. Nem um dos dois perceberam que estavam próximos, cada um perdido em seu próprio mundo.

Mas como o destino gosta de pregar peças, na frente de sua casa Charlotte se abaixou para pegar uma moeda que estava brilhando, chamando sua atenção.

Killua andava devagar olhando para a pedrinha em seus pés, mas acabou não percebendo um pequeno ser de cócoras a sua frente. Resultado: ele acabou tropeçando nela.

— Mas que diabos — falou vendo sua mão esquerda sangrando por conta de um pequeno corte.

Charlotte estremeceu na hora, aquela voz estava mais grossa, mas ela ainda conhecia. Uma voz penetrante e ao mesmo tempo rude que fazia os pelos de qualquer um se arrepiarem.

Os dois se olharam ao mesmo tempo em uma posição nada favorável. Cá entre nós, a cara deles estava impagável. Snow com a boca aberta, a moeda em sua mão estendida, caída na calçada. Piscou uma vez e sentiu algo arder em seu joelho. Olhou em direção a sua perna e viu um pequeno corte.

Killua seguiu o olhar e acabou corando ao ver as pernas dobradas da garota. Ela estava com a saia da escola, então rapidamente se levantou.

— Ô idiota, olha por onde anda — falou depois de reunir toda a coragem necessária.

Killua a olhou surpresa quando escutou aquela voz aveludada e mansa que era acostumado a ouvir.

Depois de quase três anos, a primeira coisa que eu faço é chamar ele de idiota. Parabéns, imbecil. Charlotte se martirizava.

Ela olhou para a moeda em sua mão e ficou feliz. Sempre que achava uma na rua significava que algo de bom iria acontecer. Bom, era nisso que ela acreditava.

— A culpa foi tua que estava abaixada no meio da calçada — O garoto de dezenove anos falou irritado, — Você tem problema?

— Tenho vários. — Snow falou irritada também — Para começar, esse joelho ralado que está doendo.
Apontou para o lugar onde saía sangue.

— Minha mão também está machucada e a culpa é sua — Killua falou mais irritado ainda, se aproximando da mais baixa.

Os dois ficaram cara a cara, demonstrando toda a raiva que sentiam um pelo outro em seus olhares.

Depois de dez segundos, Snow não aguentou continuar olhando para aqueles olhos azuis que pareciam penetrar a sua alma.

— Não quero a porcaria dessa moeda velha! — gritou jogando a moeda no chão e começou a andar com passos firmes para dentro de casa —, a única coisa que ela me trouxe foi azar!

Killua continuou no mesmo lugar vendo a garota com seus longos cabelos negros esvoaçando ao vento partir. Se abaixou para pegar a pequena moeda que estava em seus pés e acabou dando uma pequena risada.

Lá se foi a promessa que ele havia feito a si mesmo.

Virou-se indo para casa quando sentiu algo gelado em sua bochecha. Estendeu a mão e um pequeno floco de neve caiu suavemente.

— Snow — falou com a voz baixa, olhando para o céu onde pequenos flocos de neve começavam a cair.

Sr. IdiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora